O PENINHA FOI LEMBRADO PARA O NOVO GOVERNO
O Peninha conhece um adjunto de uma secretária de um consultor de um adjunto de um Secretário de Estado.
Lembrou-se logo, mal viu que as coisas estavam a correr mal para o Ministro da Defesa, prevendo-se que se viria a demitir, que finalmente uma oportunidade surgiria de poder usar calças de riscas de fazenda, um casaco preto assertoado e chapéu como no tempo do Dr. Salazar.
Sabia que uma das mordomias era ter chófer e carro e era garantido que iria sempre no banco detrás e obrigaria o chófer a que lhe viesse abrir a porta sempre que tivesse que sair para qualquer reunião ou evento.
Mexeu os cordelinhos e percebeu que a remodelação ia ser mais vasta e apresentou-se no Palácio Praia ( sede do PS) de fato comprado na loja da fábrica da Covilhã, à rua dos Fanqueiros, sapatos de bico comprido da sapataria Cotrim ( de uns Cotrins de Alpendurada que sem dinheiro tinham acabado em sapateiros), com uma gravata de couro preto fininho adquirida com a camisa roxa numa feira de ciganos na Ameixoeira e com um emblema do PS na lapela.
O porteiro do Largo do Rato, perguntou-lhe ao que vinha. Peninha respondeu-lhe que vinha saber se havia algum lugar para ele no futuro Governo e que queria falar com alguém próximo do PM.
Mandaram-no entrar e subir ao 3º andar aonde com grande espanto, numa mansarda esconsa, se encontrava o PM reunido em segredo com alguns camaradas a discutir a remodelação.
De todos quem ele logo reconheceu foi o Gambas ou Galambas ou lá o que era, pois na penumbra o brinco à Ronaldo na orelha brilhava em todo o seu esplendor.
Cumprimentou o PM e disse “tchau” numa de geral e responderam todos igualmente por “tchau”.
Sentou-se perto do Gambas e viu-o nervoso pois não falavam muito dele para os tachos a distribuir. De repente sente uma mão suada na sua – era a do Gambas – a pedir-lhe baixinho: - dá-me apoio, caraças!
Peninha levanta-se e diz com um ar formal: - Sr. PM o Gambas merece um cargo no novo Governo pois eu quero que em troca do meu apoio ele me nomeie também para alguma função relevante ligada ao Estado.
Ficou tudo perplexo, mas o que aconteceu foi que no fundo o Peninha chamou a atenção para o Gambas que acabou em Secretário de Estado.
À saída ao agradecer-lhe logo lhe prometeu um cargo de importância vital que era o arquivo morto de que seria responsável. Peninha ficou de orelha murcha e ainda tentou perguntar se teria carro e chófer e quais as outras mordomias, do tipo gold card sem limite para os almoços, e gasolina de borla etc
O Gambas virou-se para ele, já com um ar superior e importante e respondeu-lhe:
- Quanto a transportes estamos conversados; vem de metro e nos dias de greve vem a pé. Tem uma cantina do ministério aonde pode almoçar por € 3, 25 e não é nada má. Boa-vontade e trabalho e o salário mínimo.
Peninha ficou desolado mas passou pela papelaria do partido e mandou fazer uns 500 bilhetes de visita aonde por baixo nome pôs: Director do Arquivo morto.
Quando voltou a casa deu uma quécada valente na Soraya que o achou revitalizado.
Ela perguntou-lhe: - Môr foste muito quente hoje. O que se passou durante o dia? Foste para o Governo afinal?
Peninha, com orgulho, deu-lhe o primeiro bilhete de visita com as novas funções e ela, esperta e experimentada como era, perguntou-lhe:
- Mas é só o Arquivo que é morto, não é môr? A pensar, é claro, na fogosidade da noite.
E assim se prova como o Peninha conquistou os galões de uma relevante figura política do nosso país.
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