domingo, 31 de outubro de 2010
estou cansado de gente
“Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto.
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo…
E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.”
Álvaro de Campos
sábado, 30 de outubro de 2010
que fantástica lucidez
Sobre o signatário:
Licenciado em história pela Universidade Clássica de Lisboa (1978), mestre em história da arte pela Universidade Nova de Lisboa 1988), doutorado em história da arquitectura pela Universidade de Coimbra (1999). Docente do DARQ desde 1991, professor convidado do Dep. Autónomo de Arquitectura da Universidade do Minho desde 2001, docente convidado de outras universidades portuguesas e estrangeiras. A principal área de investigação e publicação tem sido a história da arquitectura e da cultura arquitectónica portuguesa dos séculos XVII e XVIII.
DECLARAÇÃO
As medidas que o Estado português se prepara para tomar não servem para nada. Passaremos anos a trabalhar para pagar a dívida, é só. Acresce que a dívida é o menor dos nossos problemas. Portugal, a Grécia, a Irlanda são apenas o elo mais fraco da cadeia, aquele que parte mais depressa. É a Europa inteira que vai entrar em crise.
O capitalismo global localiza parte da sua produção no antigo Terceiro Mundo e este exporta para Europa mercadorias e serviços, criados lá pelos capitalistas de lá ou pelos capitalistas de cá, que são muito mais baratos do que os europeus, porque a mão-de-obra longínqua não custa nada. À medida que países como a China refinarem os seus recursos produtivos, menos viável será este modelo e ainda menos competitiva a Europa. Os capitalistas e os seus lacaios de luxo (os governos) sabem isso muito bem. O seu objectivo principal não é salvar a Europa, mas os seus investimentos e o seu alvo principal são os trabalhadores europeus com os quais querem despender o mínimo possível para poderem ganhar mais na batalha global. É por isso que o “modelo social europeu” está ameaçado, não essencialmente por causa das pirâmides etárias e outras desculpas de mau pagador. Posto isto, tenho a seguinte declaração a fazer:
Sou professor há mais de 30 anos, 15 dos quais na universidade.
Sou dos melhores da minha profissão e um investigador de topo na minha área. Emigraria amanhã, se não fosse velho de mais, ou reformar-me-ia imediatamente, se o Estado não me tivesse já defraudado desse direito duas vezes, rompendo contratos que tinha comigo, bem como com todos os funcionários públicos.
Não tenho muito mais rendimentos para além do meu salário. Depois de contas rigorosamente feitas, percebi que vou ficar desprovido de 25% do meu rendimento mensal e vou provavelmente perder o único luxo que tenho, a casa que construí e onde pensei viver o resto da minha vida.
Nunca fiz férias se não na Europa próxima ou na Índia (quando trabalhava lá), e sempre por pouco tempo. Há muito que não tenho outros luxos. Por exemplo: há muito que deixei de comprar livros.
Deste modo, declaro:
1) o Estado deixou de poder contar comigo para trabalhar para além dos mínimos indispensáveis. Estou doravante em greve de zelo e em greve a todos os trabalhos extraordinários;
2) estou disponível para ajudar a construir e para integrar as redes e programas de auxílio mútuo que possam surgir no meu concelho;
3) enquanto parte de movimentos organizados colectivamente, estou pronto para deixar de pagar as dívidas à banca, fazer não um, mas vários dias de greve (desde que acompanhados pela ocupação das instalações de trabalho), ajudar a bloquear estradas, pontes, linhas de caminho-de-ferro, refinarias, cercar os edifícios representativos do Estado e as residências pessoais dos governantes, e resistir pacificamente (mas resistir) à violência do Estado.
Gostaria de ver dezenas de milhares de compatriotas meus a fazer declarações semelhantes.
Paulo Varela Gomes
EU
A mulher chata
Aposto que já viram a cena.
Um casal sentado à mesa de um restaurante. O homem calado e a mulher com cara de poucos amigos. Parece um poço de mau humor.
Tudo é possível na combinação de um casal composto por uma mulher amarga e um homem calado.
Basta o homem não ter iniciativas para fazer da própria mulher um monstro de abusos. Habituada a dar ordens, a fazer tudo, acha-se no direito de intervir também nas questões pessoais do marido e, o que deveria ser uma troca voluntária de delicadezas, atenção e respeito, torna-se num eterno intercâmbio de farpas e ressentimentos.
Causa-me espanto a falta de humor de certas mulheres. Considero a falta de bom humor um defeito grave, aliás, em ambos os sexos. Sem humor, perde-se a oportunidade de dar um novo rumo a uma conversa tensa ou até imprimir um clima melhor numa crítica necessária.
Vamos então a uma lista, simples, das manias no “universo feminino” que as tornam realmente chatas:
- Considerarem o futebol, como uma rival mais ameaçadora do que a Angelina Jolie nua batendo à porta de casa!
- Telefonarem de quarto em quarto de hora para falar sobre…nada de específico.
- Falarem mal do marido/namorado/companheiro/com terceiros, em frente dele.
- Falarem demais.
- Olhá-los de alto a baixo quando eles se arranjam para sair com elas.
- Discutirem a relação.
Como se livrar então de uma mulher chata?
Nem sempre se pode usar técnicas tão eficazes como empurrá-las pela escada abaixo, mas felizmente que a tecnologia existe para nos ajudar nestes momentos.
Na verdade é MUITO simples e pode ser feito em dois passos, só temos que nos valer do amor que as mulheres têm por hábitos e rotinas.
Primeiro, dá-se de presente este curioso e único secador de cabelos:
Depois de instalado, deve deixar-se que ela o use durante algumas semanas, até ter o hábito de o ligar para secar o cabelo.
Quando se tiver a certeza de que se acostumou ao secador, é só preciso cometer um terrível engano, e deixar uma Magnum 357 no mesmo sítio aonde costumava estar o secador, o qual foi para “arranjar”.
Esta técnica é infalível.
Só não digo que é tiro e queda porque odeio trocadilhos.
Portugal....um poço
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Pai valente
Pai valente tem o coração forte
e quente! Mas também carrega
a ternura no peito e o carinho nas mãos!
Caminha com passos certeiros
sempre ajudando com coragem para
assistir de pé à vitória de um filho.
Pai valente é lutador! Sábio! Guerreiro!
Mestre! Senhor das situações! Não
vacila e está presente em todos os
momentos! Sempre com acções firmes e
certeiras!
Pai valente sabe quando deve agir para
ajudar um filho a crescer. Não desanima
e é o incentivador maior da vida!
Pai valente acorda cedo. Vai trabalhar.
E trabalha com afinco. Vontade. Raça. Garra.
Depois do dever cumprido, volta para
casa e faz questão de jantar com os filhos no
meio de conversas e de muita harmonia.
Pai valente também fica na cabeceira da
cama quando os filhos se encontram doentes,
torcendo pelas melhoras.
Pai valente ri! Leva o optimismo para a frente e
não deixa os filhos esmorecerem!
Pai valente é gigante!
Brinca com os filhos pulando, correndo
e enrolando-se pelo chão!
Pai valente é tudo de bom na vida da gente!
de Antonio Marcos Pires
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
A minha Mãe
Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
— mistério profundo —
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
Carlos Drummond de Andrade, in 'Lição de Coisas'
terça-feira, 26 de outubro de 2010
Vanitas (Diálogos de Platão) FILEBO
Sócrates - Então tenta ver, Protarco, em que consiste a tese de Filebo, cuja defesa vais fazer, e também a nossa, que terás de contestar, no caso de não a aprovares. Queres que recapitulemos as duas?
Protarco - Perfeitamente.
Sócrates - Ora bem: o que Filebo afirma é que, para todos os seres animados, o bem consiste no prazer e no deleite, e tudo o mais que seja do mesmo género.
Da nossa parte, defendemos o princípio de que talvez não seja bem assim, mas que o saber, a inteligência, a memória e tudo o que lhes for relacionado, como a opinião certa e o raciocínio verdadeiro, são melhores e de mais valor do que o prazer.
Para quantos forem capazes deles usufruir, essa fruição é o que há de mais valioso para os seres universais, presentes e futuros. Não foram estes os pontos, Filebo, que cada um de nós, mais ou menos, defendeu?
Filebo- Isso mesmo, Sócrates; sem tirar nem pôr.
Sócrates - E agora, Protarco, aceitas defender a tese que te confiamos?
Protarco - Sou obrigado a aceitar, uma vez que Filebo já desistiu de por eles se bater.
Sócrates - Haveremos, por todos os meios, de conseguir atingir a verdade neste domínio.
Protarco - Sem dúvida.
Sócrates - Muito bem; acrescentemos ao que ficou dito mais o seguinte.
Protarco - O quê?
Sócrates - Que a partir deste momento, cada um de nós se esforçará por demonstrar qual é o estado e a disposição da alma capaz de proporcionar vida feliz aos homens. Não é isto?
Protarco - Exacto
Sócrates - Então, compete a vós ambos demonstrar o que é o prazer; e a mim, a sabedoria.
Protarco - Perfeitamente
Sócrates - E se descobrirmos outro estado, superior a estes? Será que a vida do prazer levará a melhor, em relação à da sabedoria?
Protarco- Isso mesmo
Sócrates - E se tiver maior afinidade com a sabedoria, será esta que vencerá o prazer, o qual acabará derrotado. Admites também este ponto ou não?
Protarco - Eu, pelo menos, admito.
(trecho dos "Diálogos de Platão" - FILEBO)
sábado, 23 de outubro de 2010
A insatisfação
A insatisfação norteia as nossas vidas.
Há pessoas que precisam do tédio para sobreviver. Uma rotina, por assim dizer. Um quotidiano previsível que nos faz sentir que controlamos os acontecimentos do dia a dia. Tudo provável. Nada de surpresas. Nem más, nem boas.
Mas a maioria das pessoas cria subterfúgios para fintar o tédio. O que as diferencia são as ferramentas que utilizam como válvulas de escape. Há uns que recorrem às drogas. Em pouco tempo a droga escolhida transforma-se em tédio. Então recorrem a outra. E assim por diante.
Há quem prefira mudar de namorada cada mês ou por trimestre ou ao ano. Outros mudam de cidade como ciganos. E há os que recorrem à criatividade. Inventam eventos.
Reinventam-se ou através do trabalho, ou por meio de fantasias. Pintam um quadro, escrevem um livro, fazem um filme. Procuram obras que expressem as suas variações de humor, que enfrentem o quotidiano sem surpresas. Procuram músicas que os transportem para outro universo.
Viajam, correm, fazem um trabalho voluntário.
Estamos sempre a tentar sair da “caverna do Platão”, aquele território mais do que conhecido e explorado, ao qual sempre acabamos por voltar depois de cada aventura.
O que vale é a eterna busca para fugir à insatisfação.
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
Lisboa de outros tempos - 14ª Carta do meu primo Luis Bernardo
Meu Caro Manuel,
Fui visitar os teus Avós maternos como me tinhas pedido. Estão excelentes e o teu Avô tinha recolhido uma série de fotografias que me deu e que te mando bem como organizado as ideias para te poder falar um pouco sobre a sua juventude, que obviamente não conheceste.
Transcrevo-te o que ele me disse dirigindo-se directamente a ti:
O meu Pai, como tu sabes, tirou o Curso Superior do Comércio, equivalente nessa altura a uma licenciatura em gestão financeira e foi Presidente da Junta de Crédito Público, tendo ocupado também outras altas funções no Estado, sempre dentro deste âmbito profissional. Foi colega do Alfredo da Silva com quem travou forte amizade.
Com cerca de 18 anos e depois de terminados os estudos secundários no Colégio de Campolide, o meu Pai falou com o Alfredo da Silva para me arranjar um emprego e fui estagiar para a Casa Bancária José Henriques Totta, aonde percorri todas os sectores da banca, criando uma sólida formação comercial e contabilística.
Quando casei com a tua Avó, ainda bem novo, fui desafiado pelo meu sogro e teu Bisavô para o ir ajudar na gestão da Editora Romano Torres, já na sua família há muitas gerações. Eu adorava livros, trazia conhecimentos actualizados e úteis, e por isso nem hesitei. Mais tarde com o meu irmão mais velho, desempenhei funções de Administrador não executivo em variadíssimas empresas aonde ele era Presidente e a nossa família, proprietária ou grande accionista.
Não sei se teria tido uma actividade profissional mais interessante se tivesse seguido a carreira bancária, mas não me arrependo da que escolhi pois não há melhor do que se trabalhar no que é nosso e fomos realmente muito bem sucedidos, com uma elevada qualidade de vida, como te lembrarás e de que todos beneficiaram e ainda bem.
Na minha vida de solteiro, e é dessa de que te vou falar porque me pediste, não posso deixar de te referir que a maioria dos rapazes com meios e de boa sociedade, tinham hábitos de grande pândega, sobretudo nocturna.
Era uma vida com dois tipos de comportamento :
o primeiro, o oficial e familiar com um enorme respeito pelos nossos Pais e Avós e pela severidade formal de que se revestiam as relações :
- a vida doméstica tinha horários estritos e presença obrigatória nas demoradas refeições em grandes casas servidas por criados e criadas e nas quais devíamos estar sempre bem vestidos e impecavelmente apresentados ;
- não podíamos, em princípio, eximir-nos ao cumprimento de todos os hábitos religiosos que o nosso estatuto social nos impunha ;
- as Mães e Avós eram muito devotas (dependendo o exagero de caso para caso, e no meu, apesar de muito rígida era terna e gostando muito dos filhos) e os Pais um pouco distantes, mas zelando pelo equilíbrio social e pelas tradições familiares, sem que pudéssemos causar escândalo.
o segundo, aliás transversal a Avós, Pais e Filhos (quando aplicável), era o de uma vida secreta, confidencial e zelosamente guardada cúmplicemente entre todos e só partilhada entre cada nível geracional.
Sabia-se que os « Cavalheiros » e disso se conversava detalhadamente com peripécias e gozo nos seus Clubes, faziam grandes vidas de lazer, com prazeres ocultos e práticas sensuais, mas normalmente sempre a horas que não prejudicassem, aos casados, o cumprimento dos seus deveres conjugais….Imagina que se jantava pelas seis horas da tarde ! Dava tempo de sobra para voltar depois da refeição ao escritório para fazer horas extraordinárias tardias, ou ao consultório a atender pacientes urgentes e por aí a fora…
As Senhoras casadas, sobretudo as mais desprezadas e por isso mais directamente infelizes ou as noivas desvalidas desconfiavam de toda essa vida brejeira e desregrada e como em tudo, não só acabavam por ser « apanhados » noivos, namorados, maridos e até « castas esposas » em flagrante delito, situações estas que redundavam sempre em separações, abandono das casas familiares ou rompimento de noivados.
O « sport » era uma ocupação dos « dandy » e da juventude bem educada desses tempos, e no meu caso e dos meus 2 irmãos, escolhemos a esgrima aonde fomos sempre muito bem conceituados : os teus Tios-Avós foram várias vezes campeões de Portugal e brilharam no estrangeiro, bem como vencendo inúmeros torneios que se disputavam entre os Clubes privados do país.
Nós atirávamos na Sala d’Armas do Professor Carlos Gonçalves, uma das melhores e mais bem frequentadas de Lisboa, sendo ele um insigne mestre com fama internacional. Foi com ele que teve lugar um dos últimos duelos à espada em Portugal.
Tínhamos como Amigos e parceiros de esgrima o Conde de Lavradio, o Henrique MacBride, e os membros de uma equipe que mais tarde ganhou uma medalha de bronze nas Olimpíadas de Amsterdão em 1928 formada pelo Mário de Noronha, filho do escritor Eduardo de Noronha, Paulo d’Eça Leal, Jorge de Paiva, João Sassetti, Henrique da Silveira e dávamo-nos também com o Ruy Mayer, o António Mascarenhas e Menezes, o António Pinto Leite e tantos outros que tornavam esta prática num verdadeiro prazer entre amigos.
Para te descrever o que eram as nossas noitadas preciso de recuar um pouco no tempo e contar-te o que era a noite de Lisboa desde o fim da Monarquia até à República e aos meus anos de viçosa mocidade.
Com efeito, na minha juventude era nítida a convivência que alguns aristocratas desenvolviam tanto com as « cocotes finas » como com as prostitutas do fado baixo. Nas esperas de touros, ao som do fadinho chorado, lá víamos as « cocotes chiques » ao lado da Severa, da Júlia Gorda ou da Joaquina dos Cordões.
As esperas de touros constituíam também motivo de franca confraternização entre os boémios das várias castas, desde o faia do Bairro Alto até ao mais requintado aristocrata. A integração era quase perfeita e as distinções culturais apareciam socialmente minimizadas.
Ou seja, a Lisboa boémia era, do ponto de vista cultural, distinta da outra Lisboa : a gíria fadista do Bairro Alto, Alfama e Mouraria era ilustrativa da faceta rija e brigona de tais bairros. As próprias prostitutas adoptavam frequentemente nomes de guerra no sentido de uma certa auto personalização.
Mas, se, ao nível cultural, as fronteiras que separavam a Lisboa boémia da Lisboa de «ar mais sério» não eram muito permeáveis, por inevitáveis exigências de mercado, surgiu uma maior concorrência entre as prostitutas, cuja consciência de profissionalização cresceu progressivamente. Acresce que, ao mesmo tempo que o fado se aristocratiza, o « chulo » era, para além de fadista, uma personagem dupla — «marido complacente» e «guarda-costas para ocasiões críticas» —, e passa a ganhar uma tôsca, mas frutuosa, consciência empresarial, metendo por dia ao bolso uma razoável quantia.
Quanto às zonas de prostituição, os aventais de madeira (bordéis da clássica meia porta) mais antigos passaram a dar lugar aos bares, ao mesmo tempo que, com o aumento do tráfego e das vias de comunicação, as nómadas tornam-se as passageiras certas e pontuais dos camionistas.
O fado pode ser considerado como filho da prostituição e das baiucas. Daí que no bordel estivesse sempre presente uma guitarra. O fadinho era a canção, a dança especial e predilecta de meretrizes, vadios, estróinas e boémios e, enquanto o fado tanto podia significar «prostituição na mulher» como «vadiagem no homem», fadista era a mulher que se entregava à prostituição ou o homem brigão, vadio, desordeiro.
O fadista, como a Lisboa do meu tempo o entendia — galanteador arrogante e valdevino — era temível até pelo nome: o Facada, o Trinca, o Naifa.
Aqui e além surgiam tentativas de regeneração da prosápia do fadista e avançavam-se com vagos «sentimentos de honra». Um conhecido fadista e poeta boémio afirmava:
Os fadistas que se prezam tocam guitarra, mas não usam navalha! Cantam o fado, mas não são rufiões.
O certo é que a vivência boémia não dispensava as corridas...apitos...balbúrdia... galegos a correr com macas para o Hospital de S. José...cirurgiões a coserem as barrigas furadas pelas simpáticas navalhas de ponta e mola.
Muitos fados da época retratavam fielmente o quotidiano habitual do fadista pimpão:
Na tasca da putaria
Houve ontem grande bulha,
Veio de lá a patrulha,
Pra o Carmo levar me queria.
Um soldado olha para mim,
E me diz: «Marche prà frente,
Barulho não se consente,
Aqui não se quer chinfrim.»
Mas não me faz espantar,
Que tinha vinho nas tripas;
Preguei-lhe quatro chulipas
E depois toca a safar.
Na verdade, rara era a noite em que não ocorriam sérios confrontos entre as forças da ordem e a fadistagem. Ciúmes e disputas de mulher estariam, talvez, na origem destas intrigas. Com efeito, os famigerados guardas também tinham os seus arranjinhos e as suas protegidas. O certo é que as forças da ordem detestavam os fadistas, abominando as suas melenas e a boca de sino das calças.
Na esquadra do Atalaia, o chefe Silva parece que exagerava: quando algum desgraçado que assim trajava lhe ia parar às mãos, com uma tesoura, cortava-lhes as mechas de cabelo e, quanto às calças, não tinham a menor sorte: a desalmada tesoura ia-se às bocas de sino como faca à manteiga. As vinganças eram depois implacáveis. Neste caso concreto, quando o chefe Silva se reformou, a fadistagem fez-lhe uma espera, de noite, e foi tal a carga de pancada que lhe aplicaram que o desventurado, dela morreu um mês depois!
Aristocratas ou de condição mediana, oficiais do Exército e até burgueses pacatórios quiseram abraçar o fado. O luxo era fazer uma digressão « guerreira » à Mouraria, Bairro Alto e Alfama.
Fidalgos roçando por costureiras; um ministro a par e passo de um gatuno; um poeta ao lado de um barbeiro; uma virgem passando ao lado de uma prostituta.
As tabernas, ponto de encontro de todos estes boémios, tinham, naturalmente, uma frequência socialmente diversificada. Todos lá iam depenar a perna. Desde moços de fretes, até à mais fina-flor da aristocracia. Esta, ou amava em São Carlos ou no bordel. Os mais ousados preferiam o bordel ou a taberna, independentemente das indignações e de certos preconceitos de família.
As dolências de uma guitarra à boca de uma taberna tinham, pois, uma plateia variada. Até altas horas havia descantes, fado batido, gritaria infernal.
Taberna tranquila, sem murros, sem gritos, sem facadas, era «fraca taberna». A taberna pedia desordem e o povo pede taberna. E com o povo andava a aristocracia boémia.
Nas esperas de touros, certos círculos aristocráticos mantinham uma convivência aberta com as prostitutas do fado baixo. Estas, por sua vez, mantinham uma relativa convivência com as « cocotes finas ».
A diferença entre elas reflectia-se apenas, na utilização ou não do «leito de ferro» ou da «cama de embutidos».
Os «doidos marialvas», integrados em grupos de desordeiros e beberrões, fadistas e vagabundos, por todas as locandas, desde o Arco do Cego até Loures, eram acompanhados pelas amantes e outras mulheres de vida fácil. Alojavam-se, nomeadamente, nas locandas vizinhas do Campo Pequeno até altas horas da madrugada, à espera da largada de touros.
Os próprios fidalgos trajavam à fadista. A integração era perfeita e as distinções sociais minimizadas. Aqui, um fadista de calça à boca-de-sino, cinta, jaqueta e chapéu desabado, tocando fados ou corridinho; ali, um filho pródigo que andava dissipando a herança paterna; acolá, um fidalgo pândego, amador da paródia das esperas, trajando igual ao fadista.
Poder-se-á, enfim, especular se as «mulheres do fado» não tinham amantes predilectos. Parece que sim, mas todos eles, fossem marinheiros, ou marialvas, tinham uma particularidade comum: eram amantes do fado. Dentro dos limites do possível, elas sabiam respeitá-los, não os atraiçoando com outro qualquer. Separavam «o seu comércio dos seus amores». Não sustentavam relações amorosas duplas, até porque eram perigosas.
Ao mesmo tempo que o fado se aristocratiza, a vida boémia da capital transforma-se. Para além do fadista, figuras típicas da boémia, como a «proxeneta», o «chulo» e a prostituta, ganham novos hábitos, desenvolvem novas práticas.
Mas voltemos ao meu tempo, aonde surgem as « engatadeiras » a tempo integral, passando a actuar como verdadeiros agentes de tráfico conhecedores dos mais ardilosos segredos de marketing. Nas chegadas dos comboios à capital ou na província, para melhor poderem actuar, até se apresentavam, sofisticadamente, trajadas de irmãs da caridade ou com uniformes de enfermeira. Às pequenas que andavam na venda de peixe e de fruta eram feitas propostas com mobilizadores atractivos pecuniários. E até a qualidade do produto não era descurada: eram quase sempre escolhidas as que tinham seios redondos, nádegas amplas, boas cores, alvos dentes e tutti quanti era essencial para agradar ao mais exigente.
Quanto aos circuitos de divulgação do produto, passavam a ser também dos mais sofisticados: nas ruas da Baixa enviavam-se «bilhetes de convite» oferecendo a «prática de bons serviços», como quem divulgava um memorando ou reclame dum estabelecimento que vulgarmente anunciava um produto.
Fazíamos ceias no Tavares Rico, íamos ao teatro e trazíamos as coristas.
Não me arrependo desta vida de estroina, bem vivida, divertida e criando grandes laços de solidariedade entre os companheiros e amigos de fortuna. Guardámos sempre grande cumplicidade entre todos, e mesmo já depois de casados e cada um com as suas famílias, quando nos encontrávamos, os abraços eram apertados, os sorrisos largos e bem dispostos e vinham sempre à memória e nas nossas conversas esses belos tempos passados em conjunto.
Aqui tens o que, sendo talvez um pouco libertino, não prejudicou no futuro para a maioria de nós o respeito pela honra, as boas maneiras e a sã e alegre convivência, malgrado porém para alguns ter acarretado graves consequências de doenças da época, a ruína e precariedade de fundos bem como ter contribuído para a existência de famílias complicadas e infelizes.
Nós, nesses momentos sentíamo-nos felizes, descomplexados e gozando os prazeres da boa vida.
A terminar, devo dizer-te que éramos todos uns janotas e cuidávamos das nossas aparências: tudo era acessível a pessoas da nossa condição – barbeiros, manicuras…quantas não se tornaram verdadeiras « companheiras », alfaiates com tecidos e cortes da moda, sapatos mandados vir de Inglaterra, chapéus de feltro elegantes, camisas de popelina fina e gravatas de seda, lenços de cores variegadas : tudo contribuía para uma aparente, mas real felicidade.
Meu querido Manuel, muito engraçado este teu Avô e com uma enorme boa disposição.
Um abraço do teu primo muito afeiçoado
Luis Bernardo
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
o silêncio de Agustina
Em 1959, Agustina foi convidada a participar num congresso em Aix-en-Provence sob o tema geral - o destino da Europa - com grandes figuras da literatura europeia. Posteriormente, publicou um livro em que descreve a viagem por Espanha, França e Itália, uma espécie de diário com reflexões preciosas sobre diversas questões, entre elas, o silêncio.
No dia em que ia ser discutido o problema da técnica, Agustina diz das suas impressões muito bem-humoradas sobre alguns participantes que vão aparecendo na sala ao mesmo tempo que distribui sorrisos já sentada numa cadeira rústica pintada de azul-claro. Escreve de como é difícil alguém conservar a dignidade intelectual sentada numa cadeira tão ingénua, mas é a que ela escolhe. Ainda uma vez fala de convívio e de silêncio.
"Entre uma multidão que se interpela, que se exprime afanosamente, que se chama à distância, que se abre em aberrantes votos de confiança, que se oferece, que se interessa, que arma pavilhões e convida amigos e desperta vizinhos, encontrar alguém que está calado e permite que façamos a respeito dele suposições erradas e fantásticas – isso é como descobrir a pedra filosofal. Para o diabo o mundo elástico das boas intenções, as campainhas no pescoço do belo senso; para o diabo os sindicatos da simpatia, o quase entendimento, a meia-verdade, o saltinho sobre o ombro da minúscula razoabilidade! Fechem as máquinas de falar, desandem os botões da verbosidade, façam má cara aos visitantes, despeçam os oradores oficiais, cancelem o contrato dos conferencistas. Silêncio, silêncio… Escondam o rosto um momento, desçam as cortinas, preguem as janelas, chorem, se quiserem, mas silêncio! Dai tempo a ouvir um anjo que passa, uma cigarra que canta, uma pedra que rola, uma flor que morre. Também isto é sério, também isto é justo, também isto é revelação, e caridade, e inteligência. Dai tempo a vós próprios, que sois vivos e que o podeis saber. E silêncio."
12ª Carta do meu primo Luis Bernardo
Meu Caro Manuel,
Não há própriamente uma história da filosofia cristã, tal como existe a história da filosofia grega ou da filosofia moderna, pois no pensamento cristão, o máximo valor, o interesse central, não é a filosofia, mas a religião.
Entretanto, se o cristianismo não se apresenta, de facto, como uma filosofia, uma doutrina, mas como uma religião, uma sabedoria, pressupõe que tenha uma específica concepção do mundo e da vida.
O cristianismo fornece ainda uma - imprescindível - prestação à filosofia, no que se refere à solução do problema do mal, mediante os dogmas do pecado original e da redenção pela cruz.
E, enfim, além de uma justificação histórica e doutrinal da revelação judaico-cristã em geral, o cristianismo implica uma determinação, elucidação, sistematização racional do próprio conteúdo sobrenatural da Revelação.
No plano cultural, a Igreja exerceu um amplo domínio, traçando um quadro intelectual em que a fé cristã era o pressuposto fundamental de toda sabedoria humana.
Em que consistia essa fé?
Consistia na crença irrestrita ou na adesão incondicional às verdades reveladas por Deus aos homens. Verdades expressas nas Sagradas Escrituras (Bíblia) e devidamente interpretadas segundo a autoridade da Igreja.
Assim, toda a investigação filosófica ou científica não poderia, de nenhuma maneira, contrariar as verdades estabelecidas pela fé católica.
Segundo essa orientação, os filósofos não precisavam de se dedicar à busca da verdade, pois já havia sido revelada por Deus aos homens.
Restava-lhes, apenas, demonstrar racionalmente as verdades da fé.
Não foram poucos, porém, aqueles que dispensaram essa comprovação racional da fé. Eram os religiosos que desprezavam a filosofia grega, sobretudo porque viam nessa forma pagã de pensamento uma porta aberta para o pecado, a dúvida, o descaminho e a heresia (doutrina contrária ao estabelecido pela Igreja, em termos de fé).
Desde que surgiu o cristianismo, tornou-se necessário explicar os seus ensinamentos às autoridades romanas e ao povo em geral. Mesmo com o estabelecimento e a consolidação da doutrina cristã, a Igreja católica sabia que esses preceitos não podiam simplesmente ser impostos pela força. Tinham que ser apresentados de maneira convincente, mediante um trabalho de conquista espiritual.
A terminar deixo-te esta reflexão: qual a relação entre as palavras e as coisas?
Rosa, por exemplo, é o nome de uma flor. Quando a flor morre, a palavra rosa continua a existir. Neste caso, a palavra fala de uma coisa inexistente, de uma ideia geral.
Um abraço do teu primo
Luis Bernardo
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
I still believe in love
Eu acredito no amor.
No amor que apoia, que une nas dificuldades, que comemora nas conquistas, que sobrevive "apesar de".
Eu acredito no amor que tudo sofre, tudo crê, tudo espera , tudo suporta. No amor que perdoa e que supera, que se fortalece quando poderia morrer.
Eu acredito no amor triste, mas triste juntos, porque se tem a certeza de que dias melhores virão. E porque luta para que dias melhores venham. E que na luta, não desanima. Amor que diante de problemas, continua junto.
Eu acredito no amor que existe na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza. No amor "até que a morte nos separe". E no amor que nem a morte faz esquecer.
E hoje, mais do que nunca, quero que algumas pessoas acreditem no amor. E só porque eu acredito no amor delas. E porque, "apesar de", elas também devem acreditar.
Ele existe, ele é forte e ele vai sobreviver. Apesar de.
7ª Carta minha ao meu primo Luis Bernardo - sexo e religião
Meu Caro Luis Bernardo,
A importância das religiões na vida das pessoas humanas é indiscutível. A sexualidade é também parte da vida quotidiana e é um tema abordado de maneira muito diferente pelas diversas religões.
Qualquer que seja a religião, ela exerce forte influência sobre a sexualidade e o comportamento das pessoas.
No catolicismo a sexualidade começa com a história biblíca de Adão e Eva. Viviam no Jardim do Éden e podiam desfrutar de todas as maravilhas menos de uma coisa: a Maçã da Arvore do Conhecimento do Bem e do Mal. Eva deixou-se seduzir pela serpente (o diabo disfarçado), comeu a maçã e convenceu Adão a fazer o mesmo. Segundo a Bíblia, Deus condenou todas as mulheres a darem à luz sentindo a dor e também a serem sempre dominadas pelos homens.
Na teologia católica romana, Adão teria violado a sua inocência original por ter mantido relações sexuais com Eva. Este facto passou a ser conhecido como o "pecado original". O sexo tranformou-se numa vergonhosa luxúria, carregada de culpa. O sexo deveria limitar-se à procriação da espécie e não deveria ser feito apenas por prazer. Este sentimento de culpa perdura até aos nossos dias e muitas vezes dificulta que as pessoas tenham uma vida sexual saudável, feliz e aprazível.
Em 1994 foi afirmado pela Igreja (i) de que o sexo era exclusivamente para a procriação; (ii) a condenação do sexo antes do casamento; (iii) a condenação do uso de preservativos ou qualquer outro método anticoncepcional; (iv) a condenação da homossexualidade acirrando preconceitos; (v) a valorização da virgindade numa verdadeira cruzada, causando frustrações e sentimentos de culpa para as jovens que já a haviam perdido.
Não nos devemos esquecer que isto ocorreu no final do seculo passado, ou seja a pouquísimos anos de distância e não na Idade Média.
Analisando as diversas posições e orientações religiosas, é fácil perceber qual a razão do nosso planeta estar com uma superpopulação. O Homem é um ser que ao longo da História se destacou dos demais pela sua inteligência. Hoje em dia exploramos o universo galáctico, mas ainda não conseguimos fazer parar a explosão demográfica que é a maior causa de todos os problemas da Humanidade. Imaginem se cidades como Calcutá, São Paulo ou Tóquio tivessem apenas um terço da população que têm. Como tudo seria mais fácil? Não precisariamos mais de energia artificial, petróleo, bairros de lata, etc.
O nosso planeta já não suporta mais a exploração sem limites.
O que se te oferece dizer sobre isto meu Caro Luis Bernardo ?
Um amigo abraço
Manuel
I believe I am a genius
Knowing that you are a genius is one of the fundamental things that allow you to think like one.
I don't know about you, but I didn't get told I was a genius when I was a child. (I was robbed of my brilliance!) You see it is now quite clear that every healthy human brain is capable of genius - that means You and me!.
If you think you are stupid, guess what? You will be stupid. You'll do dumb things. You'll act clumsily and present a clueless image to the world.
On the other hand, if you think you are smart, if you think you are a valuable intelligent person, then that is exactly what you will be.
terça-feira, 12 de outubro de 2010
Eu Queria Ter o Tempo e o Sossego Suficientes
irritado
Com a devida vénia, a seguir transcrevo a parte de um artigo de Alberto Gonçalves, publicado no DN de ontem, no que se refere ao 5 de Outubro.
A REPÚBLICA DOS BANANAS
A 5 de Outubro de 1910 um bando de rústicos hasteou uma bandeira na varanda da Câmara Municipal de Lisboa e implantou, como se implanta um dente, a República.
As baixas foram mínimas, e isso já incluindo os dois líderes revoltosos mortos horas antes por malucos (no caso do almirante Reis, tratou-se de suicídio).
A resistência do regime anterior, atarantado, caduco e fatalmente “aberto”, foi residual. O interesse do povo foi quase nulo. A bandeira em causa foi a do Partido Republicano, que contava com a simpatia de uns poucos milhares de lisboetas e o desprezo do resto do Pais. O País caiu assim, feito fruta, nas mãos dos rústicos, que se achavam iluminados por frequentar o Rossio e ter ouvido uns delírios em francês.
Mesmo por comparação com os desvarios precedentes, estava inaugurada uma época de caos económico, totalitarismo político, perseguições religiosas e ideológicas, discriminação cívica, atentados regulares e geral atraso de vida. E imensa retórica progressista.
A deposição da monarquia significou a troca do privilégio de classe pelo privilégio da falta dela, o que não sendo tão mau quanto soa não é tão bom quanto a propaganda oficial jura.
A 5 de Outubro de 2010, o regime em vigor festejou, com tiques devotos, o centenário desse encantador período. Humor negro? Quem dera.
Os senhores que hoje mandam nisto celebram a ascensão da I República porque, em larga medida, essa é a sua ascensão. O mofo jacobino e maçónico que tomou conta de Portugal há cem anos é o mofo que desde então sempre nos regeu, com uma longa interrupção para o mofo seminarista, igualmente conhecido por Estado Novo. Se entretanto Portugal mudou muito, quase nada se deveu ao esforço próprio.
Nas últimas décadas, as dádivas e o crédito alheios emprestaram-nos o verniz de “modernidade” que disfarçou, mas não impediu, a falência iminente, a corrupção genética e a aversão à autonomia dos cidadãos. Os cidadãos, diga-se, também não ajudam, visto que assistem a tudo com a indiferença de há um século. Excepto quando lhes dá ou retira o amparo, as pessoas não pensam que o Estado e o poder sejam assunto seu. No fundo, e com relativa razão habituaram se a pensar que são assunto “deles”.
E “eles” festejam: a desgraça a que, perante a apatia geral e a impunidade, nos conduziram.
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
Poesia de Fernando Pessoa na bunda!!!!
Agora virou moda essa historia de tatuar poesias no corpo!
Eu, apaixonada por frases de ordem, poesias e escritas que nos façam refletir, disse recentemente que tatuaria a poesia "O tempo de travessia" de Fernando Pessoa nas minhas costas.
Enorme foi minha surpresa quando vi a foto de Cléo Pires peladona em comemoraçao ao aniversário da revista Playboy com esse poema grafado na poupança!!!
Que decepção!!!
Muitas pessoas tentaram me consolar.
Particularmente, fiquei chateada pela escolha do poema, pois depois que descobri esse poema, passei a me ver em muitos versos, e este, especialmente tem tudo a ver com essa nova fase que estou vivendo.
Para quem não conhece, aqui estão os lindos versos de Pessoa, que de maneira ímpar e pessoal passou a ilustrar a bunda de uma atriz global!!!
(Ah! Vale lembrar que a moçoila escreveu as belas palavras em estilo hena, e que logo, logo elas nao estarão mais lá embaixo!!!)
O Tempo de Travessia
Fernando Pessoa
"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas,
que já tem a forma do nosso corpo,
e esquecer os nossos caminhos,
que nos levam sempre aos mesmos lugares.
É o tempo da travessia:
e, se não ousarmos fazê-la,
teremos ficado,
para sempre,
à margem de nós mesmos."
Para quem só agora acompanha a minha correspondência com o meu primo Luis Bernardo
Imaginem vocês que recebi esta carta de um primo que já morreu há vários anos e que me chegou à caixa do correio. Mais à frente perceberão como.
Creio ser o primeiro ser humano a ter verdadeiramente notícias reais, de além-túmulo. Vou deixar passar algum tempo para cair bem em mim, mas finalmente aparece alguém a explicar como tudo se passa. Aliás, nunca percebi porquê tantos mistérios!
Até este momento ou era a velha e comprovada tese “de cinza, pó e nada”, pelo menos é o que pragmaticamente se encontra nos caixões após as exumações (abertura após uns determinados anos) ou em alternativa o céu, o purgatório e o inferno.
Mas demos a palavra ao Luis Bernardo.
Meu Caro Manuel,
Ficarás surpreendido por receber uma carta minha, tendo eu morrido há já um par de anos. Pois imagina que descobri a maneira de enviar notícias e aqui estou a conceder-te o privilégio de saberes, creio que em primeira-mão, como tudo acontece.
Voltemos um pouco atrás ainda aí na terra.
Lembras-te da minha doença, do sofrimento por que passei e finalmente da minha morte, que veio estava eu ainda no hospital ligado a uma máquina.
A partir de um determinado momento senti-me aliviado e foi precisamente quando o Dr. Horta disse à enfermeira dos cuidados intensivos para me desligar do ventilador pois tinha entrado em morte cerebral.
Qual não foi o meu espanto quando constatei que efectivamente o meu corpo era como se fosse um emissor receptor e senti que um aviso foi emitido para algures.
A parte física do corpo começou a esfriar e a enrijar mas as funções vitais estavam em pleno fulgor e agora já sem sofrimento.
Ouvi a família aproximar-se, chorar, excitar-se e alguns mesmo, ficarem ao meu lado. Disseram de tudo, como calcularás, conhecendo tu o que nós sabemos de cada um dos membros da nossa família.
Finalmente confirmei as suspeitas de reacções mal explicadas por parte de uns, a hipocrisia de outros, o alívio de outros tantos, e tudo isto me fez pensar como bastas vezes damos importância a coisas que de facto não a têm.
Gostei da tua reacção. Choraste sentidamente e em silêncio, e fizeste-me uma festa na mão.
Tantas tardes e noites à conversa, tantas recordações de trocas de ideias profundas com tantas certezas, discussões acaloradas e apaixonadas que às vezes acabavam mal, mas que no fim nos levava a abraçar afectuosamente saindo cada um para a sua casa.
Lembro-me bem das dores e alegrias que compartilhámos em momentos altos e baixos das nossas vidas e das da nossa família.
A “seca” dos parentes e familiares chatos, o brilho dos inteligentes e mordazes, o encanto dos abertos de espírito e o horror dos fanáticos e radicais! Bem poderia estar aqui a desfiar o que foi a nossa cumplicidade e amizade, mas tudo isso é passado.
Entretanto chegou um emissário que me disse que estava tudo em ordem e que deveria com ele partir, deixando o corpo para trás.
Era uma ideia de voz e de presença que me era agradável. Pareceu-me um funcionário administrativo, pensei eu. Deus não seria de certeza, pelo menos ainda.
Vaidosos e convencidos que éramos. Brincávamos considerando-nos uns “deuses do Olimpo disfarçados” mas no fundo seguros da nossa inteligência e superioridade. Só alguns compartilhavam este nosso segredo e connosco se identificavam. A Rita era danada para nos desafiar a revelarmos o que nos unia tal como os cavaleiros do Santo Graal, mas nunca cedemos ao seu charme infinito e sedutor, e nada soube.
Vim a perceber que estes emissários podem levar notícias, por isso aproveitei a boleia de um que ia para perto de ti, e mandei-te esta carta.
Encontrei os teus Pais. A tua Mãe, a quem informei que te ia escrever, disse-me para que não tivesses pressa em vir. O teu Pai, está estupendo, como não são precisos médicos aqui, deu-lhe para tratar do jardim que é um bosque maravilhoso. Com a sua meticulosidade e perfeccionismo mantém as flores num mimo e fala com elas.
O teu Avô mandou vir de Celorico um daqueles enormes castanheiros centenários da vossa quinta do Soito da Parda e a tua Mãe senta-se a ler debaixo dele e a olhar para a relva linda em frente da casa, que o teu Pai cuida com muito desvelo.
Estive pouco tempo com eles, e ainda não pude começar a fazer outras visitas.
No fundo foi uma grande surpresa, pois o Deus de barbas e de voz “grossa ou meiga” conforme nos descreviam não é nada disso: nós estamos em Deus e não fala nem olha, pois somos parte de Deus.
Lembras-te de quanto nos ríamos ao ver as preces que se faziam para um bom resultado num determinado campeonato de futebol ou em pedidos para acertar na lotaria.
Nada de julgamentos finais, nem purgatório, nem muito menos inferno.
O inferno é aí na terra e tudo quanto fazemos por aí se fica, é passado.
Vê lá se continuas a ser boa pessoa, pensando nos outros e partilhando os teus afectos e de resto goza a vida e não te preocupes com minudências. Sê honesto como éramos e respeita a idade e cultiva a mente frequentando gente sã e curiosa da vida terrena. Quanto aos que inventam coisas sobre o divino, não percas tempo, pois não é nada assim. Logo verão quando chegar a sua altura.
Há tanto para fazer e ainda agora comecei. Vou-te dando notícias.
Só te deixo uma informação e, por enquanto, uma preocupação:
- sabendo como tens claustrofobia, terás uma grande surpresa, pois não a sentirás no caixão.
- a preocupação é a de que com tanta gente da família que quero visitar e melhor conhecer, para além de tantos outros que povoaram a nossa imaginação e a quem vou poder perguntar coisas que sempre nos intrigaram, ainda não me desliguei do conceito terreno do tempo.
O que será a eternidade? Maçada não é de certeza, mas por ora, confunde-me a ideia.
Vou tentar saber e depois digo-te.
Teu muito afeiçoado
Luis Bernardo
11ª Carta do meu primo Luis Bernardo - As chaves do paraíso
Meu Caro Manuel,
Senti-te agitado na tua última correspondência. Queixavas-te do país, indirectamente da Europa e em última análise da crise global. Que desassossego! Isto por aqui tão calmo e sereno, sem essa noção de incerteza, de abandono e de materialidade.
Lembro-me de que no princípio da nossa correspondência, te lamentavas de nunca ninguém ter vindo dizer o que se seguia à morte. Interpretavas o sentir, quase que diria de toda a Humanidade viva, e sem hesitações perguntaste-me o porquê.
O que é mais relevante na tua questão, é sobretudo a sensação de revolta, por tal não acontecer.
Se olharmos para o que é tradicional ensinar-se, transversalmente aliás a quase todas as religiões, esta ausência de verdade, de transparência e de comunicação de um Deus para com os Homens, prejudica enormemente o caminho e a permanência na fé, intriga sobre que Deus tão distante é este que parece ter algo a esconder: se a surpresa é boa, porque não revelá-la motivando e incentivando à prática do que tais religiões consideram como o bem, ou havendo os costumeiros purgatórios, infernos e limbos…bom seria que fossem todos avisados para poderem escolher o “destino” antecipadamente, em função dos pecados praticados ou a evitar!
Como não será lógico que tantos se sintam confusos, sós e sem certezas, “adorando” um Deus acima das nuvens?
Este temor e pânico da punição eterna, prejudica a vivência do amor generoso, a partilha dos bens materiais, espirituais e do pensamento bem como o desejo de uma vida simples sem demasiadas ambições e em que a paz é o desiderato supremo. Em certa medida e com outros contornos é isto que se vive aqui.
Fui visitar o teu Avô materno, como me pediste, e encontrei-o tão entretido em estar com tantos daqueles com quem aí na terra se deu e de quem foi amigo que quando lhe propus que me narrasse a sua vida de jovem estroina de Lisboa dos anos 30 para que ta pudesse contar, pediu-me tempo pois o facto de ter que organizar as ideias sobre um mundo que já não lhe diz nada, pouco lhe interessa.
Aliás acrescentou que só o faz por ti e já que assim lhe pedes considera ser mais fácil ir ao encontro dos que com ele conviveram nesses tempos para assim melhor os reviver. Tem pois um pouco de paciência!
Histórias de boémia terrena parecem-te poder ser blasfémia por virem de alguém que já morreu? Quantas vezes te terei que dizer que a vida na terra é passado e acaba com a morte e é o percurso de cada um sem consequências de labaredas ou de lugares à direita ou à esquerda…conforme a filiação política! O que terão os centristas previsto como o seu lugar no paraíso se ao centro, segundo a doutrina, está sempre Deus?
Por isso recomendo-te que estejas tranquilo, que gozes a vida com bom senso, inteligência e liberdade (naturalmente que dentro destes conceitos está implícito o equilíbrio próprio da tua consciência e o que deves praticar no seio da comunidade humana que te rodeia).
O sofrimento terreno é arte dos homens, criam razões sem nexo para se mortificarem a troco de benesses futuras inexistentes.
A dor é dor e ninguém gosta de a sentir, mas faz parte das debilidades e vicissitudes do corpo, e por isso não deve ser encapotada nem valorizada. Deve sim, ser evitada ou minorada por todos os meios possíveis.
O prazer é bom e deve ser encorajado. O gozo dos sentidos é um dom do corpo e para isso existem. Quem abuse e se exceda, ainda que este juízo só a cada um diga respeito, responsabilizar-se-à pelos danos que possa causar à comunidade, mas nunca poderá ser motivo de “condenação eterna”!
Seria negar a justeza do criador ao criar o seu modelo. Se o dotou com tudo quanto faz parte intrínseca do seu ser, como pode negar que utilize o que possui ab initio?
Depois, não achas hipócrita não chamar as coisas pelos nomes? Quem morreu afogado, independentemente das razões, não pôde chegar a bom porto e é náufrago…quem se matou com uma overdose, por razões próprias que só a si disseram respeito, porque não lhe chamar um consumidor de drogas?
Esta falta de naturalidade em relação ao juízo das condutas humanas por medo de represálias para além da morte, é perfeitamente disparatada.
Hoje fico-me por aqui, mas quero voltar a abordar-te o tema do caminho para uma vida terrena feliz, desempoeirada e completa, pois a morte fecha um ciclo que não tem continuidade: cinza, pó e nada!
Lembras-te que os teus Avós maternos, apesar de gostarem muito um do outro, discutiam um bom bocado pois o teu Avô era autoritário, exigente e perfeccionista e a tua Avó muito mais dócil, resignada e tentando defender o equilíbrio do casal?
Pois ficas a saber que vivem como “Deus e os anjos”, se me permites este tão terreno aforismo que aqui não se aplica, mas que te será elucidativo.
Portugal daqui a uns anos não será igual a hoje ou melhor ou pior: tu ou outros que te sobrevivam não alteram o “curso das estrelas”, e se conseguires perceber como a aprovação ou não do orçamento é uma minudência comparada com o Universo, bem podes dormir sossegado e deixar a mente ocupar-se com pensamentos mais elevados.
Teu primo muito afeiçoado
Luis Bernardo
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
pouca coisa
São imagens esbatidas, meio apagadas,
como aquelas fotografias antigas e
enclausuradas em molduras de metal como
se fossem grades de uma prisão perpétua.
Ainda assim, conseguem manter a pose
permanecendo orgulhosamente silenciosas
e indiferentes ao relógio de pêndulo que
as fita num desdém insolente lá do canto
oposto da sala e cujos ponteiros há muito
que passaram a rodar no sentido contrário,
marcando as horas que já foram... são
rostos calados, com sorrisos forçados pela
urgência do momento, segurando
insistentemente um instante que as havia
de suspender no tempo, devolvendo-as à posteridade
domingo, 3 de outubro de 2010
O prazer de manusear um livro, de o abrir e fechar
Há alguns anos, li um artigo de opinião sobre o futuro da informação. Não me lembro do nome do autor, lembro-me muito bem do conteúdo, porque me impressionou bastante porque francamente ainda não tinha percebido o impacto da “revolução digital”.
Segundo o autor, o novo meio de difusão do conhecimento é mais barato, mais rápido e mais eficiente e portanto torna-se inevitável que a informação digital, em todas as suas formas, ultrapasse e suplante a informação impressa.
Era esta a tese.
O prazer de manusear um livro, de o abrir e fechar, ler devagarinho, saborear a nosso bel prazer... O conforto da leitura, que pode ser feita em todas as situações imagináveis e em todas as posições físicas possíveis... A posse dos livros, a estante cheia de tantos conhecimentos, tanto conforto, tanto prazer...
O prazer de manusear um livro, de o ler ao nosso ritmo... continuarão a existir bibliotecas e livros. Continuarão a fazer-se livros — como ainda se fazem pianos de cauda, colheres de pau e filigrana: por prazer, por arte.
Dito isto, há que acrescentar as desvantagens da informação impressa. Gasta papel, que gasta árvores, que fazem falta na natureza. O número de árvores destruídas para que as pessoas leiam todos os dias os jornais é arrasador. Milhares de milhões. O papel é impresso em máquinas que gastam toneladas de energia. Distribui-lo é lento, complicado e também gasta toneladas de energia. Guardá-lo é difícil, caro, perigoso até. Os produtos químicos usados para branquear o papel são corrosivos, maus.
O papel é uma catástrofe ecológica.
Depois, os livros são pesados e volumosos; um livro pode ser portátil, mas uma biblioteca é um pesadelo logístico. E o custo?
Podemos acrescentar, até, que são difíceis de esconder, em caso de perigo.
Não preciso de salientar como a informação digital resolve todos estes problemas de maneira mais racional e mais barata.
Isto para não falar na grande quantidade de livros e livrinhos disponíveis on-line, e portanto acessíveis em qualquer sítio, de graça, ou muito baratos. Agora, quem escreve pode ser lido em qualquer parte do mundo, e quem lê pode ir buscar o seu prazer de leitura ao outro lado do planeta.
Pois é, os livros provavelmente vão acabar. E os jornais também. Mas a escrita está mais viva do que nunca. E a crescer.
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
CONSELHOS DE UM APAIXONADO por Carlos Drummond de Andrade
Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida.
Se os olhares se cruzarem e, neste momento, houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu.
Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem d’água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.
Se o 1º e o último pensamento do seu dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Algo do céu te mandou um presente divino : O AMOR.
Se um dia tiverem que pedir perdão um ao outro por algum motivo e, em troca, receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos e os gestos valerem mais que mil palavras, entregue-se: vocês foram feitos um para o outro.
Se por algum motivo você estiver triste, se a vida te deu uma rasteira e a outra pessoa sofrer o seu sofrimento, chorar as suas lágrimas e enxugá-las com ternura, que coisa maravilhosa: você poderá contar com ela em qualquer momento de sua vida.
Se você conseguir, em pensamento, sentir o cheiro da pessoa como se ela estivesse ali do seu lado...
Se você achar a pessoa maravilhosamente linda, mesmo ela estando de pijamas velhos, chinelos de dedo e cabelos emaranhados...
Se você não consegue trabalhar direito o dia todo, ansioso pelo encontro que está marcado para a noite...
Se você não consegue imaginar, de maneira nenhuma, um futuro sem a pessoa ao seu lado...
Se você tiver a certeza que vai ver a outra envelhecendo e, mesmo assim, tiver a convicção que vai continuar sendo louco por ela...
Se você preferir fechar os olhos, antes de ver a outra partindo: é o amor que chegou na sua vida.
Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes na vida, mas poucas amam ou encontram um amor verdadeiro.
Às vezes encontram e, por não prestarem atenção nesses sinais, deixam o amor passar, sem deixá-lo acontecer verdadeiramente. É o livre-arbítrio.
Por isso, preste atenção aos sinais.
Não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: O AMOR !!!
Carlos Drummond de Andrade
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