quarta-feira, 1 de setembro de 2021

O Peninha regressa a Lisboa e é recebido por Marcelo e o PM


 

O Peninha regressa a Lisboa e é recebido por Marcelo e o PM

Peninha foi procurar um veterano americano que conseguia fazer sair de Cabul, cidadãos estrangeiros.

Chamava-se John Spitzgerald. Era um homem entroncado dos seus 70 anos de cabelo rapado loiro e tinha estado como militar em Cabul durante os 20 anos e conseguia fazer sair gente através de túneis, que davam directamente para o aeroporto.

John mandou o Peninha tirar aquelas roupas todas e o Peninha vestiu-se de caqui militar americano.

O túnel era comprido, com pouca ventilação e não se podia voltar para trás, mas no fim valia a pena pois estava a salvação. Iam em grupos de 10, de joelhos a quatro-patas, a uma distância de 2 metros cada um, em silêncio e a travessia duraria cerca de 20 minutos.

Peninha, que tinha claustrofobia, quase desmaiou. Mas pensou que ser morto pelos talibãs ou tentar salvar-se, não havia dúvidas, mesmo que tivesse que passar por grandes momentos de aflição.

O que mais lhe custava era não poder dar meia-volta se se sentisse mal. Era um horror só de pensar nisso.

Os lugares na fila eram tirados à sorte com um pião de madeira, daqueles da escola. Para azar do Peninha ficou no meio da fila entre dois afegãos. O detrás era um matulão de barbas e cabelo preto (pois tinham que tirar o turbante e ir o menos despidos possíveis) e o da frente era um rapaz sueco de nome Hans que estava com tanto medo quanto ele.

Iam então com umas calças de caqui e umas camisolas interiores sem mangas. A do Peninha já tinha sido usada várias vezes e estava com cheiro a suor e tinha gravado: No Continente, encontra tudo para ficar contente! Como raio teria ido parar a Cabul um produto do Continente?

Lá se puseram em fila e depois de se despedirem de John e ouvirem os últimos conselhos, entraram no túnel como se fossem uma manada de elefantes.

Ao fim de 5 minutos, já doíam os joelhos ao Peninha pois tinham de manter um ritmo constante.

Começou a pensar na sua vida passada e no que tinha feito e de repente viu que o sueco tinha caído desmaiado à sua frente. Nada disto tinha sido previsto.

Passou por cima dele com custo e continuou, mas com um peso na consciência por não ter ajudado, ter tentado reanimá-lo. De repente, ouviu ao fundo a voz dele que gritava que já estava bem e tinha passado para o último da fila pois todos os outros tinham passado por cima dele.

O novo companheiro que tinha à frente era um afegão ordinário que se peidava com frequência e Peninha apanhava na cara com o cheiro.

Pelo relógio do Peninha, faltariam talvez uns cinco minutos e enchendo-se de coragem e animado pelo sucesso que antevia, começou a cantar o hino da Internacional Comunista, que tinha aprendido na Festa do Avante.

Acontece que o tal afegão que estava à frente mandou-o calar e começou a cantar o Deutschland uber alles, hino do Hitler e Peninha respondeu-lhe com o Hino da Mocidade Portuguesa, de Salazar.

Acabaram por chegar a um enorme cano de esgoto e ao fundo viram as luzes do aeroporto de Cabul.

Abraçaram-se uns aos outros e como John lhes tinha dito viria ao seu encontro um militar americano. Assim se fez e dali a pouco um jeep militar grande veio buscá-los.

Depois de muita papelada e burocracia Peninha viu-se sentado num avião da TAP a caminho de Lisboa. Reparou que a tripulação o tratava com toda a deferência e lisonja, e pensou que seria por ser português.

Peninha dormiu um sono justo todo o tempo da viagem e quase antes de aterrarem vieram sugerir-lhe que vestisse um uniforme de soldado do Exército Português. Peninha já tinha feito a tropa na Guiné há anos e sabia que tinha acabado em Sargento-Ajudante.

O Comandante e toda a tripulação vieram despedir-se à porta e Peninha sentiu-se muito honrado.

Quando começou a descer as escadas para um grande hangar aonde o avião tinha parado, reparou que havia um batalhão de soldados formados, que a uma voz de comando, apresentaram armas. Peninha pensou que viria também no avião alguma alta individualidade.

Ao chegar quase ao fim das escadas, viu com espanto num palanque o Presidente Marcelo, o Presidente da Assembleia da República, o Ministro da Defesa e o Primeiro-Ministro que vinha ao seu encontro de braços abertos.

Ficou sem palavras e siderado e perguntava-se a si próprio o que teria feito assim de tão importante…

Quando PM o abraçou perguntou-lhe baixinho ao ouvido: aonde está a cassete para o Rui Pinto com as provas todas contra o Benfica?

Peninha ficou pasmado e não percebeu. O PM meteu-lhe as mãos nos bolsos e triunfante tira a cassette.

Nesse momento tocou o hino nacional, Marcelo fez um discurso político e Peninha foi evado por dois polícias da PSP para fora do aeroporto e pondo-o na plataforma do Metropolitano.

Que injusta é a política!

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