Meu Caro Luís Bernardo,
Ando bem cansado e farto de tudo quanto se passa por aqui.
A vida no dia-a-dia é desmotivante, só se ouve falar de crise, sente-se na pele, sabe-se de pobreza, dificuldades, desemprego, saturação e um clima de infelicidade que se projecta nas casas e famílias de cada um.
Não se consegue ignorar o que nos rodeia pois não vivemos numa ilha solitária. O que aliás seria igualmente penoso pois sendo seres gregários, a maçada que seria vivermos no meio da solidão e do isolamento.
O que sugeres que eu faça?
Falo com gente e pedem-me para te fazer perguntas: lembro-me de em miúdo, ao ler a biografia dos Pastorinhos de Fátima, ficar impressionado quando se descrevia que havia muitos pedidos a Lúcia, que era quem “falava” com a Senhora mais brilhante do que o sol, para que mencionasse nomes e inquirisse sobre se estariam no céu.
Tudo tão estranho, Luís Bernardo! Quando me sinto mais distante de tudo, pergunto-me o que fazemos por cá?
O trabalho, o mérito, as vãs glórias, a política, a saúde ou a enfermidade, o amor ou desamor, a paixão, o desencanto, o dinheiro muito ou pouco, as viagens, o sono e a insónia, no fundo servem para quê?
Diz-me lá tu que já estás distante de tudo isto, o percurso de uma vida com todas as alegrias e dores, serve para quê?
Esquece agora o que dizem as religiões, e refiro-me a todas, com os seus dogmas e princípios, se conseguires subir acima das nuvens e pairares sereno e olhares para baixo vês o quê?
Valerá a pena?
Um abraço meio perdido mas afeiçoado do teu primo
Manuel
...que bela rentrée nesta carta ao seu primo Luís Bernardo... devia compilá-las. São uma delícia!!! Esta particularmente.
ResponderEliminarBeijinho, também eu a desejar experimentar uma rentrée efectiva, apesar, ou sobretudo, pela crise que enfrentamos e a que não podemos passar alheios!!! Pelo menos que se partilhe o que se vive... que se viva!!! Cada um à sua maneira!
BJ
Isabel
Queridas Isabel e Zilda, muito obrigado pelos vossos comentários. Cada dia é um dia e estou curioso em receber a resposta do meu primo. Ele é sempre pragmático e consolador, pode ser que me dê alguma solução a contento:)
EliminarQuando penso numa carta de rentrée, penso numa carta de intenções e de boas intenções. Como um projecto para a próxima época...
ResponderEliminarMeu caro Manuel, estou desiludida consigo... tão forte, tão capaz... tão cheio de imaginação e bom humor! Não se vai deixar acabrunhar neste mau ambiente cheio de nevoeiro. Daqui a pouco estará sol e todo aquele brilho que conhecíamos voltará. Só o brilho é que se tinha ido temporariamente, as coisas estiveram lá sempre, não é verdade? Como nós... Vamos continuar a funcionar, com o sorriso e o mais...