quinta-feira, 26 de julho de 2018

Conto Breve

CONTO BREVE

A D.Adozinda morava no prédio da Versalhes, no segundo andar. Tinha vindo ainda a tempo de África, de Moçambique e o Sr. Amílcar, esforçado dono de uma grande estância de madeiras, tinha feito uma sólida fortuna.

Volveram à Metrópole nos seus cinquenta e com dois filhos a quem deram uma esmerada educação. Andaram nas melhores escolas e seguiram um a carreira de político o outro entrou para os jesuítas.
Mas tudo isto fica para outro dia pois o político, o Daniel tornou-se um corrupto e se não for preso é uma sorte. O Jesuíta, o Paulo Miguel, perdeu a vocação e casou-se com o sacristão da paróquia de Lemos-o-velho, no Minho para aonde foi mandado pastorear umas almas.

O que é facto é que compraram este andar estupendo na Av.da República e o Sr.Amílcar já reformado passava o tempo na Versalhes a comer, a beber e a ver passear as donzelas e um dia teve um AVC pois estava enorme e morreu.

Hoje o que me interessa é narrar que vi a D.Adozinda de canadianas a sair com dificuldade pela porta da entrada: está forte, velha de uns seus oitenta e tal anos, mas o ar de África dá-lhe forças para não ficar em casa numa tarde destas.

Está acompanhada pela porteira que a vai ajudar a dar uns passos na Avenida.

Bem arranjada, com brincos e um vestido estampado de seda.

De repente o olhar dela fixa-se por um momento no meu e consegui ver bem fundo um cansaço para além do físico em mover -se, o da consciência da sua velhice.

Triste este estado em que as glórias do passado, seja ele qual tenha sido, secam e entopem as energias e provocam nos outros um ar de piedade.

Ficando deprimido mandei vir uma "duchese" com cobertura de caramelo no ponto e chantilly.

Bem fez o Amílcar que morreu empanturrado de boas vistas e de qualidade de bolos.

Com papas e bolos se enganam os tolos.

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