quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

SILÊNCIO de SCORSESE

SILÊNCIO de SCORSESE

Fui ver "Silêncio" de Scorsese. Primorosamente realizado, com excelentes interpretações. Passa-se em 1640 e seguintes. Não me apetece perder tempo sobre o tema.

Tirei para mim uma conclusão, que confirma o que já penso há anos: não se deve fazer na vida NADA (i) que não nos apeteça e em que acreditemos possa ser útil a nós e aos outros (ii) que seja uma maçada, um sofrimento e sem resultados palpáveis previsíveis.

No mundo dos negócios, social, pessoal cada vez tenho menos tempo a perder com "non issues" ou seja com factos, actos cometidos ou a cometer por losers, non-performers, non professionals, sonhadores.

Para sonhar há boas viagens, bons hotéis, boas praias, bons países para viver. Simultâneamente com isso, em podendo, é bom ajudar quem precisa, mas sem o espírito de rato de sacristia, de mártir, de S. Vicente de Paula: é ajudar na medida e da forma como pudermos. Se for material é dar e não pensar mais. O ou os destinatários que o gozem e que tenham muita saúdinha...ahahah

Que grande maçada causas perdidas!

Voltando ao filme, que estultícia pensar que a missionação teria algum sentido no Japão, sobretudo tendo em conta que não é obrigatório ser-se cristão, ainda mais com a rigidez dos princípios dessa época e para aborígenes para quem tanto fazia uma coisa ou outra.

Mas isto é o que penso e mai nada.

Trump Rehearsing his 2017 Goal: Take over Britain and replace The Queen



















domingo, 22 de janeiro de 2017

A POSSE DE TRUMP E A REPORTAGEM DO PENINHA






A POSSE DE TRUMP E A REPORTAGEM DO PENINHA

O Peninha conseguiu que lhe validassem o bilhete de regresso de Caracas a Washington, devido ao infortunado azar de ter adormecido a bordo e falhado a sua saída nos USA!
Tendo chegado a Washington na véspera da posse do Presidente-eleito Donald Trump, hospedou-se num pequeno e modesto hotel junto do Capitólio, que a agência lhe reservara em Lisboa.
O primo John vociferou contra tudo o que Peninha tinha proposto: o traje para estar presente na cerimónia bem como, em caso de entrevista a algum órgão de informação, as ideias que alinhara que eram o oposto das expressas por Trump.
Assim que, recomeçou tudo: foi a um armazém de roupas e comprou uns jeans normais, uma camisa aos quadrados e um blusão de couro castanho-escuro, uns ténis pretos NIKE e numa loja de souvenirs levou um cap que dizia “Madeira -1968”. Pareceu-lhe um gesto de portuguesismo, ainda que nunca tivesse ido à dita ilha mas em homenagem ao primo John que tinha emigrado directamente de lá, e que ficaria contente em vê-lo aparecer nos écrans com este toque de gentil sensibilidade. Só não percebeu o porquê da data – 1968 – mas a menina do balcão disse-lhe que o pai dela tinha-o lá desde essa data e que ninguém o tinha comprado, entretanto!
Voltou a ler alguns recortes de jornais e revistas portuguesas sobre o Trump e apercebeu-se que tinha interpretado tudo ao contrário: o homem era de direita, conservador, tinha vontade de esganar os mexicanos e construir um muro junto à fronteira, odiava outras raças nomeadamente a muçulmana, enfim, concluiu que ali estava o exemplo de um estadista de valor e defendendo os princípios por que o Peninha sempre pugnara, inclusive na sua aldeia, quando era miúdo e jogava ao berlinde com os outros colegas de escola. Sempre admirara o dr. Paupério que era o senhor rico da terra, que tinha uma casa boa e farta e que não se dava com ninguém da vizinhança, nem os filhos jogavam ao bilas com ele e os outros. Peninha achava bem; ricos de um lado e pobres do outro. Pareceu-lhe que Trump devia ser um dr. Paupério da América e rejubilou com o facto. Assim é que era, nada de modernices nem de abrir as portas dos países aos outros estranhos.
A única coisa com que discordava era da segregação em relação à ILGA, pois o Américo era bicha desde pequeno e mesmo na escola já era chamado de Toninha, mas isso nunca o tinha impedido de com ele brincar.
Peninha achava mal qualquer discriminação fosse de que tipo fosse e por isso haveria de dizer publicamente e com orgulho, se por acaso fosse entrevistado, que não estava de acordo!
Enfim, chegou o grande momento. O Peninha não tinha mais do que o 2º ano do liceu de antigamente, pois tinha ido logo trabalhar, mas a vida tinha sido uma escola importante pelo que falava razoavelmente o inglês, ainda que com alguns erros, sobretudo verbos e vocabulário, mas dava para perceber tudo o que se ia passar.
Entrou no recinto com umas três horas de antecedência e de facto o lugar que o primo lhe arranjara era muito bem situado: junto das escadas do Capitólio, numa zona reservada a técnicos de electricidade e de som, que asseguravam que tudo corresse sem problemas.
Claro, não tinha Senadores nem Congressistas, mas tinha a imprensa que fazia a cobertura do evento, em cima, num estrado.
Começou a meter conversa com os vizinhos do seu lugar que se apresentaram simpaticamente: um, era um talhante do Arkansas, já entradote e que viera sem a família que ficara a tomar conta do talho. O Peninha ficou um pouco admirado quando lhe disse que era português e de Lisboa e o homem respondeu-lhe que sabia muito bem aonde era o país – Madagáscar - com um ar convencido. Peninha referiu-lhe o nome do seu clube – o Sporting – um dos maiores da Europa e o tipo ficou na mesma. Quando, já irritado, lhe falou em Jesus, ele disse-lhe : “Of course, that one I know!” Peninha não lhe achou muita graça pois pareceu-lhe de uma ignorância atroz.
A outra, era moça jovem, um pouco máscula e pareceu-lhe que seria travesti pois disse-lhe que se chamava Persifal mas que era conhecida por Gina. Ora fez-se luz na cabeça de Peninha e lembrou-se do Américo e da Toninha e tal e coisa. Muito simpática apresentou-lhe várias amigas, e foi-lhe dizendo que era jornalista de um jornal famoso em Nova Iorque, dizia ela, de nome “Pussy Cat”! Achou o máximo e pensou logo que estaria ali a oportunidade de falar à imprensa.
Conversaram muito sobre o Trump e sobre o futuro, enquanto aguardavam a chegada das altas individualidades e dos principais participantes na tomada de posse.
Entretanto, Peninha reparou que na zona dos jornalistas para além de um ecrã aonde se via o desenrolar da cerimónia havia uma aparelhagem, que lhe pareceu de escutas. Indagou da sua vizinha jornalista, que com um piscar de olhos lhe disse:
- Pusemos uns microfones na zona dos VIP para ouvirmos os comentários e depois os publicarmos. Peninha ficou muito intrigado pois pareceu-lhe coisa do Correio da Manhã ou mesmo do Expresso.
De facto começaram a chegar os ex-presidentes e Peninha foi-se aproximando e começou a tomar notas:
- Jimmy Carter para a mulher: que grande maçada, ainda por cima acho o Donald um grosseiro e um boçal. Só aceitei vir porque sempre somos vistos e há anos que não nos ligam nada. Olha chegou agora a Hillary com o Bill Clinton. Ele está muito velho. Oiça dizer que ainda cutuca as secretárias da Fundação…
- Hillary para Bill Clinton : Estou-lhe com uma raiva! Claro que vou sorrir e fingir que está tudo bem, mas tu ao menos podias agarrar-me nas mãos como se fôssemos muito unidos, para dar uma imagem de casal feliz. Que velho está o Jimmy Carter, caquéctico e ela mal vestida, nunca souberam ter classe. Olha para lá Bill e sorri!
- George W. Bush para Laura Bush: Tu não achas que a Hillary está muito tensa. Nem sei como se vão falar, o Trump e ela. Está gorda e sem graça nenhuma e o Bill está a cair da tripeça. Olha eu tenho saudades destas honras e mordomias, no fundo foi para isso que fui presidente.
- Obama para Michelle: tu, contém-te e não faças cara de enjoada, um dia ainda voltamos a isto tudo, prometo-te. Fomos muito melhores do que aquela cambada dos ex-presidentes, que ali estão a sorrir-nos.
O Peninha estava perplexo, pois julgava que todas aquelas amabilidades que via entre eles, não fossem tão hipócritas.
Obama para Michelle: Olha-me para a Melania, copiona, está com um vestido igual ao da Jackie Kennedy. Ela quando te deu o presente esta manhã à porta da Casa Branca, estendeu-te a mão…safada, fizeste bem em dar-lhe logo dois beijos! Quem se julga ela que é?
Michelle para Obama: Vem bem vestida e tu não me deixaste comprar nada melhor do que este meu vestido, que eu acho sem glamour nenhum! Foste sovina!
E continuaram a dizer mal uns dos outros até que chegou Trump.
Trump para Melania: Finge que me dás um beijo sentido e ri-te minha estúpida! Estás aí entrouxada nesse vestido…põe-te mais à vontade. Foste às aulas de protocolo mas eu sei mais do que esses chulos. Cambada de gente. Vou ali ser visto outra vez a dar manteiga ao Obama pois eles vão ficar para morrer quando ouvirem o meu discurso.
Melania para Trump: estou farta disto e de armar que nos damos bem. Vou mas é para NY e levo o puto e não julgues que volto cá muitas vezes. Ele também detesta isto tudo, olha-me para a cara desatenta dele. O marido da Ivanka, não perde pitada e está com o peito todo cheio. Vocês estão bons um para o outro. Espero que ela te controle, só tens dito asneiras. E deixa de te peidares que é uma vergonha.
E o Peninha desolado via os seus sonhos da política como uma coisa sã e preciosa, esboroarem-se como um castelo de cartas. Todos uns pulhas!
Voltou para o lugar para ouvir o discurso de Trump. Ali ao lado dele eram todos fans, mas o Peninha estava desiludido com as ideias e as generalidades: achou que não tinha plano nenhum.
Quando o discurso acabou e enquanto tocavam as bandas, a sua vizinha do jornal o “Pussy Cat” perguntou-lhe se aceitava responder a três perguntas para publicar com a sua fotografia, no jornal. Peninha ficou encantado e disse logo que sim.
- Qual é a tua orientação sexual? – perguntou-lhe ela.
O Peninha ficou um pouco surpreendido e antes de responder pensou para si mesmo: sempre fui um homão e gostei de gajas.
- Olha sou hétero e gosto muito de mulheres – respondeu o Peninha. Viu que a sua resposta não tinha agradado muito à jornalista.
- 2ª pergunta: sabendo tu que eu sou travesti, ias para a cama comigo? – lançou a jornalista com um ar de desafio para o Peninha.
- Nem penses nisso filha ou filho, sei lá, não saberia o que te fazer, mas olha que tenho amigos como tu e damo-nos muito bem. Eu não tenho preconceitos, disse o Peninha com um ar satisfeito pela sua posição liberal. Mas olha, faz-me uma pergunta sobre política, sobre o Trump, a América.
- 3ª pergunta – gostaste do vestido da Melania? – e acrescentou á laia de desculpa que nada sabia sobre política. Peninha desgostado, a contragosto disse-lhe:
- Gostei das mangas em godé, do cós alto, do busto saliente e da gola em rodovalho tipo cachecol…o azul bebé fica-lhe bem ainda que ela não seja nenhuma inocente. Das luvas, achei chic a valer.
Peninha saiu desconcertado da entrevista pois tinha sonhado dar opiniões políticas profundas e avisadas.
Voltou para o hotel para se vestir para o baile. Tinha trazido de Lisboa um smoking emprestado do Américo, de veludo lavrado em encarnado vivo, com umas calças escuras e uns sapatos com umas solas novas que o faziam escorregar. Pôs uma écharpe de seda azul escura à volta do pescoço, pois estava frio, e com um cravo branco na lapela, meteu-se num táxi e zarpou para o local do baile.
Lá chegado, de convite na mão apresentou-o à entrada e ouviu um comentário em voz baixa que lhe fez uma das meninas recepcionistas:
- I love the colour of your tuxedo, but I have to warn you, President Trump is a conservative and doesn’t like red, it reminds him of the communists, at least until he meets Putin…but I love it. Do you dance?
Peninha ficou encantado com o elogio e respondeu logo que sim e que ficava à espera dela para quando começasse o baile ela ser o seu par.
- Chamo-me Elsie ( Elsa, pensou o Peninha) e tu?
- Eu chamo-me Little Feather (Peninha) but I guarantee you that I have what you expect very big…e riu-se ainda que tivesse achado que tinha sido um pouco grosseiro.
Entrou para a sala gigantesca aonde se desenrolaria a festa e notou que havia um palco mais elevado que lhe disseram ser só para o Presidente Trump e a mulher abrirem o baile. Achou de uma arrogância e pretensão desmedidas e logo ali planeou que tentaria ir com a Elsie dançar para lá e assim, ao menos, poder aparecer na imprensa, pois os fotógrafos estariam todos de baterias apontadas.
A sala começou a encher-se mas o convite do Peninha só dava direito a ficar em pé junto ao bar e não a jantar. Assim fez e enquanto Elsie não chegava, começou a beber desenfreadamente: estava excitado com o ambiente e Elsie era rechonchuda, de rabo grande saliente do vestido comprido branco com uma racha atrevida lateral que deixava entrever umas belas pernas, tinha um peito de rola grande e cheio e uma cara agradável com uns olhos morenos e cabelo castanho claro.
Entretanto a orquestra começou a tocar umas musiquinhas gostosas e Peninha com os copos, meneava o corpo dando um bocado nas vistas.
Elsie foi ter com ele e enlaçados começaram a aproximar-se da pista que já tinha alguns pares de convidados a dançar. Peninha disse-lhe ao ouvido que ela estava muito sexy e confessou-lhe o seu desejo de irem disfarçadamente lá para o palco de cima para que quando o casal Trump começasse a dançar eles entrarem os dois também no mesmo palco e teriam um momento de fama…Ela ficou estarrecida com a ideia e falou-lhe na CIA e no FBI mas ele não se demoveu.
Elsie disse-lhe que a única maneira seria a de pretenderem ser da organização e estarem de serviço,sim não levantariam suspeitas e só mesmo quando a primeira valsa começasse poderiam então deslizar para o palco…Elsie achava uma loucura mas como já tinha bebido uns copos valentes como o Peninha, ia cedendo molemente.
Encontraram vária segurança a quem Elsie dizia que era da organização e sem grande dificuldade ficaram perto do palco, como se de meros observadores se tratassem e estivessem ali à disposição para qualquer coisa.
O casal Trump, chega ao palco e é saudado pelos convidados em delírio. A orquestra começa a tocar a valsa do Danúbio Azul e o casal Trump vai deslizando pela pista sob os aplausos de todos. Toda a gente está concentrada nos convidados de honra e não se apercebem de que Elsie e Peninha se vão aproximando do centro do palco, dançando ao som da valsa.
Os organizadores tinham tido ordens para espalharem no chão pó de talco em grande quantidade para facilitar ao casal Trump os passos da valsa e poderem rodopiar facilmente.
Numa volta mais ousada, o raio dos sapatos com solas novas que o Américo lhe emprestou, derrapam no chão escorregadio e perante o olhar assustado de todos, o Peninha estatela-se no chão dando um enorme trambolhão indo parar ao pés de Melania.
O FBI já tinha entrado no encalço dos dois e leva-os presos para interrogatório.
Foi um sarilho e só depois de muitas explicações, o Peninha conseguiu ser libertado.
Ansioso correu para um quiosque à procura dos jornais aonde tinha a certeza estaria noticiada a sua proeza, ainda que tendo acabado mal. NADA!
A equipa de TRUMP tinha censurado esta parte da festa e NADA deixara que os jornais reportassem. Peninha ficou tristíssimo e regressou a Lisboa.
Um dia depois do seu regresso recebeu um e-mail de Persival com um attachment aonde vinha na primeira página do jornal “Pussy Cat” a fotografia do seu estampanço!


segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

O PENINHA E A POSSE DE DONALD TRUMP


O PENINHA E A POSSE DE DONALD TRUMP

O Peninha tem um primo que emigrou para os Estados Unidos. Chama-se John e é comerciante em New Bedford. Exerce um cargo político nas estruturas locais do Partido Republicano.

O Peninha lembrou-se de lhe pedir se lhe arranjava uma entrada para o recinto da posse de Donald Trump junto às escadarias do Capitólio. Recebeu no Sábado o dito convite e alvoroçado foi a uma agência de viagem para marcar o voo para Washington.

O primo pediu-lhe que se preparasse para responder a algumas perguntas sobre o programa do Trump, para o caso de ser entrevistado e assim Peninha, começou a ler jornais e revistas e a ouvir as entrevistas na televisão que o Presidente-eleito deu nos últimos tempos. Começou a alinhar as seguintes conclusões:

- Trump não detesta tanto assim o Presidente Obama;

- Trump acabou por ficar com simpatia por Hillary Clinton;

- quanto ao Obamacare é errada a ideia de que o abomina, vai melhorá-lo (é um pretexto para dizer que o vai extinguir) e está a pensar convidar o ex-Presidente Obama para ficar à frente do novo plano, sendo muito bem pago;

- está preparado para a primeira visita de Estado ao Kremlin para contactar o Presidente Putin e tornar-se amigo do peito, até porque gostam ambos muito de vodka, o que já é um bom começo;

- vai financiar ainda mais a NATO e a ONU ( bom para Guterres);

- com a China, vai aumentar o comércio bilateral e aceita que Taiwan não é um país independente;

- com o México, afinal já não vai construir o muro e conta com a ajuda dos mariachi para distrair os eventuais emigrantes ilegais de salto;

- tenciona pôr a família o mais que é possível em cargos de confiança pois assim assegura o controlo do poder.

Estas foram algumas das linhas mestras que Peninha afivelou, mas nada quis dizer ao primo, para que quando fosse entrevistado fazer um brilharete. Orgulho da família!

Decidiu partir no Domingo para os USA e preparou a mala:

Levava como traje para assistir à cerimónia, um smoking aveludado de lilás, com um colete amarelo de cetim, umas calças de bombazina de cor de vinho escuro a dar ton sur ton com o smoking. Sapatos não podiam deixar de ser de verniz caramelizado. A camisa, branca lisa, com os colarinhos revirados aonde poria um papillon de pintas amarelas sobre um fundo azul. Na cabeça e por causa do frio, um boné à Tonicha. Levava, mais uma vez, a capa à espanhola pois seria sempre conveniente, não fosse o tempo esfriar.

Foi para o aeroporto e estava entre cansado, nervoso e muito excitado. Não percebia nada do aeroporto e das portas pois desde há muito que não viajava de avião e tudo estava mudado para melhor, pensou!

Foi ao bar, tomou uma pastilha para dormir e quando viu toda a gente embarcar pôs-se atrás e seguiu-os sem cuidar de mais nada, pois já estava até meio adormecido.

Muitas horas depois acordou com a hospedeira a tocar-lhe no braço e a dizer-lhe que era tempo de sair do avião.

- Já chegámos a Washington? – perguntou contente, pois a pastilha tinha sido eficaz.

- No Señor, estamos en Caracas. El vuelo era Lisboa, Washington, Caracas. 

O Peninha tinha falhado a escala! Porra!

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Mário Soares

MÁRIO SOARES

É normal que se façam reportagens e entrevistas a propósito da morte de Mário Soares. Têm passado nos écrans tudo quanto é gente da esquerda, do centro e da direita. Repetem-se as palavras e os encómios e mais uma vez acho normal.

No entanto, tal como qualquer um de nós quando morrer, não seremos mais do que cinza, pó e nada.
E o tempo, no seu decurso inexorável, irá apagando a sua memória, não porque mereça ser esquecido no que de bem fez, mas porque a história é imparável e haverá que avançar e novos desafios nos esperam no presente e no futuro e não se avizinham fáceis.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

O PENINHA E O NOVO BANCO



O PENINHA E O NOVO BANCO

O Peninha já anda há muito a ruminar em como pode ajudar o país, contribuindo com qualquer gesto grandioso que o faça ser recordado no futuro.

Com estes últimos acontecimentos no NOVO BANCO, o Peninha julgou chegado o momento de intervir.

Um tio do Peninha, o sr. Asdrúbal, fora nos bons tempos da família Espírito Santo, bicheiro na Quinta do Perú, e pendurava religiosamente nas árvores que conduziam á casa, tudo quanto era de animais nocivos à caça, para os patrões verem bem que desempenhava as suas funções a contento: milhafres, águias de pequeno porte, ratazanas, gatos selvagens…

Sempre tivera, por isso, a gratidão da família e em troca também sempre depositara as suas poupanças nos bancos do GES. Esta devoção fora transmissível à restante família do sr. Asdrúbal, pelo que o Peninha sempre fora cliente do BES.

Qual não foi, por isso, a enorme dor, desilusão e prejuízo quando todo o império se desmoronou. Tinha aplicado umas massas no papel comercial e ficou sem nada. Infelizmente tinha em alternativa uma outra parte no Banif e ficou sem nada. O que vale foi uma herança pequena de uma tia Felismina do Sul, que lhe deixou uns Certificados de Aforro de que Peninha vai vivendo, para além do seu ordenado mensal.

Peninha trabalha, como funcionário público, num departamento de apoio à emigração pelo que conhece muitos emigrantes estrangeiros, cujos processos lhes passam pelas mãos.

Ora, um certo Sadiq, de nacionalidade paquistanesa, dá-se ares de ter bons contactos na banca do seu país. Peninha lembrou-se de que uma prima servia a dias na casa do dr. Sérgio Monteiro, que está indicado pelo Banco de Portugal, para liderar as negociações do NOVO BANCO.

Começou por sondar Sadiq que lhe prometeu falar a uns amigos poderosos em Karachi e retornar sobre o potencial interesse da compra do banco.

Por outro lado, haveria de pedir à prima que falasse ao dr. Sérgio Monteiro para este o receber quando houvesse algo de concreto.

Sadiq convocou-o e disse-lhe que um grupo de paquistaneses estava altamente interessado na aquisição do banco e que portanto ele que avançasse com o contacto.

Peninha, começou a sentir-se importante e a estar imbuído daquele espírito de missão patriótica de um Gama ou Albuquerque e lá conseguiu que a prima lhe arranjasse uns 10m no fim-de-semana para uma conversa com o dr. Sérgio Monteiro.

Vestiu-se como julgava um banqueiro o fizesse: fato Hugo Boss azul-marinho, com as calças a esterlicarem em baixo junto às canelas, cinto de coiro preto com uma fivela de cowboy em prata, uma camisa com colarinhos à Mao, com dois botões, e na lapela uma bandeira de Portugal em esmalte, pois não era para menos. Os sapatos ainda pensou pôr os de pele de lagarto castanhos, mas acabou por optar por uns All Star casual.

Lá chegado a casa do dr. Sérgio Monteiro, a prima disse-lhe que fosse tomar um café e voltasse dali a uma hora, pois o dr. tinha-se deitado tarde e ainda estava a dormir. Peninha achou de uma grande desconsideração, mas não teve outro remédio, pois nem para a sala o mandaram entrar.

Regressado ao apartamento, a prima mandou-o entrar e pediu-lhe que aguardasse, pois o dr. estava a acabar o pequeno-almoço.

Nisto, aparece-lhe o dr. Sérgio Monteiro de roupão de seda com dragões de fogo e estendendo-lhe a mão, diz-lhe:

- Desculpe estar de roupão, mas estou com muito sono ainda, pois ontem foi uma noitada com uns chineses de um banco comprador e ainda vou voltar para a cama. Então diga lá!

Peninha ficou sem fala e atrapalhado. Bloqueou-se-lhe o raciocínio, mas vendo que ele esperava que ele falasse, lá lhe foi dizendo que conheçia um Sadiq, paquistanês, comerciante de grosso trato, que tem uns amigos comerciantes em Karachi que querem comprar o NOVO BANCO pois têm lojas em Portugal e têm dificuldades em abrir cartas de crédito…..e logo o dr.Sérgio Monteiro, o interrompe e diz:

- Meu caro amigo, muito obrigado pelo seu empenho e esforço em ajudar o país. No entanto o valor que estamos a pedir pela compra do banco é tão baixo, tão baixo que seguramente não interessará aos seus amigos comerciantes que estão dispostos a pagar vultuosas quantias. Não deixarei de mencionar ao dr. Carlos Costa, o seu interesse e talvez se possa um dia fazer um negócio com o Paquistão.

Levantando-se, começou a dirigir-se em direcção à porta e estendendo-lhe a mão despediu-se dizendo que tinha de voltar para a cama.

Peninha encontrou-se na rua, entre contente e desiludido. Contente por ter sido reconhecido o seu esforço em ter querido ser de mais-valia para o seu país, mas desiludido pois tinha achado que o grupo paquistanês seria considerado de grande impacto económico e financeiro.

Peninha ainda teve uma reunião com Sadiq o qual lhe disse que afinal percebera que se tratava de um banco e não de uma casa de câmbios, pois os que eles queriam era aumentar a loja que tinham na Almirante Reis para fazer transferências.


segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

CHAMADA TELEFÓNICA PARA MIM, DE UMA CLÍNICA DIETÉTICA


CHAMADA TELEFÓNICA PARA MIM, DE UMA CLÍNICA DIETÉTICA

(Voz de gata, arrastada e mimada) : Táaaa? Tou a falar com o Manuéel?

Eu- Tá, tá

Ela: Em primeiro lugar um Bom Ano, Manuéel...

Eu: Agradecido e também retribuo.

Ela: Manuel, temos uma oferta irrecusável, Manuel para ter uma consulta grátes na nossa Clínica, Manuel, o que acha Manuel!

Eu: Como se chama?

Ela: Kátia, Manuel.

Eu: também se chama Manuel, Kátia Manuel...nunca tinha ouvido...

Ela: O Manuel é tão engraçado...(juro poder ter ouvido um ronronar gatal a rir de mansinho)

Eu a finalizar: Olhe Kátia, teremos que deixar para depois do dia 15 de Janeiro, pois estou com uma gripe daquelas violentas (verdade, mas estou muito melhor..ahahah) e temo que só para essa altura possa estar disponível.

Ela ( miando de gozo por eu não ter cancelado e prever uma comissão, aliás justa!): Olhe Manuel, quer que eu lhe telefone ou telefona-me?

Eu: fica combinado ( que é uma maneira delicada de deixar tudo à vontade do Altíssimo...ou seja ao deusdará...

Ahahahahah...ainda estremeço com o som do Manueeeelll