Nunca tinha sido
necessário dizer o nome.
Desde que descera do
Olimpo e me convertera em humano, evitava repartições públicas, polícias,
bancos, e quejandos. Por isso passava incólume sem me identificar.
Contactava sobretudo
gente: era essa a minha missão. Os meus pares falavam-me tanto dos seres
terrestres, dos seus hábitos e costumes, que aproveitando um bom momento sem
temores de conspirações nos meus domínios, resolvi tomar um tempo e vir.
Comecei a habituar-me à
desordem e ao caos, às greves, às falências, ao desespero e à pobreza. Mas
também à alegria, ao amor, à paixão, ao sexo e à loucura.
Aprendi a ler e a escrever
e a conversar. Os meus alvos foram sempre homens e mulheres normais,
desempoeirados, felizes e sofredores, e fui acumulando um pouco de tudo para
ver se mudo no Olimpo aquele ambiente chato de eterna felicidade, delicodôce, em
que alguns cometem excessos, sem sequer saberem o significado de "prazer".
Quis, um dia destes,
conhecer quem todos me diziam ser o chefe e foi o que me levou a um palácio cor-de-rosa,
lá para os lados de Belém. Tinha a morada um ar imponente com uns guardas com
plumas de cavalo nos elmos e ao querer entrar, de repente perguntaram-me quem eu era.
Foi a primeira vez que
fui confrontado com a minha identificação, foi um choque!
Disse-lhes que pouco
interessava, mas nada os demoveu. Disseram-me que o chefe quase nunca saía e
que raramente falava em público, por isso era cauteloso.
Pedi-lhes então que me
concedessem um favor: escreveria num papel dobrado o meu nome para só a ele ser
entregue. A muito custo convenci o guarda pretoriano da entrada e rabisquei então
numa folha, umas letras.
Vi dirigir-se-me de
dentro um senhor vetusto que com uma voz gutural e um sotaque estranho, se
virou cortêsmente para mim e me disse:
- Faça o favor de entrar,
Senhor Zeus, temos muito que conversar!
...GOSTEI.....
ResponderEliminar