Tenho à minha frente uma
entrevista de Helena André de 2010.
Nesta conversa com João Vieira
Pereira, João Silvestre e Rosa Pedroso Lima, a ministra socialista
contou uma história que ficou para sempre na minha pobre e vil cabeça:
no primeiro dia, Helena André chegou ao ministério às oito da manhã
pronta para começar a trabalhar mas só encontrou as empregadas da
limpeza, que, coitadas, abriram a boca de espanto.
Com o tempo, muita
gente começou a seguir o exemplo da ministra e aquela casa conseguiu,
pelo menos em parte, acabar com o pior hábito português: ficar a
trabalhar até tarde. Fala-se muito do nosso ritmo de trabalho,
supostamente mais lento do que o holandês ou alemão. Mas julgo que a
questão não está no ritmo, mas sim no horário de trabalho, que é sem
dúvida mais imbecil do que o alemão ou holandês.
Uma amiga, há dias, começou a trabalhar numa empresa
alemã aqui em Lisboa. Dando largas às manhas tugas, ela começou a bulir
até tarde. O horário de saída é às cinco, mas ela ficava até às seis ou
sete, até porque queria impressionar os chefes. No final da primeira
semana, o chefe chamou-a e disse: "olha, herr fofa, és despedida
se continuas a fazer isto, nós não te queremos se não consegues fazer o
teu trabalho até às cinco".
Eu senti esta crítica quando estive na
Alemanha: tinha de começar a trabalhar às 8. Não podia chegar às 8, já
tinha de estar sentado às 8. E repare-se que esta exigência não é apenas
um freio produtivo que domestica as pausas, as conversas, as bicas, os
cigarros, etc.
A exigência foi pensada, acima de tudo, para a vida
pós-laboral: se sai às quatro ou cinco da tarde, uma pessoa ainda tem
muito tempo para estar com os filhos. Aquele horário de trabalho
madrugador serve a família antes de servir a empresa.
E nós? Nós começamos a trabalhar às 9 e tal, 10
horas, almoçamos entre as 13 e as 14.30 e, claro, saímos estupidamente
tarde, cansados e sem tempo para crianças. É como se toda a gente
estivesse debaixo do horário das redacções. Pior: é como se a sociedade
estivesse organizada em redor do horário do solteirão.
Ai, mas o
trânsito torna difícil chegar a horas! Ai, mas os transportes! Lamento,
mas as empregadas da limpeza que a ministra conheceu às 8 da manhã
também têm de enfrentar o trânsito ou os transportes.
Como é que
conseguem? Vão para a cama mais cedo.
Mas, verdade seja dita, os
principais culpados não são os funcionários mas sim as chefias que não
seguem o exemplo de Helena André.
O chefe português gosta do solteirão
que fica até tarde, eh pá, sim senhor, ganda gajo, ganda entrega.
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