terça-feira, 12 de outubro de 2010
irritado
Com a devida vénia, a seguir transcrevo a parte de um artigo de Alberto Gonçalves, publicado no DN de ontem, no que se refere ao 5 de Outubro.
A REPÚBLICA DOS BANANAS
A 5 de Outubro de 1910 um bando de rústicos hasteou uma bandeira na varanda da Câmara Municipal de Lisboa e implantou, como se implanta um dente, a República.
As baixas foram mínimas, e isso já incluindo os dois líderes revoltosos mortos horas antes por malucos (no caso do almirante Reis, tratou-se de suicídio).
A resistência do regime anterior, atarantado, caduco e fatalmente “aberto”, foi residual. O interesse do povo foi quase nulo. A bandeira em causa foi a do Partido Republicano, que contava com a simpatia de uns poucos milhares de lisboetas e o desprezo do resto do Pais. O País caiu assim, feito fruta, nas mãos dos rústicos, que se achavam iluminados por frequentar o Rossio e ter ouvido uns delírios em francês.
Mesmo por comparação com os desvarios precedentes, estava inaugurada uma época de caos económico, totalitarismo político, perseguições religiosas e ideológicas, discriminação cívica, atentados regulares e geral atraso de vida. E imensa retórica progressista.
A deposição da monarquia significou a troca do privilégio de classe pelo privilégio da falta dela, o que não sendo tão mau quanto soa não é tão bom quanto a propaganda oficial jura.
A 5 de Outubro de 2010, o regime em vigor festejou, com tiques devotos, o centenário desse encantador período. Humor negro? Quem dera.
Os senhores que hoje mandam nisto celebram a ascensão da I República porque, em larga medida, essa é a sua ascensão. O mofo jacobino e maçónico que tomou conta de Portugal há cem anos é o mofo que desde então sempre nos regeu, com uma longa interrupção para o mofo seminarista, igualmente conhecido por Estado Novo. Se entretanto Portugal mudou muito, quase nada se deveu ao esforço próprio.
Nas últimas décadas, as dádivas e o crédito alheios emprestaram-nos o verniz de “modernidade” que disfarçou, mas não impediu, a falência iminente, a corrupção genética e a aversão à autonomia dos cidadãos. Os cidadãos, diga-se, também não ajudam, visto que assistem a tudo com a indiferença de há um século. Excepto quando lhes dá ou retira o amparo, as pessoas não pensam que o Estado e o poder sejam assunto seu. No fundo, e com relativa razão habituaram se a pensar que são assunto “deles”.
E “eles” festejam: a desgraça a que, perante a apatia geral e a impunidade, nos conduziram.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário