Meu Querido Luís Bernardo,
Tenho ido ultimamente a vários enterros de familiares de
amigos, uns mais novos e outros já mais velhos.
Recebem do púlpito dos padres e até de filhos ou netos, enormes elogios e palavras lindas sobre o que fizeram na vida, directamente para o caixão e perante muita gente.
Eu também quero, quando morrer! - diz-me o que é preciso fazer
para isso.
Houve alguns que foram umas pestes, outros chatos e pesados,
outros bêbados, e mais outros maus maridos e ou mulheres, péssimos filhos,
irmãos, primos, patrões e até leitores pois nunca abriram uma página de um
livro e no fim, tau!, toda a gente a dizer bem.
Puxa, eu sei que não sou perfeito, mas sou educadinho, tenho
um bonito sorriso, franco e aberto, já li muitos livros e até te escrevo, não copiei
muito na escola, não roubei dinheiro da carteira da minha Mãe, será que tenho
alguma chance?
Vou-te dizer desde já o que queria que dissessem quando eu
morrer: que amei muito a vida, a verdade, a inteligência, a ousadia e a coragem
em ser-se como se é e sobretudo pensei muito mais vezes nos outros do que em
mim, mesmo que não soubessem ou tivessem, sequer, reparado. No final, o maior
elogio seria o de que fui um pouco atrevido no amor e talvez na forma diferente
de amar, mas o meu braço esteve sempre lá.
Se houver alguma daquelas velhotas beatas da paróquia que
queiram pôr uma vela em forma de parte do corpo, a escolha será a do coração.
Ouve lá, Luís Bernardo, tu não me falhes nos conselhos para
ser bem sucedido, que eu sou vaidoso e invejoso. Tanto fdp a ter discursos
bonitos e inflamados e eu, um bom menino, sem vir a ter nada!
Teu muito dedicado primo e esperançado na tua consultoria,
aí usa-se a expressão?
Manuel
Não precisamos todos, afinal re um reforço positivo relativamente ao que vamos fazendo?
ResponderEliminarquanto ao que fizemos, depois de mortos, importa relmente o julgamento público, se afinal nem sempre é justo, adequado, verdadeiro e quase sempre revestido de interesses para os próprios que tecem os elogios?
A vida é complicada, "Vicente"... mas continuo a achar interessante estas "suas cartas" ao seu primo e as respostas que ele dá.
Abraço,
Sempre,
Isabel
PS - ah!... e quem sabe, nas entrelinhas consegue descobrir um pouco, a resposta ao que me perguntou? Postei... catapultada por um texto que li e partilhei, mas a que não resisti, de rompão, a dizer o que provavelmente nem sempre deveria dizer. Onde começa e deve acabar o íntimo?... mas depois apetece-me tantas vezes romper com os condicionalismos de que me revisto...
existe também, mesmo a propósito o post da Zilda... foi tão bom lê-la e responder!!! Veio mesmo a propósito... dê lá um salto, sff.
Obrigada "Manuel". É, e será um dos meus impulsionadores... dos que me levam a romper medos e a soltar-me dentro deste meio, para o bem e para o mal... o melhor e o pior... :)...e sei que dará sempre uma opinião cincera e amiga.
Outro abraço...
Isabel