Era uma vez um menino com
a luz do sol nos olhos e um grande e rasgado sorriso.
Nem sempre, porém,
acordava bem-disposto. Havia mesmo dias que eram bem cinzentos.
Apetecia-lhe pôr a cabeça
debaixo de uma almofada, cobarde, sem querer olhar a realidade e enfrentar a
crueza da vida.
Fazer o que tinha como
deveres, cumprir as regras estipuladas era o pior dos sacrifícios. Os homens
das cavernas que ele vira desenhados numas grutas, eram de certeza mais
felizes.
Dormiam, comiam e
procriavam ah… e puxavam pelos cabelos das mulheres. Não sabia se era um gesto
de amor ou de posse ou uma pose familiar para o desenhador das cavernas.
Pensava, que maçada deve
ser não ter vontade para nada fazer e
passar as horas de olhar vago no horizonte, com a boca a saber a papel de
música.
Sempre se perguntara qual
é a beleza de um deserto, quente, tempestades de areia, silêncio…os profetas
comiam gafanhotos e rezavam…como conseguiam? Sim, como apetece? A solidão ao
extremo enlouquece e faz perder a noção da realidade…talvez tivessem
alucinações…
O menino, aterrorizado
com estes pensamentos, voltava a desejar por a cabeça debaixo, agora de um
almofadão, macio e de penas de pato.
Vale a pena ter a luz do
sol nos olhos e um bonito sorriso neste mundo tão enfadonho e pesado?
Um dia o menino passou a
ter escuridão no olhar e um esgar de dor pois o sol foi-se da sua vida.
Foi, como não podia
deixar de ser, o momento da sua morte.
Triste crónica de um D.
Sebastião, tão igual a tantos de nós.
In prosas bárbaras de Vicente Mais ou Menos de Souza
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