quarta-feira, 14 de julho de 2010

2ª Carta do meu primo Luis Bernardo



Meu Caro Manuel,

Aproveito um portador e respondo às tuas perguntas.

Quanto ao Saramago é simplesmente mais um: contam-se em largas dezenas os prémios NOBEL que já morreram. Juntam-se a todos nós sem mais.

Quanto ao resto das tuas questões são de resposta terrena:

Os Santos foram homens e mulheres que se salientaram na terra de entre os demais fiéis da Igreja Católica por atitudes, feitos, exemplos e testemunhos e como tal a organização a que pertenciam resolveu, nos seus próprios critérios, "premiá-los" com a elevação a um estatuto especial, aliás como tantos outros homens e mulheres de outras religiões ou credos ou mesmo sem nenhuma vinculação a ideologias ou crenças, agnósticos, ateus e indiferentes que se destacaram pelas suas acções. Isto dito de uma forma simplista, como é óbvio.

Não há VIPS, somos todos iguais porque os critérios aqui são outros mais uma vez, e não há preferidos nem preteridos por qualidades, raças e diferenças terrenas.

A noção de pecado, que pode revestir diferentes nomes em diversas religiões e credos, mas que é normalmente associada à Igreja Católica, não tem reflexo aqui. É um conceito humano e que tem a vigência temporal da vida terrena. Não se projecta para a vida futura. Como te disse, não há “cadernetas” de prémios acumulados ou de "multas" por pagar.

Cada um e a sociedade em que se insere na terra, escolhe por várias formas, a maneira como quer, pode ou se deixa ser regulado e ao incorrer em incumprimento sofre as respectivas sanções.

É a velha dicotomia entre a norma moral e norma jurídica: a primeira tem uma coacção moral para o cumprimento e quando prevaricado a sanção é como se fosse uma “dor” interior enquanto que a outra tem a coercibilidade do sistema jurídico e uma vez desrespeitada, implica penas.

Finalmente o tema a que tanto relevo deste: o sexo.

Como é por demais evidente, depende do corpo e uma vez o corpo destruído pela morte, não há mais sexo.

Já nem falo da mente e de tudo quanto significa para a importância do sexo. Só os animais o fazem por instinto, o que não quer dizer que não haja seres humanos que se comportam tantas vezes como bestas, muito pior do que os animais.

As formas como o sexo é praticado, entre quem e em que circunstâncias derivam deste princípio humano tão relevante que é o da liberdade de agir com responsabilidade. Se ela existe ou não, mais uma vez é dependente de juízos humanos, com todas as consequências que isto implica.

Gostaria a terminar de falar-te em mais detalhe de uma componente enriquecedora do sexo e que é o AMOR.

Quando existe doação e entrega mútuas e que se podem definir, em termos humanos, como AMOR, os actos mecânicos transformam-se e aproximam-se do que se encontra na vida futura.

É talvez o único traço de união, o justificativo para haver futuro para quem morre na terra.

Pensa na pequenez da terra, que já hoje pode ser entendida e verificada com os progressos enormes que os seres humanos têm feito quanto ao conhecimento e observação da astronomia e poderás ter uma reduzidíssima ideia do que é o Universo e aonde te situas.

Tenho que entregar ao mensageiro a mensagem.

Recebe um afectuoso abraço do

Luis Bernardo

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