O Peninha veio-me com lamúrias de que tinha saudades do pai, que estava cinzento o dia e que ele quando chegava a casa ouvia o vizinho com a Cavalaria Rusticana aos berros e ainda por cima tentando acompanhar a música, sem acertar uma só vez com o Caruso, mas que se recordava do pai a dizer-lhe:
- Peninha, isto é que é voz!
Uma vez tentou perguntar: - Quem a do Caruso?
– Não, filho, a do sr. Azevedo, ele tocou ferrinhos na orquestra da Junta e afinou a voz.
Que tinha ido à casa dos pneus e se tinha lembrado, de repente, daquela viagem que tinha feito em pequeno, no carro do pai, um boca de sapo, que súbitamente nas curvas da estrada da Beira, desatou a ir para cima e para baixo, coisas de hidráulica!
Claro está que rebentaram não um, mas os quatro pneus, à noite junto da
ponte para Penacova. Lá foram a pé todos, o pai dele a única coisa que
dizia era: - Deus queira que a taberna esteja aberta..tenho cá uma fome
das bifanas, dos pastéis de bacalhau e do copo de três…
A mãe dele, dizia aflita…- mas ó filho e os pneus, a esta hora aonde encontraremos algum mecânico aberto e uma loja para comprar, ainda por cima, logo os quatros pneus? Lá se vão as poupanças nas arrecadas em ouro que herdei da minha madrinha!
Acabaram por ficar 8 dias em Penacova na pensão Gonçalves, cujo dono, o Leonel, de alcunha o Gonçalves (nunca ninguém soube a razão deste apelido) tinha andado na tropa com o pai do Peninha. A verdade é que ambos tinham sido dispensados do serviço militar por total inutilidade para a Nação, mas foram camaradas no quartel em Abrantes.
Grandes pândegas todos os 8 dias, almoços até tarde bem regados e copiosos e ao jantar novas pançadas e muito vinho, do tinto, da região.
A mãe e o Peninha passaram os dias a visitar oragos, capelas e sítios de devoção acompanhados pela dª.Ondina, que era a esposa do Leonel, dito o Gonçalves.
Mulher de muita piedade, tinha como único consolo dedicar-se à oração.
Perguntei ao Peninha: - ouve lá, o que é que esta viagem tem assim de tão extraordinário para te fazer lembrar o teu pai?
- Os pneus, dizia sem parar, os pneus…e até hoje….
In " Prosas várias" de Vicente Mais ou Menos de Souza
A mãe dele, dizia aflita…- mas ó filho e os pneus, a esta hora aonde encontraremos algum mecânico aberto e uma loja para comprar, ainda por cima, logo os quatros pneus? Lá se vão as poupanças nas arrecadas em ouro que herdei da minha madrinha!
Acabaram por ficar 8 dias em Penacova na pensão Gonçalves, cujo dono, o Leonel, de alcunha o Gonçalves (nunca ninguém soube a razão deste apelido) tinha andado na tropa com o pai do Peninha. A verdade é que ambos tinham sido dispensados do serviço militar por total inutilidade para a Nação, mas foram camaradas no quartel em Abrantes.
Grandes pândegas todos os 8 dias, almoços até tarde bem regados e copiosos e ao jantar novas pançadas e muito vinho, do tinto, da região.
A mãe e o Peninha passaram os dias a visitar oragos, capelas e sítios de devoção acompanhados pela dª.Ondina, que era a esposa do Leonel, dito o Gonçalves.
Mulher de muita piedade, tinha como único consolo dedicar-se à oração.
Perguntei ao Peninha: - ouve lá, o que é que esta viagem tem assim de tão extraordinário para te fazer lembrar o teu pai?
- Os pneus, dizia sem parar, os pneus…e até hoje….
In " Prosas várias" de Vicente Mais ou Menos de Souza
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