sexta-feira, 15 de março de 2013

O Bom Pastor


 “Calling you”, de Holly Cole foi como comecei a tarde. Voz quente, música com um piano ao fundo um pouco estridente, mesmo assim melodiosa, e não é que estava mesmo a chamar-me?
Lembrei-me das poucas horas que decorreram entre a escolha do novo Papa e o que já se disse sobre ele. Ora historietas do dia-a-dia, desde ter ido pagar a conta à hospedaria aonde ficou em Roma, até ter-se sentado no 2º banco do autocarro que levou os Cardeais até Santa Maria Maggiore para rezar à Maddona, tagarelando com todos com um ar natural; às vestes papais que não são de certeza do Valentino nem os sapatos pretos regulares, da Prada ficando assim um pouco “sem jeito”!
Em coisas mais sérias, aconselhou os seus concidadãos a não virem à sua missa inaugural na próxima 3ªf para pouparem dinheiro e em alternativa o darem a quem precisa.
Vai de certeza “Calling you” a cada um de nós, com naturalidade e amenidade, porque sabe que precisa de um corpo coeso à sua volta que ponha em marcha toda uma série de transformações nas nossas vidas demasiado ocupadas connosco próprios, com os nossos problemas, tristezas, misérias, desilusões…as troikas, os impostos, o prolongamento da crise, o país que se afunda, o futuro que não nos sorri.
E qual vai ser a nossa resposta a este chamamento universal que tenho a certeza irá, paulatinamente e com veemência, fazendo mais por acções do que grandes palavras, que também as dirá, mas deste modo singelo e directo que facilmente todos compreenderão?
Boa noite é boa noite em qualquer circunstância e era já tarde e escuro, fazia frio e chuva e a multidão não arredava pé sem saber quem era o novo Papa. Nada melhor do que uma saudação costumeira entre pessoas de bem, que sendo atentos aos outros, sabem que incómodos por si causados devem ser correspondidos com palavras gentis e sinceras.
Repito, será que não vamos ouvir este “Calling you”/“Calling us” que vai vir em breve?
Tenho andado longe do redil e carente de um bom pastor que me acarinhe mais do que puna pelo afastamento sem notícias por aonde paro.
Que estranho que entre a resignação de Bento XVI e a eleição de Francisco I, o meu ser tenha começado a acordar: admiração pela coragem e ao mesmo tempo debilidade, que não só física, de um Papa que afinal se mostrou doce e merecedor de compreensão pelas tarefas gigantescas que a Igreja lhe ia exigir – rigoroso, cerebral, profundo, abrangente, poderoso intelectualmente, atraente pela sabedoria que transmitiu – e de repente um Ghandi dos Cristãos, a prometer um papado suculento em novidade, mudança, segurança de princípios sem violência, caridade, amor aos que mais precisem.
Estou com fome de mais. Anseio encontrar o caminho para os braços acolhedores do Bom Pastor!


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