O PENINHA E O NOVO BANCO
O Peninha já anda há muito a ruminar em como pode ajudar o
país, contribuindo com qualquer gesto grandioso que o faça ser recordado no
futuro.
Com estes últimos acontecimentos no NOVO BANCO, o Peninha
julgou chegado o momento de intervir.
Um tio do Peninha, o sr. Asdrúbal, fora nos bons tempos da
família Espírito Santo, bicheiro na Quinta do Perú, e pendurava religiosamente
nas árvores que conduziam á casa, tudo quanto era de animais nocivos à caça,
para os patrões verem bem que desempenhava as suas funções a contento:
milhafres, águias de pequeno porte, ratazanas, gatos selvagens…
Sempre tivera, por isso, a gratidão da família e em troca também
sempre depositara as suas poupanças nos bancos do GES. Esta devoção fora
transmissível à restante família do sr. Asdrúbal, pelo que o Peninha sempre
fora cliente do BES.
Qual não foi, por isso, a enorme dor, desilusão e prejuízo
quando todo o império se desmoronou. Tinha aplicado umas massas no papel
comercial e ficou sem nada. Infelizmente tinha em alternativa uma outra parte
no Banif e ficou sem nada. O que vale foi uma herança pequena de uma tia
Felismina do Sul, que lhe deixou uns Certificados de Aforro de que Peninha vai
vivendo, para além do seu ordenado mensal.
Peninha trabalha, como funcionário público, num departamento
de apoio à emigração pelo que conhece muitos emigrantes estrangeiros, cujos
processos lhes passam pelas mãos.
Ora, um certo Sadiq, de nacionalidade paquistanesa, dá-se
ares de ter bons contactos na banca do seu país. Peninha lembrou-se de que uma
prima servia a dias na casa do dr. Sérgio Monteiro, que está indicado pelo Banco
de Portugal, para liderar as negociações do NOVO BANCO.
Começou por sondar Sadiq que lhe prometeu falar a uns amigos
poderosos em Karachi e retornar sobre o potencial interesse da compra do banco.
Por outro lado, haveria de pedir à prima que falasse ao dr.
Sérgio Monteiro para este o receber quando houvesse algo de concreto.
Sadiq convocou-o e disse-lhe que um grupo de paquistaneses
estava altamente interessado na aquisição do banco e que portanto ele que
avançasse com o contacto.
Peninha, começou a sentir-se importante e a estar imbuído
daquele espírito de missão patriótica de um Gama ou Albuquerque e lá conseguiu
que a prima lhe arranjasse uns 10m no fim-de-semana para uma conversa com o dr.
Sérgio Monteiro.
Vestiu-se como julgava um banqueiro o fizesse: fato Hugo Boss azul-marinho, com as calças a esterlicarem em baixo junto às canelas,
cinto de coiro preto com uma fivela de cowboy em prata, uma camisa com
colarinhos à Mao, com dois botões, e na lapela uma bandeira de Portugal em
esmalte, pois não era para menos. Os sapatos ainda pensou pôr os de pele de
lagarto castanhos, mas acabou por optar por uns All Star casual.
Lá chegado a casa do dr. Sérgio Monteiro, a prima disse-lhe
que fosse tomar um café e voltasse dali a uma hora, pois o dr. tinha-se deitado
tarde e ainda estava a dormir. Peninha achou de uma grande desconsideração, mas
não teve outro remédio, pois nem para a sala o mandaram entrar.
Regressado ao apartamento, a prima mandou-o entrar e
pediu-lhe que aguardasse, pois o dr. estava a acabar o pequeno-almoço.
Nisto, aparece-lhe o dr. Sérgio Monteiro de roupão de seda
com dragões de fogo e estendendo-lhe a mão, diz-lhe:
- Desculpe estar de roupão, mas estou com muito sono ainda,
pois ontem foi uma noitada com uns chineses de um banco comprador e ainda vou voltar
para a cama. Então diga lá!
Peninha ficou sem fala e atrapalhado. Bloqueou-se-lhe o
raciocínio, mas vendo que ele esperava que ele falasse, lá lhe foi dizendo que
conheçia um Sadiq, paquistanês, comerciante de grosso trato, que tem uns amigos
comerciantes em Karachi que querem comprar o NOVO BANCO pois têm lojas em
Portugal e têm dificuldades em abrir cartas de crédito…..e logo o dr.Sérgio
Monteiro, o interrompe e diz:
- Meu caro amigo, muito obrigado pelo seu empenho e esforço
em ajudar o país. No entanto o valor que estamos a pedir pela compra do banco é
tão baixo, tão baixo que seguramente não interessará aos seus amigos
comerciantes que estão dispostos a pagar vultuosas quantias. Não deixarei de
mencionar ao dr. Carlos Costa, o seu interesse e talvez se possa um dia fazer
um negócio com o Paquistão.
Levantando-se, começou a dirigir-se em direcção à porta e
estendendo-lhe a mão despediu-se dizendo que tinha de voltar para a cama.
Peninha encontrou-se na rua, entre contente e desiludido.
Contente por ter sido reconhecido o seu esforço em ter querido ser de mais-valia
para o seu país, mas desiludido pois tinha achado que o grupo paquistanês seria
considerado de grande impacto económico e financeiro.
Peninha ainda teve uma reunião com Sadiq o qual lhe disse
que afinal percebera que se tratava de um banco e não de uma casa de câmbios,
pois os que eles queriam era aumentar a loja que tinham na Almirante Reis para
fazer transferências.