sábado, 31 de dezembro de 2011

Memórias dos meus Natais (fecho do ciclo)


Num destes jantares em casa do meu Avô paterno, estava eu uma noite muito atento à conversa entre os crescidos.

Um dos meus Tios, irmão do meu Avô, vaidoso e convencido, mostrava um relógio Patek Philippe de bolso, com a particularidade de estar dentro de uma cápsula de ouro e esmalte que se abria para os dois lados para ver as horas no mostrador que surgia. Invulgar, pelo menos! E acrescentava que tinha sido a primeira pessoa a ter trazido para Portugal, este modelo da África do Sul, aonde tinha estado em viagem de serviço como comandante do navio hidrográfico.

Ficámos todos encantados pela peça que era fora de comum e eu estranhei ver o meu Avô silencioso, sem ter feito nenhum comentário. Perguntei-lhe porquê. Respondeu-me que o Tio Luis se esquecia que ele tinha estado em África muito antes do que ele e que tinha na altura comprado também um relógio igual, que ele tinha visto, gostado e por isso o tinha adquirido mais tarde.

E acrescentou:

- Sabes, às vezes pode parecer difícil ficarmos calados quando ou temos razão ou conhecemos os factos por dentro ou pior ainda, já os vivemos, experimentámos e sobre eles tivemos o mesmo entusiasmo de novidade que os mais novos sentem quando deles falam como se fossem os detentores da verdade!

Hoje em dia, lembro-me tantas vezes deste pequeno episódio que me marcou para sempre, mesmo. Umas vezes não resisto e intervenho mas na maioria dos casos, pareço absorto e ausente mas acompanho tudo o que dizem, que comentam tantas vezes sem ponderação ou conhecimento de todos os factos ou com uma visão parcial – mas sempre com ares categóricos e sem deixar margem para discussão!

Se quiser ser verdadeiro, acho que também fiz isto com os meus Pais e com uma miríade de gente! Hoje menos...ahahaah

Trouxe este pequeno apontamento para fecho deste ciclo das Memórias dos meus Natais, porque o argumento de que a experiência é um factor determinante para a razão, nem sempre é verdadeiro ou porque se teve “wrong experiences” ou porque os “experientes” podem ser uns chatos e cortar a espontaneidade dos mais novos ao direito de errar e de aprender com o tempo, também.

Acho que serei um eterno menino pequeno, por isso hoje num acto de puro narcisismo pus este meu retrato do tempo em que sabia de tudo!

MNA

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