sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

O PENINHA E O NOVO BANCO



O PENINHA E O NOVO BANCO

O Peninha já anda há muito a ruminar em como pode ajudar o país, contribuindo com qualquer gesto grandioso que o faça ser recordado no futuro.

Com estes últimos acontecimentos no NOVO BANCO, o Peninha julgou chegado o momento de intervir.

Um tio do Peninha, o sr. Asdrúbal, fora nos bons tempos da família Espírito Santo, bicheiro na Quinta do Perú, e pendurava religiosamente nas árvores que conduziam á casa, tudo quanto era de animais nocivos à caça, para os patrões verem bem que desempenhava as suas funções a contento: milhafres, águias de pequeno porte, ratazanas, gatos selvagens…

Sempre tivera, por isso, a gratidão da família e em troca também sempre depositara as suas poupanças nos bancos do GES. Esta devoção fora transmissível à restante família do sr. Asdrúbal, pelo que o Peninha sempre fora cliente do BES.

Qual não foi, por isso, a enorme dor, desilusão e prejuízo quando todo o império se desmoronou. Tinha aplicado umas massas no papel comercial e ficou sem nada. Infelizmente tinha em alternativa uma outra parte no Banif e ficou sem nada. O que vale foi uma herança pequena de uma tia Felismina do Sul, que lhe deixou uns Certificados de Aforro de que Peninha vai vivendo, para além do seu ordenado mensal.

Peninha trabalha, como funcionário público, num departamento de apoio à emigração pelo que conhece muitos emigrantes estrangeiros, cujos processos lhes passam pelas mãos.

Ora, um certo Sadiq, de nacionalidade paquistanesa, dá-se ares de ter bons contactos na banca do seu país. Peninha lembrou-se de que uma prima servia a dias na casa do dr. Sérgio Monteiro, que está indicado pelo Banco de Portugal, para liderar as negociações do NOVO BANCO.

Começou por sondar Sadiq que lhe prometeu falar a uns amigos poderosos em Karachi e retornar sobre o potencial interesse da compra do banco.

Por outro lado, haveria de pedir à prima que falasse ao dr. Sérgio Monteiro para este o receber quando houvesse algo de concreto.

Sadiq convocou-o e disse-lhe que um grupo de paquistaneses estava altamente interessado na aquisição do banco e que portanto ele que avançasse com o contacto.

Peninha, começou a sentir-se importante e a estar imbuído daquele espírito de missão patriótica de um Gama ou Albuquerque e lá conseguiu que a prima lhe arranjasse uns 10m no fim-de-semana para uma conversa com o dr. Sérgio Monteiro.

Vestiu-se como julgava um banqueiro o fizesse: fato Hugo Boss azul-marinho, com as calças a esterlicarem em baixo junto às canelas, cinto de coiro preto com uma fivela de cowboy em prata, uma camisa com colarinhos à Mao, com dois botões, e na lapela uma bandeira de Portugal em esmalte, pois não era para menos. Os sapatos ainda pensou pôr os de pele de lagarto castanhos, mas acabou por optar por uns All Star casual.

Lá chegado a casa do dr. Sérgio Monteiro, a prima disse-lhe que fosse tomar um café e voltasse dali a uma hora, pois o dr. tinha-se deitado tarde e ainda estava a dormir. Peninha achou de uma grande desconsideração, mas não teve outro remédio, pois nem para a sala o mandaram entrar.

Regressado ao apartamento, a prima mandou-o entrar e pediu-lhe que aguardasse, pois o dr. estava a acabar o pequeno-almoço.

Nisto, aparece-lhe o dr. Sérgio Monteiro de roupão de seda com dragões de fogo e estendendo-lhe a mão, diz-lhe:

- Desculpe estar de roupão, mas estou com muito sono ainda, pois ontem foi uma noitada com uns chineses de um banco comprador e ainda vou voltar para a cama. Então diga lá!

Peninha ficou sem fala e atrapalhado. Bloqueou-se-lhe o raciocínio, mas vendo que ele esperava que ele falasse, lá lhe foi dizendo que conheçia um Sadiq, paquistanês, comerciante de grosso trato, que tem uns amigos comerciantes em Karachi que querem comprar o NOVO BANCO pois têm lojas em Portugal e têm dificuldades em abrir cartas de crédito…..e logo o dr.Sérgio Monteiro, o interrompe e diz:

- Meu caro amigo, muito obrigado pelo seu empenho e esforço em ajudar o país. No entanto o valor que estamos a pedir pela compra do banco é tão baixo, tão baixo que seguramente não interessará aos seus amigos comerciantes que estão dispostos a pagar vultuosas quantias. Não deixarei de mencionar ao dr. Carlos Costa, o seu interesse e talvez se possa um dia fazer um negócio com o Paquistão.

Levantando-se, começou a dirigir-se em direcção à porta e estendendo-lhe a mão despediu-se dizendo que tinha de voltar para a cama.

Peninha encontrou-se na rua, entre contente e desiludido. Contente por ter sido reconhecido o seu esforço em ter querido ser de mais-valia para o seu país, mas desiludido pois tinha achado que o grupo paquistanês seria considerado de grande impacto económico e financeiro.

Peninha ainda teve uma reunião com Sadiq o qual lhe disse que afinal percebera que se tratava de um banco e não de uma casa de câmbios, pois os que eles queriam era aumentar a loja que tinham na Almirante Reis para fazer transferências.


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