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Fazer luz no mundo - a Cartuxa
A
Cartuxa é apreciada porque o seu maior objectivo é que não se fale
dela.Não faz campanhas vocacionais nem cultiva acções promocionais.É,
aliás, com custo que abre as suas portas a visitantes.Quando Eusébio
veio para o Benfica, veio também um jogador para o Sporting.Já ninguém
se lembra dele. Foi para a Cartuxa. Parece que está em Nápoles. Creio
que mais nada se sabe dele.Na Cartuxa, importante é ser santo e não que
se seja chamado santo. Tudo está centrado no essencial, em Deus. Tudo se
apaga para que Ele brilhe. Tudo se silencia para que Ele fale. Na
brisa, no ruah.Não se fazem ensaios. Quem vem de novo integra-se na
oração com os outros.Os cartuxos são inflexíveis em muitos aspectos. No
despojamento, por exemplo. Não aceitam dignidades, distinções ou
condecorações por parte da Igreja.Um dos seus lemas é «non sanctos
patefacere sed multos sanctos facere», que pode ser traduzido assim:
«Fazer santos, não fazer propaganda deles».Não tomam, por isso,
iniciativa para conseguir a canonização dos seus membros. Nem sequer
possuem um catálogo dos seus santos.Quando morre alguém com uma vida
excepcionalmente santa, ninguém lhe escreve a biografia. Habitualmente,
sobra apenas um comentário: «Laudabiliter vixit».Os princípios por que
se norteia o monge são a quietude, a solidão, o silêncio e a procura do
sobrenatural. A Cartuxa não quer a fama. Se ela existe, são outros que a
propagam. Quando um cartuxo passa por outro não diz nada. Ou talvez
diga sem dizer. O silêncio é capaz de captar o essencial. E o essencial
vem do fundo. Se houver atenção, somos capazes de lá chegar.Certas
palavras, muitas palavras só ofuscam.
João Teixeira.
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