quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Os Palhaços

Os Palhaços

Ruggero Leoncavallo nasceu em Nápoles na Itália. Filho de um magistrado, Leoncavallo foi uma criança talentosa: aos nove anos foi aceite como estudante de piano e composição no Conservatório de Música de Nápoles e aos dezoito anos já tinha começado a trabalhar na sua primeira ópera Chatterto.

Para esta, ele havia organizado uma primeira produção em Bolonha, mas um empresário sem escrúpulos abandonou o jovem compositor justamente antes da estreia. Sem dinheiro e desencorajado, Leoncavallo teve que ganhar a vida a ensinar piano e canto, e a tocar em cafés-concerto.

O projecto lírico seguinte de Leoncavallo foi I Medici, a primeira parte de uma ambiciosa trilogia de obras, baseada em eventos da Renascença Italiana. O famoso e poderoso editor musical Ricordi não se interessou pelo trabalho, e talvez como resultado do desespero, Leoncavallo escreve Pagliacci em1892, imitando o realismo vívido da imensamente bem-sucedida Cavalleria Rusticana, de Pietro Mascagni.

Pagliacci foi um triunfo e tornou Leoncavallo famoso da noite para o dia. Infelizmente, como Mascagni, ele nunca foi capaz de duplicar seu sucesso.

Leoncavallo produziu várias outras óperas até 1919, ano da sua morte, mas somente Pagliacci é regularmente executada e quase sempre no mesmo programa com a Cavalleria Rusticana de Mascagni.

Passa-se numa praça de uma vila da Calábria, província do extremo sul da Itália. A época é o final da década de 1860. Toda a acção da ópera acontece entre as 3 horas da tarde e meia-noite de 15 de Agosto, durante a Festa da Assunção da Virgem. Como parte da celebração, uma trupe provincial de actores ambulantes veio para a cidade para representar. Eles já tinham estado na aldeia antes e os aldeões conhecem-nos.

Durante o Prelúdio, e ainda com as cortinas fechadas e o cenário por revelar, Tonio dá um passo em frente e apresenta-se como "O Prólogo".

Na tradição da arte da comédia, o Prólogo diz ao público para não se preocupar se houver uma tragédia no palco, porque, apesar de tudo, é somente uma peça e não a vida real. No entanto Tonio traz-nos uma mensagem muito diferente:

- Senhoras e Senhores! Na peça que estão prestes a assistir, o autor quer capturar as velhas tradições e mostrá-las novamente. Mas ao contrário do que estão á espera, ele não pretende mostrar-vos a ficção. Não! Este autor que mostrar-lhes um verdadeiro pedaço de vida. A verdade foi sua inspiração. Verão o amor como o povo real ama. Verão os trágicos resultados do ódio e espasmos da dor real. Escutarão gritos de raiva verdadeira e risos cínicos.

Assim nesta ópera temos a história típica da mulher obrigada a viver com o homem que não ama resignada por isso a ter que amar às escondidas.

Sou um fã da ária “Vesti la Giubba” e assisti em Milão à actuação inesquecível de Pavarotti no papel de Canio e vibrei com a sua tristeza e amargura. Muito intenso!


Tantas vezes na nossa vida esta tristeza pela perda do amor de alguém, nos faz sentir destroçados e desesperados e há como que um flagelamento pela incapacidade de termos conseguido prender o ser amado.

A importância da figura do palhaço não é tanto pela roupagem e a cara pintada, mas mais pela duplicidade dos sentimentos: por fora as pantominas e as gargalhadas, por dentro o sofrimento e a amargura.

O teatro da vida foi sempre uma actuação preferida dos inteligentes: um desempregado ou um cornudo dificilmente confessam a sua situação.

Continuam a representar como se de nada se tratasse pois sabem que se forem sinceros são relegados para o desprezo, para o olvídio e perdem o seu “status” de pessoas credíveis e respeitáveis, por mais cavalgaduras ou cornos que sejam!

E talvez a confissão da verdade seja o caminho mais longo a percorrer para o restabelecimento do equilíbrio e de alguma felicidade: no entanto, a verdade é como é.

Todavia, há sempre um recomeçar e o riso do palhaço nesta ária é magnífico, profundo e retemperador!

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