quarta-feira, 13 de julho de 2011
Memórias do cárcere (14) o assédio gay na cela
Zeca veio dizer-me na cantina ao pequeno-almoço, que se eu quisesse me arranjava um telemóvel, mas que custava € 2,500, sendo uma parte para o guarda e outra para ele.
Achei uma boa ideia pois dinheiro era o que não me faltava e assim sempre poderia contactar com o exterior.
- Mas não é completamente proibido? Como consigo esconder, quando há rusgas nas celas todas as semanas? – perguntei incrédulo a Zeca.
- A tua cama durante o dia fica para cima para a parede para dar mais espaço ao quarto. Ora as dobradiças, estão aparafusadas à única superfície de madeira em toda a cela. É aí que as desaparafusas, levantas as tábuas e cavas por debaixo com uma colher de aço que roubas aqui na cantina até fazeres um buraco aonde caiba o telemóvel. Escondes todos os dias nesse espaço. Dá maçada e trabalho mas é o único sítio seguro – disse Zeca com um ar sabedor.
- Não estou a perceber bem e se queres que te diga, assusta-me a ideia. E se me descobrem? – disse eu bastante assustado.
- Vou lá contigo agora antes do recreio mostrar-te o sítio, queres? – ofereceu-se Zeca.
- Bora lá – acrescentei muito curioso, pois este tipo de esperteza era totalmente desconhecida do meu espírito boémio.
Tinha ouvido dizer que Zeca era homossexual e se metia com os guardas a troco de favores. Alguns prisioneiros abusavam sexualmente dele e por isso era um tipo inseguro, mas muito prestável.
Tinha uns olhos azuis cristalinos e um cabelo loiro ralo e cortado fininho, com um corpo amaneirado e bem cuidado. No entanto era um homem firme de aspecto e com um ar agradável.
Chegados à cela, fechou a porta e disse-me que precisava que eu o ajudasse a puxar a cama para cima, o que fiz, e nesse acto as suas mãos tocaram nas minhas e pousaram alguns segundos afagando-me. Olhou-me com uma ar doce e passou-me o braço pelo pescoço atraindo-me para um beijo na boca.
Serenamente afastei-o e disse-lhe que respeitava a sua orientação sexual e que não era por isso que deixaria de continuar a falar-lhe, mas que não estava interessado em homens e portanto não valeria a pena acalentar esperanças de cedências da minha parte.
Ficou muito triste e começou a chorar baixinho, dizendo-me que desde que eu chegara logo simpatizara comigo e me achava com carácter e muito seguro. Sonhava em fazer sexo comigo e esta tentativa era porque não aguentara mais e precisava de me dizer que estava apaixonado por mim.
Tive um movimento de alguma repulsa interior, que não manifestei, e senti vontade de um enorme bocejo!
A última coisa que me apetecia era ter um apaixonado na prisão. Seria persistente, intimista e faria tudo para me conquistar e eu tinha os meus sentidos a precisar de uma grande fornicação com mulheres.
Masturbava-me vezes sem conta e sonhava com aqueles corpos africanos, redondinhos e generosos e com aquele calor interior que me levava ao êxtase!
Perguntei-lhe como é que os outros presos heterossexuais, satisfaziam as suas necessidades biológicas.
Ele respondeu-me indiferente que muitos se tornavam homo e que eram activos com outros homens.
Também acrescentou que uma vez por semana, os presos casados, eram autorizados a dormir com as mulheres em celas separadas.
Achei uma excelente sugestão e perguntei-lhe se tinham que ser mesmo casados….ele riu-se e disse-me que se eu quisesse uma puta ele arranjava! Tudo se conseguia ali, desde que houvesse massaroca!
Já estava mais contente na perspectiva de me agradar e creio, percebeu, que para além de vir a ganhar a sua comissão na angariação de uma mulher para mim, as suas esperanças quanto ao meu sucumbimento amoroso por ele, estavam definitivamente afastadas.
Agarrei-me ao pescoço dele de contentamento e dei-lhe um beijinho repenicado na bochecha da cara! Ficou pasmado pela surpresa do inesperado.
- Arranja-me a melhor puta que puderes para amanhã, logo, agora, ouviste! – e parti para o recreio como uma criança feliz.
(continua)
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Gostei muito.
ResponderEliminarO meu é assim: http://saiadebalao.wordpress.com/2008/10/31/autoretrato/
Subscrevi o seu blogue porque é muito interessante e fez-me rir!
:)