PENINHA E AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS
Todas as manhãs, a primeira coisa que Peninha faz logo que sai da cama é consultar no jornal o programa das campanhas eleitorais de cada candidato.
Gosta de ser visto com cada presidencialista não vá o diabo tecê-las e vir a precisar de algum emprego, cunha ou simples prazer de aparecer.
Conforme a cor do movimento assim se veste: para o Edgar vai sempre de fato completo, bela gravata de seda e sapatos de camurça. É conveniente que a sua comitiva constate que há capitalistas que o apoiam. Leva sempre na lapela a cruz de Cristo, uma vez que ele é despadrado. Cumprimenta com alguma altivez à esquerda e à direita no meio dos poucos populares das arruadas e quando chega ao pé do mandatário, estica-lhe o pescoço e diz baixinho: Peninha de Roboredo e Silva, às ordens! Acha que ter acrescentado o Silva dá ares de parente do Edgar.
Já lhe perguntaram: - é o Sr.Dr.? Ele respondeu que sim, não sabendo bem a quem se referem, mas convém sempre dar um ar de conhecedor.
Hoje vai visitar a campanha de Maria de Belém. Verificou que foi adiada em forma de respeito pela morte do grande mação Almeida Santos. Peninha está perfeitamente convencido que deu um jeitão à Drª poder ter uma desculpa para não comparecer esta noite ao debate. Todos sabem porquê, normalmente para não ter que aturar Sampaio da Nóvoa, nem já é Marcelo! Peninha vestiu-se de fato de “ronco” ou seja de preto retinto, de bom pano, gravata preta e camisa branca que faça ressaltar o luto, e calçou uns sapatos de verniz preto. De luvas de pelica preta nas mãos e um chapéu mole de feltro: um verdadeiro e choroso cangalheiro, carpideiro, e beliscando as bochechas deu-lhes cor, com vestígios de lágrimas sinceras.
Lá chegado, depositou um cartão-de-visita que dobrou no canto superior – nunca percebeu para e porquê e desconfiou que são maneiras de gente pífia – que dizia : sentidos e cordiais pêsames. Desta vez usou para seu nome o de Peninha de Almeida Silva e Santos. Sempre deixou um intervalo entre os apelidos do defunto, dando uma ar de vago parentesco.
Não estava lá Maria de Belém que ouviu dizer, almoçava na “Parreirinha do Rato” uma cabeça de pescada. Dirigiu-se a um funcionário que regava as plantas de uns vasos da varanda que dava sobre o Largo do Rato e perguntou-lhe:
- Está cá alguém?
- Ora essa! – respondeu o dito que de ofendido continuou – e eu sou quem? Uma sombra? O senhor quem é?
Peninha declinou o seu nome e acrescentou: - um parente afastado do defunto! – e rebolando os olhos demonstrou um ar de pena.
- Pois olhe deve estar enganado, é na Estrela aonde o camarada Santos vai estar a partir das 17h.
Peninha ficou maçado, pois no meio de tanta gente passaria despercebido e ainda tentou de novo:
- A que horas regressa a Drª do almoço? Ou talvez eu possa ir lá cumprimentá-la e apresentar-lhe as condolências!
- Nem pense nisso, ela saiu daqui toda contente por não ter que ir ao debate desta noite, não vá lá escangalhar-lhe o almoço com os amigos da campanha. Deixe aí o que quiser e eu entrego depois à secretária da Drª.!
Peninha saiu descorçoado, jurando a si mesmo que nesta não votaria e voltou a casa, pois tinha que se mudar para ir à sede do MRS.
Pensou: vou de jeans, de sapatos à associativo e de tee-shirt com um pullover de tricot e um gorro ou será que tenho que ir de fato-de-treino? O gajo tem a mania do exercício e eu quero agradar e impressionar pois tudo indica que pode vir a ser o vencedor. Assim foi e partiu lépido para chegar a tempo de apanhar algum graúdo a quem pudesse entregar uma singela mensagem que tinha escrito num papel com o nome timbrado: Peninha de Souza ( com z é mais fino e ele deve gostar que lhe incense o ego, apesar do lado de Celorico de Basto ser muito povão, e dele que tanto gosta e puxa-lhe para baixo; ontem no almoço dos lojistas até falou do avô comerciante).
Peninha ainda pensou em acrescentar: Com os meus cumprimentos solidários. Do Colega mestre Peninha, bem sabia que professor é mais importante, mas sempre fora chamado de mestre alfaiate. Deixou-se destes detalhes e assim tomou um transporte público…achou que calharia ser visto chegar de autocarro, tanto mais que o MRS conduz ele próprio o seu carro…mutatis mutandis…esta foi uma expressão que aprendera com um seu cliente que tendo sido sacerdote, tinha saído para se casar e ao fazer os fatos sempre lhe citava umas frases em latim..”sr. Peninha, veja se me copia este modelo de tecido da Vogue, mutatis mutandis para esta flanela da Covilhã)!
MRS vinha a sair e o Peninha: “ Ò meu rico Professor, Professor espere aí!
Marcelo parou e deixou que Peninha se aproximasse e sorridente perguntou: - aposto que é o jornaleiro da casa dos meus pais. Lembro-me de si, apesar de estar mais velho. Ia todos dias levar o Diário da Manhã lá a casa!
Peninha estacou entre ofendido e desolado: - Gostaria de lhe entregar uma pequena mensagem de apoio!
MRS, piscou-lhe o olho e disse: - Obrigado pela generosidade, apesar de uma campanha modesta, o dinheiro faz sempre falta. E desandou.
Peninha foi comer uma sandocha na leitaria por debaixo do seu apartamento. No Café Lizette, estava-se sempre a par de tudo. Ainda ia hoje ao Sampaio da Nóvoa.
Haveria de lhe deixar um bilhete em que assinaria – Peninha Sampayo das Novas de Alencar e Silva.
Ouvira dizer que era muito vaidoso e pretendia passar por ser muito simples, sempre com frases delicodoces. Achava-o um panconha e não lhe vaticinava grande sucesso. Lá teria de ir vestido de blazer e calças cinzentas e gravata garrida, não fosse estar lá a televisão. Dizem que pedem sempre cores vivas para o contraste na tela!
De súbito, quando se preparava para sair recebeu uma chamada de Belém! Era do Presidente Cavaco e o Chefe de Gabinete perguntou-lhe se estava livre para no dia seguinte receber uma condecoração no fim do mandato do Sr. Presidente e que seria ao mesmo tempo do que o Tony Carreira.
Peninha sentou-se sem fôlego e só lhe saía: - É merecido, é merecido!
Todas as manhãs, a primeira coisa que Peninha faz logo que sai da cama é consultar no jornal o programa das campanhas eleitorais de cada candidato.
Gosta de ser visto com cada presidencialista não vá o diabo tecê-las e vir a precisar de algum emprego, cunha ou simples prazer de aparecer.
Conforme a cor do movimento assim se veste: para o Edgar vai sempre de fato completo, bela gravata de seda e sapatos de camurça. É conveniente que a sua comitiva constate que há capitalistas que o apoiam. Leva sempre na lapela a cruz de Cristo, uma vez que ele é despadrado. Cumprimenta com alguma altivez à esquerda e à direita no meio dos poucos populares das arruadas e quando chega ao pé do mandatário, estica-lhe o pescoço e diz baixinho: Peninha de Roboredo e Silva, às ordens! Acha que ter acrescentado o Silva dá ares de parente do Edgar.
Já lhe perguntaram: - é o Sr.Dr.? Ele respondeu que sim, não sabendo bem a quem se referem, mas convém sempre dar um ar de conhecedor.
Hoje vai visitar a campanha de Maria de Belém. Verificou que foi adiada em forma de respeito pela morte do grande mação Almeida Santos. Peninha está perfeitamente convencido que deu um jeitão à Drª poder ter uma desculpa para não comparecer esta noite ao debate. Todos sabem porquê, normalmente para não ter que aturar Sampaio da Nóvoa, nem já é Marcelo! Peninha vestiu-se de fato de “ronco” ou seja de preto retinto, de bom pano, gravata preta e camisa branca que faça ressaltar o luto, e calçou uns sapatos de verniz preto. De luvas de pelica preta nas mãos e um chapéu mole de feltro: um verdadeiro e choroso cangalheiro, carpideiro, e beliscando as bochechas deu-lhes cor, com vestígios de lágrimas sinceras.
Lá chegado, depositou um cartão-de-visita que dobrou no canto superior – nunca percebeu para e porquê e desconfiou que são maneiras de gente pífia – que dizia : sentidos e cordiais pêsames. Desta vez usou para seu nome o de Peninha de Almeida Silva e Santos. Sempre deixou um intervalo entre os apelidos do defunto, dando uma ar de vago parentesco.
Não estava lá Maria de Belém que ouviu dizer, almoçava na “Parreirinha do Rato” uma cabeça de pescada. Dirigiu-se a um funcionário que regava as plantas de uns vasos da varanda que dava sobre o Largo do Rato e perguntou-lhe:
- Está cá alguém?
- Ora essa! – respondeu o dito que de ofendido continuou – e eu sou quem? Uma sombra? O senhor quem é?
Peninha declinou o seu nome e acrescentou: - um parente afastado do defunto! – e rebolando os olhos demonstrou um ar de pena.
- Pois olhe deve estar enganado, é na Estrela aonde o camarada Santos vai estar a partir das 17h.
Peninha ficou maçado, pois no meio de tanta gente passaria despercebido e ainda tentou de novo:
- A que horas regressa a Drª do almoço? Ou talvez eu possa ir lá cumprimentá-la e apresentar-lhe as condolências!
- Nem pense nisso, ela saiu daqui toda contente por não ter que ir ao debate desta noite, não vá lá escangalhar-lhe o almoço com os amigos da campanha. Deixe aí o que quiser e eu entrego depois à secretária da Drª.!
Peninha saiu descorçoado, jurando a si mesmo que nesta não votaria e voltou a casa, pois tinha que se mudar para ir à sede do MRS.
Pensou: vou de jeans, de sapatos à associativo e de tee-shirt com um pullover de tricot e um gorro ou será que tenho que ir de fato-de-treino? O gajo tem a mania do exercício e eu quero agradar e impressionar pois tudo indica que pode vir a ser o vencedor. Assim foi e partiu lépido para chegar a tempo de apanhar algum graúdo a quem pudesse entregar uma singela mensagem que tinha escrito num papel com o nome timbrado: Peninha de Souza ( com z é mais fino e ele deve gostar que lhe incense o ego, apesar do lado de Celorico de Basto ser muito povão, e dele que tanto gosta e puxa-lhe para baixo; ontem no almoço dos lojistas até falou do avô comerciante).
Peninha ainda pensou em acrescentar: Com os meus cumprimentos solidários. Do Colega mestre Peninha, bem sabia que professor é mais importante, mas sempre fora chamado de mestre alfaiate. Deixou-se destes detalhes e assim tomou um transporte público…achou que calharia ser visto chegar de autocarro, tanto mais que o MRS conduz ele próprio o seu carro…mutatis mutandis…esta foi uma expressão que aprendera com um seu cliente que tendo sido sacerdote, tinha saído para se casar e ao fazer os fatos sempre lhe citava umas frases em latim..”sr. Peninha, veja se me copia este modelo de tecido da Vogue, mutatis mutandis para esta flanela da Covilhã)!
MRS vinha a sair e o Peninha: “ Ò meu rico Professor, Professor espere aí!
Marcelo parou e deixou que Peninha se aproximasse e sorridente perguntou: - aposto que é o jornaleiro da casa dos meus pais. Lembro-me de si, apesar de estar mais velho. Ia todos dias levar o Diário da Manhã lá a casa!
Peninha estacou entre ofendido e desolado: - Gostaria de lhe entregar uma pequena mensagem de apoio!
MRS, piscou-lhe o olho e disse: - Obrigado pela generosidade, apesar de uma campanha modesta, o dinheiro faz sempre falta. E desandou.
Peninha foi comer uma sandocha na leitaria por debaixo do seu apartamento. No Café Lizette, estava-se sempre a par de tudo. Ainda ia hoje ao Sampaio da Nóvoa.
Haveria de lhe deixar um bilhete em que assinaria – Peninha Sampayo das Novas de Alencar e Silva.
Ouvira dizer que era muito vaidoso e pretendia passar por ser muito simples, sempre com frases delicodoces. Achava-o um panconha e não lhe vaticinava grande sucesso. Lá teria de ir vestido de blazer e calças cinzentas e gravata garrida, não fosse estar lá a televisão. Dizem que pedem sempre cores vivas para o contraste na tela!
De súbito, quando se preparava para sair recebeu uma chamada de Belém! Era do Presidente Cavaco e o Chefe de Gabinete perguntou-lhe se estava livre para no dia seguinte receber uma condecoração no fim do mandato do Sr. Presidente e que seria ao mesmo tempo do que o Tony Carreira.
Peninha sentou-se sem fôlego e só lhe saía: - É merecido, é merecido!
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