segunda-feira, 28 de setembro de 2015

A viagem do Papa Francisco aos USA

 

Acompanhei bastante a estadia do Papa nos USA e assisti através da CNN, que esteve sempre on-line e transmitiu em permanência TUDO, o que é de pasmar, e eis, assim, as minhas primeiras impressões:

a) foi pessoal e pastoralmente um êxito enorme, que excedeu tudo quanto se esperava e o próprio Vaticano esperaria. Muito bem preparada a visita, com as estruturas locais no seu melhor e em todas cidades aonde esteve;
b) o povo americano e nomeadamente os emigrantes, deram provas de grande entusiasmo, carinho e de genuinidade para com o Papa;
c) o Presidente e o establishment foram igualmente impecáveis no seu todo, excepto algum radical conservador que chegou a ser mal-criado para o Papa dizendo que não era bem-vindo à América, tendo sido de imediato corrigido pelo Partido Republicano;
d) o Episcopado americano rendeu-se ao Papa, tendo o seu grande opositor sido nomeado para ir para Roma, para ser o Capelão ad Honorem da Ordem de Malta!

Quanto ao Papa:

a) vinha cansado de Cuba aonde já tinha tido uma viagem apoteótica e estava cheio de dores ciáticas que lhe impediam de andar normalmente. Formidável, não cedeu um milímetro e consta, dito pela CNN, que não fez fisioterapia. Lá teria as suas razões, creio que seria pelas intenções para que esta viagem desse frutos;
b) pena não ser fluente em inglês, mas estava tudo impecavelmente organizado pois havia tradução simultânea nas transmissões e nas cerimónias em ecrans e ao microfone, textos pré-distribuídos com a tradução em inglês, etc;
c) todas as intervenções que fez foram pragmáticas, directas, e com conteúdos importantes mas ditas com um ar doce e convincente;
d) começaram já a produzir frutos pois o Presidente Obama e o Presidente Chinês no encontro a seguir à Assembleia da ONU assinaram um tratado de protecção do ambiente e outros países tomaram iniciativas semelhantes depois do discurso do Papa na ONU;
e) com calma vou ler as outras intervenções pastorais pois tratam de temas que vão ser discutidas no Sínodo;
f) o programa que o Papa escolheu foi um êxito total quer pela adesão dos destinatários como dos americanos em geral;
g) o Papa não é fisicamente sofisticado, está gordo por estar doente e pela medicação que toma e não se preocupa com o aspecto exterior, não sendo por isso um príncipe da Igreja da Renascença;
h) é no entanto, muito mais importante que tudo isso pois é coerente com o que prega e com o exemplo que dá. Troca a pompa e circunstância pela entrega aos valores do Evangelho.
Muito haverá mais a dizer, mas fiquei a conhecer melhor o Papa e a ter maior admiração pelos americanos pois demonstraram o que é sabido ser uma das suas melhores qualidades: a simplicidade na expressão dos seus sentimentos.

Por isso a viagem foi um sucesso.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

quando eu morrer


quando eu morrer murmura esta canção
que escrevo para ti. quando eu morrer
fica junto de mim, não queiras ver
as aves pardas do anoitecer
a revoar na minha solidão.
quando eu morrer segura a minha mão,
põe os olhos nos meus se puder ser,
se inda neles a luz esmorecer,
e diz do nosso amor como se não
tivesse de acabar, sempre a doer,
sempre a doer de tanta perfeição
que ao deixar de bater-me o coração
fique por nós o teu inda a bater,
quando eu morrer segura a minha mão.

Vasco Graça Moura
Soneto do amor e da morte

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

EU SOU UM EXCÊNTRICO E GOSTO DA INVULGARIDADE


Eu sou um excêntrico e gosto da invulgaridade.

Dito isto, confesso que respeitando as mesmas características nos outros, há no entanto limites os quais ultrapassados, me causam incómodo e não me sinto bem na minha pele.

O que caracterizo como excentricidade em mim, é uma insaciável curiosidade em observar os outros, medir os seus comportamentos, intuir as razões, compará-las com as minhas, num processo evolutivo de aprendizagem e de recolha de informação.

Isto inclui uma dose substancialmente generosa de tolerância inteligente ( até prova em contrário de que a não é), a aceitação dos outros tal como eles são, mas só até um certo ponto que é por mim definido, sobretudo e este é um elemento fundamental: tenho que ter prazer ao desviar-me do cinzentismo habitual e rotineiro. É um deleite pessoal. Esta é uma actividade unilateral, para meu gáudio e faz parte de uma minha forma de ser e de viver.

Assim que, quando nada disto se verifica deixo de ser excêntrico e torno-me numa pessoa exigente, fria, impaciente e com pouca tolerância para a vulgaridade, pretensiosismo, falta de classe e de categoria. Detesto “xungarias” e acho mais depressa “interessante” um milionário excêntrico do que um "meia-tigela" convencido.

Os elementos: cor, cheiro, som, sensualidade, equilíbrio e harmonia mesmo que totalmente ao contrário do que é o considerado como “normal” são o que me atraem.

Tem que haver inteligência, “reason to be” na desconformidade em relação ao padronizado.

Por isso quando alguém me provoca com razões inexplicáveis, sem intenções perceptíveis, criando situações que me fazem sentir irritado, contrariado ou sem excitação no desafio, desapareço umas vezes com estrépito e demonstrando o meu desprazer e outras, de fininho.

O facebook é um campo fértil para muitas selecções interessantes de pessoas com quem me apetece relacionar: divido assim, os frequentadores por categoria e permanência na lista de “amizades”.

Como nos bancos – AAA (triple A) aqueles por quem daria metade do meu reino para conhecer melhor, aproveitar e aprender, estabelecer relações de amizade, de solidariedade.

Contam-se muito poucos candidatos/as e actuais classificados/as.

AA – pessoas engraçadas e com boas-maneiras, agradáveis, interessantes e com quem há um "trade-off" equilibrado. Podem-se reactivar amizades antigas, outras que se aprofundam e se revelam, finalmente as que nos fazem passar bons bocados. Normalmente há de tudo: genuínos, inteligentes, burros com um grau aceitável, cultos e versáteis.

Há bastantes e vou fazendo uma limpeza cirúrgica quando abusam da sua presunção ou intolerância.

A – os que “pescam” e pedem para me conhecer sem eu fazer a menor ideia de quem são, mas que só porque acham que por eu ter escrito alguma coisa que lhes agradou ou às vezes até não, merecem ser admitidos no meu androceu que é também gineceu, tendo até lugar para “osgas” excêntricas.

São muitos os que pedem, poucos os “happy few”.

ZZZZ – Os chatos/as, estúpidos/as, radicais, fanáticos, mal-educados, provocadores destrutivos, filhos-da-puta, cabrões, mal-intencionados, insuportáveis.

Levam uma vassimborada ( de vá-se embora) completamente definitiva e sem apelo.

Voltando à vida pessoal e profissional, o facebook teve esta enorme vantagem de ajudar-me a encaixar os meus contactos nestas definições e tornou-me tudo mais fácil.

E é isto.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

O Peninha, o Américo, o Ivo e o que mais se verá


- Andas com problemas em casa? – perguntou o Peninha, entre realmente interessado e cusco ao mesmo tempo.
- Sim, ando cheio de problemas. – respondeu o Américo, rapaz sensato e bondoso, marceneiro de profissão e sem muitos rendimentos. O negócio, com a crise, começara a baixar, e ele levava para casa muito pouco dinheiro.
A Aldina, mulher de carnes rijas e voz forte, era conhecida como mandando irrestritamente nele. Na casa de cantoneiros, ali para Fornos, onde eles moravam, tinha-lhe ficado por herança do pai, o Xana de Albergaria, e como era à beira da estrada, quase nunca ninguém parava. Sentiam-se muito sozinhos.
Tinham uma courela nas traseiras que lhes dava para sobreviver, pois a terra era boa e lá plantavam couves para a sopa, tomates, feijão-verde, umas batatas e algum alecrim. Havia duas árvores de frutos, uma com pêros de bravo esmôlfo, e outra de pêras. 
Por dentro a casa era modesta e quanto a aquecimento, bem andavam a juntar para ver se compravam um fogão a gás, mas nem para as bilhas tinham dinheiro. Era ainda uma lareira das que fumam bem que aquecia, nas noites de frio de rachar, a casa toda que estava virada para a cozinha.
Não tinham filhos, mas ambos tinham aceitado bem a infertilidade dela.
O Américo era moço surpreendentemente atraente e fino de aspecto: olhos azuis, cabelo alourado, carnadura clara, mãos bem cuidadas com dedos finos e unhas sempre aparadas e cuidadas, tinha uma barba fina que lhe moldava o queixo, e um sorriso alegre com a boca escancarada.
Magro e escorreito, tinha um corpo que marcava os passos com elegância: parecia um modelo.
Foi um espanto quando os banhos para o casamento foram publicados e afixados na porta da igreja. A Aldina, era o dobro do tamanho dele, grosseira, com mau feitio e com uma voz de homem, mandona e arrevesada.
O Américo era filho de um pai que tinha morrido no Ultramar, um tenente miliciano de Lisboa que se amancebara com uma polaca de passagem e de que nascera um filho.
A mãe seguira a sua vida e partira e Américo tinha ficado na aldeia entregue aos pais de Aldina, que o tinham acolhido e o trataram sempre como um verdadeiro filho.
De modo que tinha crescido ao lado de Aldina, e foi natural que sem eira nem beira nem tostão na algibeira, quando morreram os seus protectores, Aldina o tenha guardado consigo e por uma questão de decência e para evitar as más-línguas, tivesse casado com ele.
Amor não havia entre ambos e era com sacrifício, que Américo se punha nela a cada semana, pois dizia-lhe, “pelo menos temos que fingir que somos marido e mulher”.
Cá para fora, para o povoado, a imagem era a de um casal igual a tantos outros, em que tudo se adivinha mas nada se sabe. Passavam despercebidos. 
Peninha, uma das vezes que fora a Fornos, encontrou o Américo no café e meteram conversa e falaram um pouco de tudo.
Com a frequência das visitas de Peninha, pois andava a negociar com a Câmara o lançamento de um monumento a um poeta famoso da terra, foi-se tornando íntimo de Américo e brotou uma sã amizade que se foi cultivando ao longo dos tempos.
Ora, num verão de muito calor, Peninha trouxe finalmente a Fornos um seu amigo poeta, de seu nome Ivo, que queria apresentar na autarquia para que fosse ele, na festa da inauguração do monumento, a ler os versos do homenageado.
Era um rapaz da idade de Américo, ruivo, com uns olhos melancólicos, um corpo enxuto e um pouco curvado, com uma voz efeminada e como que desinteressado da vida.
Conheceram-se e como ele ia ficar por uns meses em Fornos, até à conclusão do monumento, Ivo passou a ser a companhia de Américo.
Ia ter à marcenaria e passavam horas à conversa sobre a natureza, Américo contava-lhe histórias pueris da vida do campo, pois não tinha cultura e eram estes os seus interesses. 
As larvas nos pêros, os remédios para as evitar, as folhas de couve bem ricas que davam sopas suculentas, as pêras rijas mas saborosas, e Ivo ia tomando notas, em silêncio.
Um dia perguntou-lhe se conhecia a terra da mãe, a Polónia, e como Arménio dissesse que não, prometeu-lhe no dia seguinte levar um Atlas para lhe mostrar.
Estava quente e o sol brilhava em todo o seu esplendor. Américo propôs-lhe irem até ao rio, pois sempre seria mais fresco e de caminho comiam uns figos de capa rôta, que eram de estalo.
Lá se puseram ao caminho e Ivo desde que conhecera o Américo, mudara de aspecto, os olhos sorriam-lhe, a cara ficara mais rosada, o corpo endireitara e comentou isso com o amigo. 
Américo ficou contente e revelou-lhe que se não fosse ele, já tinha fugido de casa, pois a mulher tratava-o mal e era bruta com ele, ademais o negócio andava mau, pelo que ele tinha pouco dinheiro e ela estava sempre a queixar-se.
Chegando às margens, num sítio protegido aonde, segundo o Américo, costumava tomar banho longe da vista de intrusos, sentaram-se numa pedra ao lado um do outro.
Américo estava excitado por ir ver finalmente em mapa, a terra da sua mãe e achava o Ivo, um amigo verdadeiro.
Ivo tirou com vagar da sua mochila um iPad, e pô-lo sobre os joelhos.
Américo olhava com surpresa para aquele “atlas” que pela descrição na véspera, sempre julgou ser em papel.
- Isso é um Atlas? – perguntou.
- Não, é um iPad. Já te explico o que é e vais ficar maravilhado com o que vais ver.
Entretanto, Peninha voltara sem ser esperado e instalara-se na pensão Morabitinos aonde o Ivo estava hospedado. Perguntou por ele na recepção e disseram-lhe que o Américo o tinha vindo buscar para irem para o rio.
Pôs-se a caminho.
Ivo, carregou no botão de “power”, o ecrã iluminou-se e apareceram uma série de aplicações que compunham os programas favoritos de Ivo.
Este, passou um dedo rápido num dos ícones, e apareceram uma série de fotografias, com uma nitidez e colorido, que parecia que as pessoas saíam da tela. 
Américo estava deslumbrado e fazia perguntas, umas atrás das outras. Ivo respondia com interesse e bonomia.
Nisto, chega Peninha que os encontra debruçados sobre qualquer coisa que não vislumbrava àquela distância. 
- Rapazes, acabei de chegar. – disse. 
Os dois apanharam um enorme susto e levantaram-se de chofre.
Explicou-lhes que vinha buscar Ivo de volta à capital, pois o trabalho preparatório com a autarquia estava completo.
Américo ficou verdadeiramente cabisbaixo, o que não passou despercebido aos dois.
- Ó pá – disse Ivo para o Américo – e se fugisses de casa e viesses connosco para Lisboa? Isso é que era.
O Peninha também insistia e Américo, convencido, combinou logo ali a estratégia. Iria a casa buscar os seus poucos pertences, num momento em que Aldina estivesse atrás, na courela.
Pelas sete da tarde, chegou Américo todo afogueado com um saco de pano e as botas atadas nos cordões ao pescoço.
Peninha tinha vindo de tapete voador e partiram sem mais delongas.
Américo estava encantado ao sobrevoar as várias terras e povoações a caminho de Lisboa. 
O tapete, demorou cerca de uma hora e meia e desceu numa rua do Bairro Alto, aonde morava a Severa.
Fizeram-se as apresentações e Peninha deixou uma bolsa de moedas de oiro, que serviria para pagar o alojamento de Américo para os próximos meses.
A Severa olhava gulosa o moço novinho e apetecível, pois o Marialva já era velho e barrigudo e obrigava-a a tocar guitarra e a cantar todas as noites e bebia muito do pichel da adega.
Foi levá-lo até ao quarto e ajudou-o a despir o casaco de cabedal e perguntou-lhe se queria que lhe preparasse um banho quente na tina de cobre.
Estava o nosso Américo deleitado com o sabão que fazia espuma dentro da tina com água quente, sob os olhares excitados da Severa que olhava para a sua nudez. quando se ouvem de súbito, os cascos dos cavalos, e irrompe pela estalagem o marquês de Marialva que pede logo de beber.
Aflita, a Severa, enxuga Américo, não sem lhe tocar nas partes baixas e mete-o dentro de um armário do Ikea que tinha acabado de comprar, por instruções do Peninha.
Sentem-se as botas pesadas do Marialva a subir as escadas e a entrar no quarto: viu as roupas do Américo no chão e perguntou zangado à amante:
- Tens cá homem dentro de casa? 
- É um hóspede que acabou de chegar, meu Marquês!
E puxando-o com ternura para a cama, começou a dedilhar a guitarra e pôs-se a cantar um fado do Camané.
Embalado pela música, pelo calor do banho e pela excitação de ter conhecido a Severa, Américo adormeceu e deixou-se escorregar pelas paredes lisas abaixo do armário, e as portas escancararam-se e viu-se nú de pernas abertas no chão.
Telefonaram para o telemóvel da Marquesa a avisá-la do sítio aonde o Marialva estava, e com o rabo entre as pernas, voltou para casa e o Américo e a Severa viveram felizes para sempre.

Muito mentirosa é a História!

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

O Peninha e o UBER

O PENINHA E O UBER

O Peninha detestava pessoas que tivessem pelos nas orelhas, pretos e hirsutos a sair como jorros de água dos faunos das fontes do Rossio.

Recomendava sempre que no barbeiro, baixando a voz, não fosse ser ouvido pelos vizinhos de cadeira, se dissesse: - olhe, Aníbal, quando puder e discretamente, com uma pinça arranque-os um a um, que no fim dou-lhe uma generosa gorgeta!

Todas as vezes que ia cortar o cabelo e fazia-o a cada mês, aparecia pelo meio-dia, um cavalheiro já meio-careca, com uma testa e alto do cocuruto completamente lisos, que em frente a um espelho de uma cadeira livre, tirava do bolso um capachinho e besuntando-o com cola, aplicava-o na cabeça, ajeitando-o.

Fazia-o com a naturalidade de quem repete isto a cada dia, não se importando dos olhares dos circunstantes, entre divertidos e enojados.

O Peninha não resistiu e um dia perguntou ao Alex, o dono da barbearia : - Oiça lá, o gajo acha que não se topa a léguas que é tudo falso?

Resposta do Alex: - é por causa das miúdas. À noite vai para os "cabarétes" e elas enganam-no com palavras bonitas e o sr. Poupinho vai no engodo e tem torrado tudo com as gajas. Eu até já lhe disse que temos aqui clientes distintos e de sucesso com carecas bem piores do que a dele. Mas nada, a vaidade cega.

O Peninha frequenta uma casa de alterne muito conhecida no meio, mas muito discreta. Entra-se para um parque de automóveis que diz: “Loja gourmet – Aberta 24h. Arrumador privativo”. O Gonçalves, arrastando o pé bôto, vai indicando aonde arrumar e já conhece os clientes de ginjeira. Esta locanda tem uma particularidade: os clientes têm números. Registam-se como tal a primeira vez e depois ficam para sempre.

Como a clientela é internacional, por causa dos chineses e dos angolanos há números que ou dão má sorte ou são óbvios de mais para um supermercado que se preze visto do exterior, segundo afiança o Peninha. Os números proscritos são o 13, o 69 e o 7 por causa do Cristiano, nada de apelidos.

Ora o que mais agrada ao Peninha é a música e a dança. O Héldrio, o proprietário, de brincadeira assim chamado, pois o nome verdadeiro é Ismael, teve a brilhante ideia de gizar um sistema lucrativo para a casa: as meninas que são convidadas para dançar, têm um taxímetro à cintura, numa zona de ninguém, não importunando o trabalho de mãos, e que tem dois objectivos: o número do cliente e o tempo de dança.

Ou seja, o Peninha que adora bailar com a Eline, uma diva da Estónia, as músicas do Julito, todo atracassado a ela, mãos no traseiro redondinho e ela com a cara encostadinha e com a boca colada aos ouvidos dele sussurrando palavras de amor, fixa um tempo, vá…uns 10m que equivalem a um Martini para ela e para ele um Brandy Constantino.

Ao fim dos 10m, ouve-se um alarme discreto no taxímetro indicando o fim da corrida e ela de repente fica estática, hirta e firme: ou continua com mais um prazo ou com dignidade vai à procura de outro cliente.

Todos se divertem e agora com a UBER, o Héldrio até já arranjou uma aplicação para os telemóveis em que dispensa, para os que querem, o uso do taxímetro. É o próprio cliente que programa e é debitado na sua conta corrente na casa.

Claro está que para os mais tradicionais ainda faz todo o sentido o velho taxímetro.

In " prosas de fim de Estio" de Vicente Mais ou Menos de Souza

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

o boca de pato e o Peninha


O Peninha veio-me com lamúrias de que tinha saudades do pai, que estava cinzento o dia e que ele quando chegava a casa ouvia o vizinho com a Cavalaria Rusticana aos berros e ainda por cima tentando acompanhar a música, sem acertar uma só vez com o Caruso, mas que se recordava do pai a dizer-lhe:

- Peninha, isto é que é voz!

Uma vez tentou perguntar: - Quem a do Caruso?

– Não, filho, a do sr. Azevedo, ele tocou ferrinhos na orquestra da Junta e afinou a voz.

Que tinha ido à casa dos pneus e se tinha lembrado, de repente, daquela viagem que tinha feito em pequeno, no carro do pai, um boca de sapo, que súbitamente nas curvas da estrada da Beira, desatou a ir para cima e para baixo, coisas de hidráulica!

Claro está que rebentaram não um, mas os quatro pneus, à noite junto da ponte para Penacova. Lá foram a pé todos, o pai dele a única coisa que dizia era: - Deus queira que a taberna esteja aberta..tenho cá uma fome das bifanas, dos pastéis de bacalhau e do copo de três…

A mãe dele, dizia aflita…- mas ó filho e os pneus, a esta hora aonde encontraremos algum mecânico aberto e uma loja para comprar, ainda por cima, logo os quatros pneus? Lá se vão as poupanças nas arrecadas em ouro que herdei da minha madrinha!

Acabaram por ficar 8 dias em Penacova na pensão Gonçalves, cujo dono, o Leonel, de alcunha o Gonçalves (nunca ninguém soube a razão deste apelido) tinha andado na tropa com o pai do Peninha. A verdade é que ambos tinham sido dispensados do serviço militar por total inutilidade para a Nação, mas foram camaradas no quartel em Abrantes.

Grandes pândegas todos os 8 dias, almoços até tarde bem regados e copiosos e ao jantar novas pançadas e muito vinho, do tinto, da região.

A mãe e o Peninha passaram os dias a visitar oragos, capelas e sítios de devoção acompanhados pela dª.Ondina, que era a esposa do Leonel, dito o Gonçalves.

Mulher de muita piedade, tinha como único consolo dedicar-se à oração.

Perguntei ao Peninha: - ouve lá, o que é que esta viagem tem assim de tão extraordinário para te fazer lembrar o teu pai?

- Os pneus, dizia sem parar, os pneus…e até hoje….

In " Prosas várias" de Vicente Mais ou Menos de Souza

domingo, 13 de setembro de 2015

SÓCRATES E O FUTURO

Fui já há uns meses, na minha qualidade de voluntário da Cruz Vermelha para o sector prisional, convidado pela minha colega local para dar uma sessão de trabalho no Estabelecimento prisional de Évora. O eng.Sócrates, nesse dia não compareceu e creio que por razões próprias, pois tinha sido publicado nessa manhã nos jornais, mais uma das suas “complicações”.

Conheci-o em várias visitas de Estado para que fui convidado, como empresário, e guardei dele a memória de uma pessoa simpática, activo, e eficaz na promoção das empresas portuguesas que acompanhava.

Nessas viagens, não sendo eu seu íntimo nem do seu partido, constatei ser uma pena que os líderes, Chefes-de-Estado incluídos, não tenham um contacto mais desinibido com todos, revelando mais o homem do que o político. Bem sei que são muitos participantes e agendas intensas.

Vem tudo isto a propósito de ter vindo a ler uma série de comentários, artigos, reportagens, fotografias aéreas e terrestres…sobre a casa, as pizzas, os convidados e a vida pessoal do eng. Sócrates, na fase pós-Évora.

A minha experiência com reclusos que vale o que vale, apesar de serem de alta segurança e estrangeiros, leva-me a reflectir sobre o que eu sugeriria que o eng. Sócrates deveria fazer para se dignificar a ele próprio, não só porque tem família, foi Primeiro-Ministro do meu País e eu tenho orgulho de ser Português, como também para preparar o seu futuro.

Algumas dicas:

1. Ter a serenidade e categoria para falar menos, pensar no que diz e no que pode ou não causar como efeitos;

2. Ser natural, isto é, igual a qualquer outro português que ao tocarem à porta para entregar uma pizza que pediu, abre-a sem mistérios, paga ao "menino" que a leva, sorri para os fotógrafos e torna a fechar a porta…e já agora dando uma lição de normalidade à imprensa ranhosa de que este é um “non-issue” ou seja ninguém está interessado na pizza do engº Sócrates, que tem direito a comer como qualquer cidadão;

3. Depois, tentar exteriorizar sem raiva, ódio ou extremismos o que aprendeu durante o tempo de reclusão e solidão. Há tanto para transmitir e até dar exemplo. Só ganharia em reconhecimento por parte dos portugueses, de como aprendeu a ter mais humildade, a analisar-se e a ganhar eventualmente a simpatia de quem já o condenou na praça pública;

4. Se eu fosse Juiz do seu eventual processo, já teria à partida uma irritação imensa pela sua arrogância, temeridade em afrontar a Justiça, falta de maneiras como cidadão desrespeitando as regras aplicáveis para todos os outros reclusos, atacando irreflectidamente tudo e todos, prejudicando o seu partido e os socialistas e por último dando um péssimo exemplo internacionalmente, como foi tantas vezes referido, inclusivamente por jornais de esquerda;

5. Os reclusos que eu ensino, são todos pessoas inteligentes e com perfis diferentes do engº Sócrates, ainda que cada um é cada um, e a importância dos seus casos é impossível de comparar. Uma coisa é certa porém, nem eles próprios lhe têm respeito e criticam-no pelo seu desbragado ego, espalhafato e incumprimento das leis penais;

6. A falta de bom senso de Mário Soares e de outros destacados líderes socialistas em visitá-lo acintosamente, mais uma vez dando cobertura ao espectáculo mediático de que tanto gosta, vai causar-lhe de certeza um grande amargo de boca quando se apurarem os actos ilícitos que eventualmente tenha praticado. É como se quisessem pré-ilibá-lo de culpas, quando se sabe que só ele, engº Sócrates conhece o que fez.

7. Finalmente, se tivesse crescido interiormente e se dispusesse, quando falasse ou escrevesse, a espelhar uma outra imagem de arrependido e de capaz de recomeçar uma nova vida, só revelaria como vale a pena acreditar que muitas vezes a expiação, com sofrimento e solidão, é a única maneira de reabilitação.

sábado, 12 de setembro de 2015

MORREU UM DOS MEUS RECLUSOS ESTRANGEIROS da cadeia de Alta Segurança

Um dos meus reclusos morreu enquanto decorria o Verão e eu não dava aulas. Era o mais velho, e saía agora em Setembro. Estava muito contente com a perspectiva de voltar à liberdade e poder passar os restos da vida com a família.

Resolvi ouvir o Requiem em D menor de Mozart, em homenagem ao General sérvio, enquanto escrevo este seu obituário.

Para além do ensino do Português que absorvia com alguma dificuldade mas com muita atenção e interesse, era estudioso e tinha uma gramática feita por ele para compreender os tempos dos verbos e o género que na sua língua, era diferente do nosso.

Tivémos inúmeras conversas ao longo de quase um ano de convivência. Uma prisão de alta segurança não é fácil para ninguém e para ele já com 74 anos, tornara-se insuportável, e só ansiava pela liberdade.

Inteligente, muito bem educado, correcto no tratamento com os outros reclusos, pediu-me ajuda para os novos planos que tinha em mente a partir de Setembro, quando regressasse ao seu país: a produção de caviar a partir de uma nova tecnologia, mediante a criação de caracóis.

Levei-lhe uns livros e fotocópias em inglês para se começar a inteirar. Queria ocupar o seu tempo, trabalhando no campo e ganhando algum dinheiro.

Condenação: por ter estado no lugar errado, no momento errado. Tenho a certeza que ao obedecer ao seu superior, fê-lo por disciplina militar e não por ser criminoso. No entanto como referi atrás as consequências da sua desejável não-obediência ter-lhe-iam evitado a prisão.

Não tenho mais palavras para definir o sentimento de piedade que sinto por ele e que espelha bem a miséria humana na sua expressão mais dolorosa: na sua cela sozinho, mais de 90% do tempo, o que pode um homem com 74 anos esperar da vida e até da liberdade, depois de dezenas de anos recluso?

Não me pronuncio sequer sobre a justeza do julgamento que não conheço e que não me compete apreciar.

Concluo com este desejo sincero: que tenha encontrado a paz antes de fechar os olhos.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

convite para um gin ao fim da tarde, num sítio prazenteiro

Reconheço que ando irritado, com mau feitio e à mais pequena coisa que me contrarie sem razão, descarrego missivas impiedosas que moem e criam no interlocutor raivas tremendas, respostas iradas, cortes de relações e um caminho certo para a solidão.

Nem sempre conseguimos ser boas pessoas, nem fazer sempre o bem e tratar os outros com a paciência, tolerância ou a urbanidade que o bom-senso ou a virtude, aconselhariam.

Vem isto a propósito desta migração avassaladora de sírios, na sua grande maioria, que a cada dia esbracejam para conseguir chegar a um porto seguro.

As reacções distintas e contraditórias que vão sendo por aí expressas, falham pelo simples facto de até hoje e desde que começou a fuga maciça, não podermos saber como se comportam.

Por isso, os sírios e eu precisamos de uma mão estendida, sem condições.

Nunca me esqueço deste pensamento que é bem verdadeiro e que na maioria dos casos se aplica a 100%: se contares a alguém os teus problemas, 70% das pessoas não só não te “ouvem”, como não se interessam e não virá nenhuma ajuda pois estão a compará-los com os deles e as outras 30%, comprazem-se com o teu infortúnio e até tentam ver como poderão tirar desforço.

Há, felizmente, mãos gentis e mentes serenas e compassivas e são estas que devem aproximar-se em silêncio e de braços abertos, dos refugiados sírios.

Quanto a mim, um bom abraço já serve de muita consolação.

Naturalmente, se for acompanhado de um convite para um gin ao fim da tarde, num sítio prazenteiro, melhor.

E disse, o resto é conversa!

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

OS SAFANÕES DA ASTROLOGIA

Não pauto o meu dia a dia por horóscopos imbecis, mas confesso que fiquei pasmado quando ao enviar por internet a data, hora e local do meu nascimento a uma “astróloga” de S. Francisco na Califórnia, que nunca me viu nem me conhece, recebi um perfil psicológico de 12 páginas que acerta em quase 100% do meu carácter.

Já sei que irão dizer que figura ridícula, insana e inesperada faço em sinceramente falar neste assunto “desprimoroso”, mas o que é facto é que beneficiei tremendamente do relatório astrológico, pois pôs preto no branco, umas quantas coisas que não me atrevia a dizer a mim próprio, ou melhor, não queria reconhecer que de uma forma sistemática eram e são a causa de algum infortúnio!

O dito perfil contribuiu para ressaltar aspectos potenciadores de correcção desses mesmos deslizes, ocasionando uma análise introspectiva “à séria”, naturalmente não originada na menina de S. Francisco, mas a quem agradeço o safanão!

E porque vos estou a contar tudo isto, perguntarão? Pois a ideia é a de vos incentivar ao mesmo, com determinação, sagacidade e prudência nos critérios, escolhas e passos a dar, mas com ousadia, sabendo que o respirar fundo em cada acordar é um dos primeiros sintomas de que uma nova e melhor vida está a despontar, devagarinho mas segura.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

A Fidelidade da Amizade

Duas palavras tão diferentes, no entanto tão complementares. No sentido do meu título, eu definiria “fidelidade da amizade” sob duas perspectivas: a de quem beneficia e a de quem pratica.

Começo por quem, sem sentir directamente os efeitos admiráveis e regeneradores da fidelidade da amizade, pois na maioria dos casos trata-se de momentos em que o visado está ausente, vem a saber a posteriori que apesar de tudo alguém não julgou, não acreditou, não aceitou difamar e prejudicar a imagem e sobretudo, com firmeza e lealdade, defendeu o bom nome e estancou a hemorragia da calúnia. 

Esta é a obrigação moral das mulheres e dos homens virtuosos, daqueles que têm carácter e bondade no seu coração, de quem se distingue dos outros a quem a inveja, a intolerância e a raiva cega de magoar, lhes cria ímpetos desumanos e instintos mesquinhos.

Estas corajosas atitudes provocam gratidão, tranquilidade de espírito, segurança e vontade de reciprocidade nos sentimentos bem como de entrega generosa e incondicional ao outro.

Já quem exerce esta nobre missão de resistir ao rumor torpe, reagindo construtivamente e desmantelando o boato miserável e insidioso sobre o outro, tem o estatuto de prégador  da concórdia, defensor da verdade e acima de tudo revela uma elevação notável e difícil de ir encontrando nos tempos que correm.

Tem-se dito que não há que sofrer pelos ditos injuriosos e atentatórios da boa fama de cada um, e que é mister ignorar, mas importa afirmar que sem a fidelidade da amizade, a dor seria mais profunda e solitária.

Os Amigos são para as ocasiões, sejam elas boas ou más e é de como se actua nos momentos difíceis que se apura o grau de fidelidade e amizade.

Sono andato a Gulbenkian a partecipare alla "Oratorio di Natale" di JS Bach.

Sono andato a Gulbenkian a partecipare alla "Oratorio di Natale" di JS Bach. Il direttore M.Corboz, coro insuperabile, molto raffinato ed eccellente come sempre e vari cantanti con molta reputazione.

Come fanno la maggiore parte del tempo: guardare con attenzione gli attori sul palco, fissa alcune particolarità e poi ... chiudo gli occhi, sento la musica e io non ci sto!

E solo così posso veramente apprezzare questi momenti di tranquillità e pace.

Ma con i suoni di entrare nel subconscio, così mi dedico a immaginare i caratteri che la mia retina impostato in precedenza.


La splendida voce in falsetto di contralto che sento, contrasta con la figura disse, forte, obeso e meno attraente! Immagino il suo rientro in albergo contenuto del dovere, ancora una volta soddisfatte e consapevoli dell'impressione si sa che ha lasciato gli ascoltatori. Stanco, non può resistere una sosta al bar, prima di salire a una camera da letto spartana (Gulbenkian paga una indennità di alloggio e lascia la scelta a discrezione del contraente, così prende sempre ed è in alberghi modesti , mantenendo la differenza di pagare la soddisfazione della sua dipendenza segreto!), e di fronte a una limonata morbido, lasciato cadere in un profondo sconforto pensando di solitudine permanente che viene abituato negli ultimi tempi.

Dal momento che il compagno lo ha lasciato per un primo violino della Filarmonica di Vienna, dieci anni più giovane, sottile e con uno sguardo esgroviato (sentiti insultati perché è sempre stato orgoglioso dei suoi grandi occhi azzurri, fondi) guadagnato peso, se ne frega se meno sul loro aspetto e infruttuosa ricerca di una compagnia.

Rivedo lo sguardo di una delle fanciulle, meglio, Vestal, per il Maestro, come la sua voce con più fervore e immagino un rendimento complice di rispettare un bye, dopo il concerto, ai margini di un pianoforte, con uno champagne "flute", proponendo "elisir d'amour"!

Riprendo la seconda parte, e ho notato nell'ultima fila del coro, due curioso situazione: un uomo anziano fino agli anni accanto a un giovane di 21 o 22 anni.

E mi metto a pensare a quelle dinastie di musicisti, che generazione dopo generazione, sono passati dai genitori ai figli, questo dono di conoscere modestamente interpretare i grandi compositori, costruendo la propria storia nazionale.

E certamente che uno aveva niente a che fare con l'altro, ma mi sentivo una grande ammirazione per vedere un giovane uomo con aria escorreito normale, dovendo obbligatoriamente spendere ore per la formazione de la sua voce e studiando le opere di grandi musicisti piuttosto che forse! infine trascinare discoteche, bere o fare uso di droghe, senza cura per altre alternative per la spendendo del tempo, come se ci fosse anche un mondo affascinante da scoprire al di là di oggi!

Al momento della partenza, giuro che ho visto il braccio di contralto dato al cantante, e il Maestro, accompagnato da ammiratori per un taxi, a cui il conducente sentì castamente: a casa, prego!

Jugué al fútbol hace unos años


Jugué al fútbol hace unos años, me gusta ver un buen partido, pero confieso que lo que sucedió en los últimos días en nuestro país, supera todo. Las transferencias de jugadores!

La gran noticia para el espectador de la televisión, fue a ver "ad nauseam", y durante al menos tres días, los más pequeños detalles de todo lo que los personajes "importantes" debitaran de fútbol con el fin de todo y nada!

Cada día mueren en este país, gente en situaciones terribles, causando su muerte la mayor consternación por los graves problemas de supervivencia y el sufrimiento moral que causa.

El circuito clásico - empleo sin motivación y de rutina diaria y de conversaciones interminables en el trabajo, sobre las telenovelas, el fútbol o revistas con nuevas sugerencias de “punto de cruz” –y terminado pocos pasan por la taberna o el café para beber una copa antes de la cena, llegar a casa , baño, comida tranquila en familia o plasmados ante el programa de deportes / novela; de nuevo en la calle van a tomar un café con sus compañeros de trabajo, y de nuevo el fútbol es el rey!

La mujer honesta que asegura el cuidad de la ropa, de la cama y de la comida en el día a día, los estudios de los niños y su futuro, que nunca puede expresar sentimientos pues TODO se ignora y se sustituye por un silencio impuesto de rabia contenida por un cualquier indiferente resultado de fútbol y que hace la vida insoportable y asfixiante!

Lo que sorprenderá es el todavía escaso número de divorcios, separaciones, suicidios, crímenes de venganza contra un panorama de comportamientos medievales de un pueblo sexista, sin educación, egoísta, perezoso y vulgar!

les lecteurs de mon prose ou en vers



Je crois que les lecteurs de mon prose ou en vers, n’interprètent jamais son contenu de la même manière que je les ai écrites ou senti. Ils ont raison, parce que le temps, l'espace, mes motivations, mes humeurs sont indéchiffrables, surtout quand le temps de trajet entre l'écriture, l'envoi et la publication prend que quelques jours!

Donc, il y a pour moi, deux options (i) écrire ce que je ressens comme bon (ii) anticiper la critique possible de la forme de mon écriture et l’adapter à un certain style politiquement correct, mais toujours imprévisible.

J’ai vécu quelques années hors du Portugal dans des endroits éloignés et l'odeur des rues et de la tranquillité de la campagne me manquait, et ma famille et mes amis je les ai visités que de façon sporadique. Je me suis dévoué a l'écriture et le résultat c’était des centaines de lettres, qui ont été honorablement réciproquées. Et je vous jure que je n’avais pas de papier carbone et chacune a été écrite avec émotion et intensité.

J’écrivais dans la soirée, déjà avec tout le monde en silence, et généralement accompagnée par la musique.

Pour moi, et contrairement au communément admis, je crois que la nuit ne soit pas aussi bon conseiller car elle exacerbe les sentiments. Dans la matinée, le lendemain, je les relisais et souvent je les récrivais, parce que j’imaginais le postier au Portugal, la laissant tomber sur la boîte aux lettres du destinataire, avec trop d’émotions transmises et causant son grand embarras!

Le jour où je mourrai, si quelqu'un fouille dans mes affaires, il trouvera tout ce que j’ai écris, et puis s’exclamera " fou, fou, mais courageux!"

Mais il est toujours important avoir un grain de folie que d'aller droit à Olympus sans la souillure de la haine ou de l'envie!


Hoje de manhã saí muito cedo

Hoje de manhã saí muito cedo,
Por ter acordado ainda mais cedo
E não ter nada que quisesse fazer... 
Não sabia que caminho tomar
Mas o vento soprava forte, varria para um lado,
E segui o caminho para onde o vento me soprava nas costas. 
Assim tem sido sempre a minha vida, e
Assim quero que possa ser sempre -
Vou onde o vento me leva e não me
Sinto pensar.  
Albero Caeiro