sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Papa Francisco e os homossexuais, divorciados e adopção e casamento - Carta do meu primo Luís Bernardo



Meu Querido Manuel,

O Papa Francisco está a fazer um papel muito importante para a Igreja.

Deixa-me começar por te dizer o que sabemos aqui pelos recém-chegados, novos e velhos. As religiões passam por uma crise de fiéis, sejam elas quais forem.

Os princípios rígidos que as estabeleceram, falam de outros tempos, de simbologias antigas e de regras de comportamento que nada têm a ver com a realidade ou com Deus, Yavé ou os ensinamentos do Profeta, bem como de Calvino ou as 95 teses de Martinho Lutero.

Se quiseres ser honesto na análise cuidada dos textos bíblicos verás que o que lá se relata, é como que uma narração histórica do percurso do povo judeu e das medidas “administrativas” que se foram tomando para o cumprimento de um desiderato: a Terra Prometida.

Por isso com o aparecimento dos Evangelhos que já se sabe desde há muito não serem escritos pelos próprios Apóstolos, mas 50 ou 60 anos depois das suas mortes, e com contradições ou omissões entre as versões de cada um, vão estas actualizações criando nuns, interesse em aprofundar com recta intenção ou não estes desafios e noutros um cada vez maior afastamento da Fé.

Nas outras religiões e nomeadamente nas mais ortodoxas ou radicais, os princípios estão subvertidos e a prática desprestigia os fundadores.

Por isso, o Papa Francisco tem uma missão extraordinariamente relevante em querer reduzir ao essencial a mensagem de Cristo e os ensinamentos da Igreja para os crentes e quiçá entusiasmar quem de boa-fé queira aderir, valorizarando a conduta humana, na prática do amor verdadeiro, no consolo dos pobres e dos mais desfavorecidos, dos abandonados, dos presos, dos doentes, em suma de todos quantos precisam de solidariedade e atenção. E é crítico e firme e consegue com uma enorme doçura entusiasmar multidões, precisamente àqueles a quem ele visita e se importa.

Naturalmente esta atitude, torna-se incómoda para quem é arrogante, senhor das suas certezas imutáveis quanto à prática da Fé criticando a própria Igreja , hipócrita, comodista, egoísta e ignorante e pior ainda, fazendo o contrário do que apregoa.

Também tu, pelo que me tens dito, entusiasta desde o primeiro dia deste Papa, sentes-te mais perto da Igreja a que pertences por testemunhar o renascer da tolerância, do perdão, da inteligência na interpretação de princípios arcaicos e enraizados, do afastamento do medo, do pecado e tudo isto em detrimento do que mais importa e que são verdadeiramente os princípios humanos pois não vives em Plutão: o exercício do amor ao próximo e uma simplicidade de vida moral baseada na decência de actuação na sociedade civil, do ambiente de paz entre as famílias que é sem sombra de dúvida o pilar da construção de um mundo melhor, a harmonia interior por se saber que se não tem pela frente condenações a fogos perpétuos nem a castração da natureza humana é o que os deve mover. Haveria tanto a dizer-te.

Por outro lado o Papa Francisco neste seu mister de acolhimento, de uma forma lúcida e humana decidiu olhar para várias situações que levam a uma forma de ser e de convivência distinta daquelas que tradicionalmente se foram implantando ao longo dos séculos, em paralelo com as actuais, mas com menos visibilidade ou mais reprimidas.

Estou a falar-te da homossexualidade masculina e feminina, dos casais divorciados pela lei civil, das novas famílias gays ou lésbicas, da adopção por estes, de filhos e finalmente pela sua união pela do vínculo do casamento civil.

Dizias-me que quando nas aulas de religião alguém levantava muito a medo o tema da homossexualidade, havia esta resposta que calava muitos: quem assim é, sob o ponto de vista científico está provado que já nasce gay ou é bissexual ou heterossexual (veio a ciência muitos anos mais tarde a confirmar esta tese) e sob o ponto de vista religioso e da moral, perguntavam os professores com incisão:- então não foi Deus que criou o Homem e a Mulher como nos diz a Bíblia e os Evangelhos e prega a Igreja? Porque será então que deixa que haja uma percentagem de gays e de pessoas com outras orientações sexuais? Como pode ser pecado, se tudo a Ele se deve?

Esta versão de aproximação à resignação e aceitação de uma decisão divina indiscutível, parecia que fazia sentido.

Por isso o Papa Francisco, é prudente e isento quanto ao julgamento definitivo e absoluto sobre a imoralidade cristã dos gays e lésbicas. Pura e simplesmente aceita-os como são e acha que não os deve afastar da frequência da Igreja, assim como em pé de igualdade com os esquimós, ou os pele-vermelhas ou portugueses ou espanhóis, etc..

É um non-issue ou seja a sua exclusão não deve ser tema de discussão. Compete a cada um escolher a pertença ou não a um acervo de princípios que forma um corpo institucional chamado Igreja. Não se força.

Quanto aos casais divorciados, a atitude gritante e injusta da Igreja até agora, é perfeitamente incompreensível.

A alguém que se divorcia, não basta já a dor, o sofrimento, o abandono, a desilusão, o desfazer de planos e sonhos que se idealizaram e ao procurar novo parceiro/a não é uma busca, tantas vezes vã de um recomeço?

Se a frequência dos Sacramentos for procurada e autorizada pela Igreja, é aceitável a tese estulta de que se está a promover o divórcio para se poder depois ir comungar, entre outros exemplos possíveis? E os outros cristãos da comunidade, tantas vezes sepulcros caiados de branco, têm alguma autoridade para se julgarem melhores? 

São argumentos bafientos, odiosos, castradores da beleza já de si tão complicada de aceitar e acreditar nos Mistérios.

Finalmente a adopção e o casamento de gays e lésbicas: é um tema do foro civil e de cada pessoa. Explico: há estatísticas de casais felizes e normais versus infelizes ou anormais, pela vezes que dão as mãos na rua, que se beijam na boca, que fazem sexo, que gritam entre eles ou se tratam mal, ou se são estúpidos e incompetentes ou efeminados ou machões, etc???…entramos num campo em que todos sabemos que se têm enormes surpresas quanto à taxa da felicidade dita e apregoada, se soubermos inclusive definir o que ela é!

É assunto do direito civil de cada país, que em sendo democrático, as decisões resultam de maiorias mais ou menos responsáveis, como sabemos, pois nunca há o lado dos que têm razão e dos que não têm. Mas isso é outro tema.

Em conclusão, ninguém obriga ninguém a aceitar ou discordar, a não ser a lei de cada país e para os que querem.

Tens assim a posição que aqui recolhi. Claro que o Sínodo está a ser acompanhado com todo o interesse e o Papa será um pioneiro.

É também importante que as mudanças se façam no momento certo e sem grandes turbulências.

Meu Caríssimo Manuel, tanto mais que te poderia dizer mas dedica-te sobretudo a ser bom para os outros e simples e a seguir este caminho que o Papa Francisco está a traçar, precisando de ti e de todos quantos tenham um coração livre e aberto aos outros.

Teu muito afeiçoado primo

Luís Bernardo

Sem comentários:

Enviar um comentário