Completados os estudos,
propostas e estratégias que a cada um competia, centralizou-se em Washington na
empresa de lobby do Capitólio, do Embaixador C., a respectiva análise.
Veio de lá um documento
pré-final para o nosso nihil obstat e após algumas correcções e acrescentos,
assentou-se que o Presidente dos Santos:
- tinha uma cara
apelativa para aparecer nas capas da TIME e NEWSWEEK durante a sua viagem oficial aos USA, com uma extensa
reportagem no interior sobre o seu trabalho como Presidente de Angola e sucessor
de Agostinho Neto: um homem moderado, empreendedor e que mesmo durante a guerra
civil tinha conseguido desenvolver Angola e que no dealbar de uma paz frágil era mais convincente e
consistente do que Savimbi;
- visitaria o Capitólio,
os principais Senadores, o Presidente dos USA, e receberia doutoramentos
honoris causa por Universidades negras do Sul dos Estados Unidos, viajaria em aviões
particulares, limousines presidenciais, honras militares, com todas as despesas
pagas pelo Governo;
- teria encontros com
homens de negócios americanos e investidores potenciais importantes e poderosos com interesses em Angola;
- receberia a promessa do
apoio total dos USA na organização das primeiras eleições livres em Angola;
- receberia outros apoios de vária
natureza…
Pusémo-nos de acordo
sobre o texto final e encetei os meus contactos com a presidência de Angola
para marcar a data da viagem.
Confirmado o acordo para
uma data, combinámos que partiríamos todos de Lisboa. Vieram assim juntar-se a
mim o Príncipe Victor Emanuel de Sabóia, o Embaixador americano C. ( não de
carreira mas colocado em Genebra como homem de confiança de Bush e já do tempo
de Reagan), e o meu sócio e amigo Advogado que já mencionei em anteriores
crónicas.
À chegada a Luanda
tínhamos no aeroporto à nossa chegada várias limousines oficiais e o Chefe de
Gabinete do Presidente José Eduardo dos Santos bem como uma escolta militar, armada até
aos dentes.
Ainda havia nessa época em Luanda e
nomeadamente na zona para aonde nos dirigíamos, o Futungo de Belas, “compound”
militar e residência do Presidente, ataques perigisíssimos de milícias de Savimbi.
Lembro-me bem do medo com
que estávamos pela velocidade tresloucada a que circulavam as nossas
limousines, com a escolta armada que fazia afastar o trânsito.
Lá chegados fomos
conduzidos para uma moradia muito bem cuidada com um jardim e um pequeno
relvado à volta, já dentro do Futungo. Era a residência oficial para os
convidados presidenciais.
Como éramos quatro, e
apesar da casa ser confortável, não era muito grande. Tinha uma sala razoável com
o necessário e uma casa de jantar acoplada, dois quartos e uma suite.
Os quartos eram um, com duas
camas, o outro com uma mais pequena e a suite com uma cama de casal e uma casa-de-banho
própria. De resto havia mais duas, que serviam os outros quartos.
Antes de nos
distribuirmos, tomei a iniciativa e propus que a suite fosse para o Príncipe,
o que de imediato foi arrogante e malcriadamente negado pelo embaixador
americano, que disse que quem era o chefe da missão era ele e que no seu país não
havia príncipes por isso sendo a pessoa mais importante. Um selvagem!
Bem educadamente o
Príncipe respondeu que não se importava de dormir no quarto de duas camas comigo
pois não só me conhecia bem, como não cabia na cama do outro quarto!
Ficámos logo a embirrar
com o embaixador que se veio a revelar um companheiro insuportável!
(Continua)
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