O PENINHA FOI À GRANDE ENTREVISTA DA RTP
O Peninha recebeu um convite para ir à Grande Entrevista da RTP e vestiu-se a rigor, com um fato do Rosa & Teixeira azul escuro, uma gravata de riscas do Ragattoni (marca desconhecida que fabrica gravatas para Itália desde a fábrica na Amadora) e uns sapatos da Sapataria Oliveira que já calçou Lisboa inteira. A camisa era uma imitação de popelina suíça com umas iniciais da marca VM (Vítor Manuel).
Chegado aos estúdios foi acompanhado até uma sala de preparação aonde foi maquilhado pela dª Carminda que ao pôr-lhe pó-de-arroz na testa e na cara causou-lhe uma alergia que ficou encarnado que nem um tomate. Disseram-lhe que não podia ir assim para o estúdio e o Peninha foi até à casa-de-banho, lavou a cara e a testa e voltou para o camarim furioso a dizer: - estas mariquices de porem pó-de-arroz aos homens, eu cá na cara e em dias de festa só Ach.de Brito e é para dar um cheirinho a lavander..assim como dizia stander de automóveis.
Foi acompanhado ao estúdio e o operador começou a pôr-lhe o microfone na lapela do casaco e a finalizar a preparação.
- Tudo a postos – gritam da régie. Podem começar!
O entrevistador era o Zé Milhazes pois o de serviço estava de férias e à última da hora foi o único que se arranjou.
Senhor Peninha benvindo à nossa Grande Entrevista e levantou-se e apertou-lhe a mão. O mesmo fez o Peninha que acrescentou: - Obrigado.
ZM: Gostava de lhe perguntar como encara a actual situação política em Portugal?
Peninha: Diga-me uma coisa, posso dizer perante as câmaras e os espectadores o que penso verdadeiramente?
ZM: Claro que sim, estamos perante uma democracia musculada, que aliás me faz recordar os saudosos tempos da ditadura soviética.
P: Ora aí está uma boa dica. Tenho saudades da ditadura do Dr. Salazar: a ordem e disciplina, a obediência cega, não havia comunistas nem partidos a não ser o do poder, havia umas reservas de ouro fabulosas, tínhamos uma guerra no Ultramar…aí era uma chatice, mas os campos estavam viçosos, os ordenados muito baixos, havia iliteracia, nada de segurança social…ai e aquela música da Amália da casa portuguesa…nem se sabia o que era a democracia.
ZM: Ó Sr. Peninha olhe que apesar de não haver censura oficial o Governo não vai gostar destas suas ideias. São muito críticas. Mas olhe, o que pensa do Dr. Costa (do Castelo)?
P: Bem o fado, e Fátima ainda existem, mas a Amália foi substituída pelo futebol. Ai o que eu gosto do meu Sporting e do Bruno de Carvalho.
ZM: Desse patife? Nunca mais vai voltar a ser Presidente.
P: Olhe que vai, ainda limpa aquilo em três tempos.
ZM: Olhe falemos um pouco de sexo. Acha bem esta libertinagem que para aí anda, casas de meninas e de meninos, bares, discotecas e até apartamentos de luxo que custa uma noite para cima de €500?
P: Olhe eu vou dizer-lhe…foi o que mais me encantou na revolução. A liberdade de dar livre curso à fantasia. Eu vou confessar uns fetiches porque me pelo: ai os collants, os soutiens de côr de carne, o mel a descer da boquinha pelo peito abaixo…
ZM: Ó homem cale-se que isso conduz à indecência e a nossa televisão vai cortar estas descrições. Bem fale-me um pouco da sua vida profissional.
P: Sou adjunto do Gabinete de um secretário de um Membro importante. Passa por mim toda a corrupção para a compra do material de guerra: aviões sofisticados, porta-aviões, helicópteros de combate, botas e fardamento…milhões e lá estou eu com as minhas contas de merceeiro – pataca a ti, pataca a mim…
ZM : Bem, bem deixe lá isso e o que faz mais?
P: Sou um homem de mão dos bancos. Implica levantar-me cedo antes da hora de abertura. Vêm aviões privados que aterram num aeroporto privado lá para os lados da Garrett do Estoril, cheios de dólares. Entram aos milhões nos camiões dos bancos e quando chegam à sede, está tudo à espera e são depositados em contas que eles só conhecem.
ZM: Você quer que venha o DIAP interrogá-lo, não?
Nisto o Peninha acorda do pesadelo e nota que está no quarto e na cama de uma senhora desconhecida.
Apresenta-se e diz o nome e acrescenta: - Sonho e falo alto. Espero que não tenha ouvido os meus pesadelos.
A rapariga era francesa e dava umas baldas no Trombinhas, tinha-o apanhado bêbado e tinha-o trazido para o quarto na Pensão Mimosa, de águas correntes quentes e frias, ao Intendente.
Era boa moça, já um pouco flácida de carnes e devota de Santa Filomena.
- Nada, não ouvi nada, dormia a sono solto. Ontem tive uma noite bem remexida de maneiras que estava cansada.
O Peninha, aliviado e exausto do pesadelo, voltou-se para o lado dela que maternalmente lhe ofereceu o peito aonde ele encostou a cabeça e adormeceu como um justo.
Na manhã seguinte quando acordou viu que ela lhe tinha deixado uma nota escrita em francês que dizia: sou amiga da Geneviève Macron…se precisares de alguma coisa, procura-me!
Peninha saiu orgulhoso mais uma vez para a rua e respirando fundo disse bem alto para os ares: - eu sem os meus contactos não seria ninguém.
E de abalada para o Rocio, parou para beber uma ginginha porque à noite tinha que ir aturar a Severa pois o Vimioso estava a banhos em Cascais com a Condenssa…
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