Recebi um ofício
em papel timbrado do Governo da Serra Leôa, convidando-me para visitar oficialmente
o país.
Vinha, porém,
numa nota de pé de página uma frase que me deixou abismado, ainda que
divertido: “ It is well understood that all costs, including travel, lodgement
and per diem allowance shall be borne by Your Excellency “ ( fica bem claro que
todas as despesas, incluindo as de viagem, alojamento e de alimentação serão suportadas
por V. Exª)!
Aqui estava eu,
Cônsul Geral em Portugal a ser convidado pelo Presidente Joseph Momoh e pelo Governo
a visitar a República da Serra Leôa, que eu representava em Portugal, à minha custa!
Eu era o único
representante diplomático no nosso país, pois a Embaixada, neste caso uma High
Commission, estava situada no Reino Unido, em Londres por ter sido, antes da
independência, membro da Commonwealth.
O High
Commissioner ou o equivalente a um Embaixador mas com mais amplas funções e de
maior importância era de quem eu dependia directamente e neste caso, por ser na
Côrte de Saint James, eram escolhidos antigos Ministros ou figuras de relevo no
país.
No convite, que
recebi através de nota diplomática via Ministério dos Negócios Estrangeiros,
vinha o desejo do Presidente Momoh trocar mensagens de cordialidade e de estreitamento
de relações com o Presidente de Portugal, que nessa altura era Mário Soares.
O “Exequatur” ou
seja a aprovação simultânea da minha nomeação para representante em Portugal
tinha sido assinado pelo Presidente Siaka Stevens (um dos mais prestigiados na
Serra Leôa), e ratificado pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros português, Jaime Gama e
assinado pelo Presidente Ramalho Eanes.
Desloquei-me a
Belém e tive uma audiência com o Presidente Soares a quem informei da minha
visita trocando impressões e falando da Serra Leôa, solicitando que me fosse remetida uma carta sua para entrega ao
Presidente Momoh.
Assim aconteceu mais tarde e
munido de todos os documentos oficiais, marquei a viagem via Londres através da
Sierra Leona Airlines, um verdadeiro risco, mas barata e directa a Freetown, a
capital.
Resolvi comprar
uma série de presentes para dar, respectivamente, ao Presidente Momoh, ao meu “patrão”
máximo, o Ministro dos Negócios Estrangeiros com quem tinha também uma
audiência, ao Ministro da Economia e Finanças com quem ia discutir
oportunidades de investimento multilaterais e mais alguns “recuerdos” de
reserva.
Dado que era eu
que tudo custeava, resolvi levar, para “encher o olho” e impressionar, imitação
de filigrana, e fui a uma loja de artesanato português e comprei para o Presidente
uma caravela quinhentista grande, para o Ministro dos Negócios Estrangeiros um
barril igualmente de tamanho significativo e para o das Finanças um baú com
fechadura….um horror tudo isto, mas completamente adequado para os
destinatários. Ainda adquiri mais umas pequenas bijuterias de corações minhotos
e brincos, não fosse ter que encantar alguma musa local!
Apesar de ser
dourado e bastante vistoso e não de ouro verdadeiro, a brincadeira ainda me
custou uma “nota”, mas enfim era por uma causa justa!
(continua)
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