quinta-feira, 7 de março de 2019

O PECADO DA TIA DO PENINHA ( FINAL)


O PECADO DA TIA DO PENINHA ( FINAL)

Umbelina, olhou ao redor da sala e sem fazer barulho sentou-se num sofá forrado a chintz e muito confortável. Ouvia as vozes dos cónegos a despedirem-se do Abade e sabia que dentro de minutos ele estaria ali.

Mulher de virtude teve uma pequena tontura de hesitação e ainda pensou em sair pela porta da cozinha e assim evitar a tentação do pecado que sabia haveria de cometer. Mas tinham sido tantos anos de solidão, de contenção da carne e de profunda admiração e porque não reconhecê-lo, de vontade de ter intimidades com o senhor Abade.

Este, entretanto, entrou na sala e dirigindo-se ao sofá, sentou-se ao lado de Umbelina. Agarrou-lhe a mão de mansinho e fazendo festas, foi-lhe dizendo:

- Com que então gostas do teu Abade? Só te fica bem pois é a minha função gostar de todas as ovelhinhas, talvez mais de umas do que de outras.

- Ó sr.Abade, fico assim sem jeito em estar aqui na sua casa e o que dirão se nos encontram juntos a esta hora? – disse Umbelina, chegando-se para a ponta do sofá.

O Abade levou a mão de Umbelina à boca e começou a dar-lhe beijos suaves e pequeninos, dizendo-lhe:
- Aproxima-te de mim, não tenhas medo, pois não te faço mal. Que bonita estás e que bem amanhada. Nunca te tinha visto assim.

Umbelina foi-se chegando e o Abade passou das mãos para os braços e de surpresa puxou-a para si e apertando-a forte, deu-lhe um beijo na boca.

Umbelina ia cedendo e correspondeu com paixão, retribuindo-lhe o beijo e de seguida enroscaram-se os dois no sofá.

O Abade olhava para o peito arfando de Umbelina e lançou-lhe as mãos com frenesi e apalpou-lhe os seios enquanto Umbelina, dizia, rendida, baixinho: - ó Sr. Abade!

Entretanto, tocaram à porta e o Abade endireitando-se e arranjando a batina, exclamou furioso:


- Quem se atreve a esta hora vir incomodar-me na minha própria casa? Irra que é demais, já não chega durante o dia e barafustando disse a Umbelina:
- Vai subindo para o quarto que já lá vou ter contigo. Mas não dês nas vistas.

Umbelina assim fez e foi nervosa subindo as escadas depois de se ter descalçado.

Ouviu o Abade, destrancar o ferrolho da porta e perguntar antes de abrir:

- Quem é? – e não podia ser com uma voz mais desabrida.
- Desculpe Sr. Abade, mas a minha mãe, a Felismina, está a morrer e pediu-me se o Sr.Abade lhe podia ir dar a extrema-unção antes que se fosse. Era um grande favor. – disse uma das vizinhas da Umbelina, a sra.Tomásia.

O Abade ainda lhe perguntou se era urgente e como ela lhe disse que já estava inconsciente teve medo que a criatura morresse sem o sacramento e ainda se viesse a saber a razão da sua recusa.

- Vá andando sra.Tomásia, que vou buscar o necessário e já lá vou ter.

Entrou, fechou a porta e indo ao pé das escadas que davam para o quarto disse baixo para a Umbelina:

- Tenho que ir dar a extrema-unção à Felismina, mãe da tua vizinha Tomásia e devo voltar tarde.
Se estiveres acordada conversamos, senão amanhã de manhã.

E saiu apressado para despachar a função.

Umbelina ficou triste mas como mulher de fé, não criticou o sr.Abade, ficou só com pena de não aproveitar o balanço em que já ia…. Sentou-se a folhear umas revistas antigas e o tempo foi passando e o sr.Abade não havia meio de chegar.

Lá pelo meio da noite Umbelina que só se deixara passar pelas brasas, sentiu o andar pesado do Abade a aproximar-se da casa e a porta abriu-se e ele entrou. Devia estar cansado, a sua figura de obeso e depois de um jantar bem regado, pedia-lhe cama e por isso nem tentou saber se Umbelina estava acordada.

Despiu-se e pôs-se em camisa de noite, enfiou um barrete de borla na cabeça e ficou de barriga para cima sem conseguir adormecer. Umbelina não lhe saía da cabeça.

Umbelina sentindo-o acordado, resolveu começar a despir-se lentamente e começou por tirar a saia de seda que tombou no chão pesadamente por ser rija.

O Abade estremeceu e prestou atenção ficando alerta.

De seguida tirou as calças de linho a meia perna que de novo roçaram o chão leve do quarto, e ficou só de calcinhas.

O Abade movia-se na cama e excitado dava mostras dessa agitação.

Umbelina tirou a parte de cima e ficou nua com os seios à mostra. Mexia-se com ligeiros gemidos que sabia terem eco no andar de baixo. O som da roupa a cair no chão causava ao Abade ideias pecaminosas, que o levavam a invocar alguns santos em seu auxílio, mas sem grande convicção!

O Abade transpirava e hesitava em subir, mas o peso, o sono e as escadas íngremes impediam-no de ser ágil e de ir ao seu encontro.

Umbelina, um pouco desapontada, cobriu-se e deitou-se também toda em efervescência nos sentidos, mas não se atreveu a descer. Ainda estava tudo no princípio.

Adormeceram os dois a sonhar com os corpos de cada um.

De manhã, na alvorada, a sra. Tomásia veio avisar o Abade que a mãe tinha morrido e que se esperava que o Abade presidisse ao funeral.

Assim que ele saiu acompanhado da sra. Tomásia, Umbelina vestiu-se e enroscada no xaile quente, tapando-lhe a vestimenta desusada para aquela hora da manhã, dirigiu-se a sua casa.

Lá chegada, foi para o quarto, tomou um banho de água quente na banheira e depois de se vestir de luto para acompanhar o velório da mãe da vizinha, ao passar pelo quarto do Peninha, sentiu-os a dormir e raciocinou – fizeram toda a noite aquilo que eu queria ter feito!

Tenho tempo, pensou e lá abalou para a igreja.

Yrina e o Peninha quando se despediram da Tia Umbelina, agradeceram-lhe muito a hospitalidade e prometeram voltar.

Peninha perguntou que tal tinha sido a ida a casa do sr. Abade com os cónegos.

A Tia Umbelina, respondeu-lhe: de muita devoção e orações, bem como conversas pias e no fim do jantar o sr.Abade foi chamado pela vizinha para vir dar os sacramentos à mãe morrente e ela tinha regressado a casa.

Grandes beijos e abraços e Yrina, ao ouvido disse-lhe: - agora que já sabe o caminho é ir sem hesitações, e piscou-lhe o olho.

E voltaram para Lisboa, não sem que no caminho, parassem no pinhal de Leiria e no meio do arvoredo, com o carro escondido entre a folhagem, se tenha ouvido gritos em ucraniano….presume-se que de guerra! Peninha cumprira o seu papel de portuguesinho valente.

Nota: apresentado este conto ao Arcebispado para a obtenção do NIHIL OBSTAT para publicação foi-lhe negado, por calúnias contra um ministro da Igreja.

As edições do jornal o Roubacense publicaram em fascículos com grande sucesso!

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