Meu Querido Manuel,
Li com muita atenção a tua carta. O que queres que te diga se tu sabes tão bem quanto eu, o que fazer.
Primeiro, é preciso encontrares paz em ti. Nada se consegue sem tranquilidade interior: fazendo uns exercícios de controlo lento e pausado da respiração, obriga-te a descomprimir.
Depois, é sempre bom lembrares-te de exercer a humildade e simplicidade nas coisas que fazes. Apaga-te um pouco e trabalha na sombra, com afinco e bravura para conseguires ser bem-sucedido: parece-me uma excelente terapia.
Em tempos de crise, todos têm problemas e por isso não será de espantar que apareças menos, pois cada um tenta sobreviver como pode e concentra os seus esforços nessa tarefa, tantas vezes difícil e dolorosa, para ultrapassar a incerteza quanto ao futuro e as penosidades do presente.
Em terceiro lugar, pensa menos em ti e nas tuas angústias e dedica-te mais aos outros, sobretudo a quem não tenha ninguém a quem recorrer. Às vezes, não precisas de sair de dentro da tua família. Há palavras de conforto, de presença mais assídua, de mudança de atitude que operam milagres e com a tua espontaneidade e percepção da realidade, um bom conselho vem sempre a propósito.
Sem sobranceria e com o desejo de acertar, nomeadamente, escutando e só no fim aconselhando. Não há cá sábios nem tu o és, por isso, tanto quanto me dizes, havendo por aí uma “troika”, é-o, porque se trabalha e abordam-se melhor os problemas em equipa, com vista a se encontrarem soluções. “It takes two to tango”!
Se visses daqui o que se passa aí, saberias que olhamos mais para a floresta do que para a árvore, ao contrário do usual. Por isso e como bem dizias, há que pairar acima das nuvens, neste caso das preocupações e aí avistarás prazenteiros prados verdejantes, rios e oceanos, a natureza na sua pujança magnífica.
Tem respeito pelo silêncio e pelas admiráveis lições do passado, daquele que vale a pena reter aonde se praticava a honra, os princípios sagrados da defesa dos mais fracos pelos mais fortes, e distrai-te, não te fixes em pontos de tormento moral e de cansaço dos outros.
Lê, passeia, conversa, estuda, trabalha e ocupa o teu tempo. Não há pior do que a ociosidade para o desequilíbrio do espírito.
E no fundo, exerce a bondade. É o mais importante.
Tenho visitado os teus Pais com frequência. Estão óptimos e entretidos com a organização de uma viagem por aqui: quem visitar, o que levar, como chegar a cada lugar e procurar estar com quem os convidou.
Nunca os tinha visto tão entusiasmados. A festa que deram a todos os antepassados e de que te dei notícia anteriormente, provocou nos que compareceram, uma chuva de convites para lhes retribuírem o gesto.
O teu Pai, sempre meticuloso e organizado, quer ter a certeza que a cada encontro familiar, conhecem tudo de todos para evitarem fazer “gaffes”. A tua Mãe, num desassossego, prepara-se para levar malões e diz com alguma razão que quando visitar o avoengo “El Cid, o Campeador”, não poderá ir da mesma maneira do que quando se encontrarem com o Avô Vasco (da Gama), bem entendido.
São “faits divers” que te conto para te distrair.
Quero ter boas notícias tuas na próxima carta. Cheer up!
Um afeiçoado e apertado abraço do teu primo
Luis Bernardo
Este seu primo é um cavalheiro, bastante sensato, e sempre nos vai dando noticias do seu Pai. O seu Pai ao que me lembro era muito bem humorado e não desperdiçava uma boa piada. Pelo visto mantem o seu estado de espírito
ResponderEliminarEm nome do meu Pai e do meu primo Luis Bernardo agradeço confundido com tão amáveis palavras:-)
EliminarBem-haja
Gostei Manuel.
ResponderEliminarConselhos... dos melhores.
Sentimentos... fraternis e carinhosos.
Notícias... fantásticas!
Esse céu é do melhor.... e incrivelmente ao alcance de todos.
Valha-nos essa esperança.
Sem brincar... gostei mesmo. Estas cartas são uma delícia, repito.
Beijinho, Isabel
Olá Isabel,
EliminarDe facto apetece arrajar uma agência de viagens, pelo menos para já, que organize umas excursões temporárias, a tal destino. Seria um sucesso!
Hei-de consultar o Luis Bernardo, talvez ele queira ser meu sócio. Cada um em seu lado, mas eu trago o "mercado" e ele o programa...parece-me fair:-)
Um beijinho