Meu Caro Manuel,
Lá estive com os teus
Pais, num “garden-party” no relvado com a vista esplendorosa que tem! Um
óptimo serviço com imensos criados e excelentes "comes e bebes" , a banda do Glenn Miller com o próprio a tocar melhor do que
nunca, revezando-se com o Benny Goodman. Um dia soberbo, a parentela toda, os
amigos de sempre e alguns de fóra, que mencionarei abaixo.
O teu Pai deu-lhe para convidar
poetas portugueses e brasileiros e estava todo orgulhoso por conversar
longamente com o Pessoa e avistei-o apresentando à tua Mãe o Mário Quintana. Um
sucesso de miscelânea entre gente do espírito, pintores e escultores,
escritores e poetas, e no meio disto tudo, imagina tu, que tropeço no Dr.
Salazar.
Fica para outra carta,
mas tive uma troca de impressões grande com ele sobre o estado de Portugal.
O teu Tio Luís, Almirante,
bem como o outro teu Tio Carlos que estiveram em funções oficiais de relevância,
conversaram longamente com ele. Mas confirmei com o Presidente do Conselho que foram
ambos e sobretudo, pessoas independentes, patriotas, amantes da paz e
prosperidade que o País tinha mas nunca sabujos nem do aparelho: eram ambos
monárquicos e o teu Tio Carlos, gozava de grande estima do Duque de Bragança,
tendo sido um grande esteio da Causa Monárquica e do chamado “Tesouro Real”.
Enfim, outros tempos!
A tua Mãe chamou-me à
parte e como eu te anunciei numa das minhas últimas cartas, queria deixar-me um
recado para ti.
Os teus Pais, segundo
ela, tinham estado um dia destes a conversar entre os dois e serenamente o tema
foi os Filhos que tiveram.
E o teu Pai, dizia que os
Filhos quando vão crescendo e começam a ter responsabilidades e a saber
governar a vida deles, vão-se esquecendo, progressivamente dos progenitores:
sentem-se autossuficientes, sabem tudo, acham que a experiência é dispensável,
e que no fundo o papel de orientadores esgotou-se.
E, acrescentava, eles
tinham passado por isso.
Ora a tua Mãe, o recado
que me pediu que te deixasse foi o de que não deixes que o teu coração se
entristeça com isto, pois acontece de geração em geração. Aqui fica, pois, a minha missão gostosamente cumprida.
Por hoje é tudo, meu Caro
Manuel, e bom ânimo para enfrentares os desafios que ainda tens à tua frente.
Um abraço afectuoso do
teu primo que muito te estima
Luís Bernardo
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