quarta-feira, 15 de junho de 2016

O PENINHA E O ENCONTRO COM RONALDO

O PENINHA E O ENCONTRO COM RONALDO

O Peninha deslocou-se de autocarro a Caxias ao novo centro de formação da FPF para tentar falar com Cristiano Ronaldo.

Pensou, pensou e disse para si próprio: sem entrevista marcada, tenho que ir vestido de uma forma apelativa para chamar a atenção do Cristiano, senão nem me deixam entrar.

Assim fez: começou pelas cuecas que tinha comprado nos chineses – com a imagem do Ronaldo aos xutos e pontapés a uma bola – depois escolheu uma camisa branca com a cara da mãe Aveiro estampada, a vender bananas da Madeira (achou que ele havia de gostar) e finalmente seleccionou uns jeans rotos, que o eram pelo uso desde há anos, mas cujos rasgões e buracos estavam à moda.
Nos pés umas xanatas com meias grossas de futebol, pois assim dava um toque, um sinal a que ia.
Um cap, tipo boné que dizia “ a Madeira é um jardim”. Olhou-se ao espelho e sorriu: - um janota, é o que sou!

Claro está que no autocarro era o alvo da atenção de toda a gente, pois já não bastava o traje que portava, mas tinha engordado estupidamente, e tinha um ventre descomunal. Era uma verdadeira visão do não-desportista.

Lá chegado, apresentou-se ao portão e disse orgulhoso: - Venho para uma reportagem com o nosso campeão. Sou jornalista do “Alvorada do Senhor Roubado” a Odivelas.

O porteiro não conteve o riso e disse-lhe – mas você julga que ele vai alguma vez aceitar ser entrevistado por si?

Peninha, empertigou-se e sentindo-se atingido no seu brio profissional respondeu-lhe com uma voz fria: - deixe-me entrar para as bancadas e logo verá. Para já venho assistir aos treinos.

O porteiro deixou-o passar e Peninha dirigiu-se às bancadas aonde aquela hora da manhã ainda havia pouca gente. Sentou-se e esperou que Ronaldo chegasse, pois só lá estavam ainda uns poucos.

Finalmente, Cristiano Ronaldo chegou. De popa levantada, cheia de brilho de banha no cabelo, peito enfunado e olhando para todo o lado a ver que audiência tinha. De repente tosca o Peninha e desata a rir, sem parar, com um ar teatral! Aproxima-se devagar das bancadas e ao chegar perto de Peninha, faz: - pst, pst você aí, seu anormaleco, venha aqui.

Peninha olhou à sua volta, não estava ninguém com um baque no coração, pensou: - é para mim! E aproximou-se entre o tímido e o excitado. – Estava a chamar-me? – disse, na direcção de Ronaldo.

Cristiano, sem parar de rir, respondeu-lhe: - Claro!

Chegando perto, Ronaldo mirou-o dos pés à cabeça e disse-lhe: - é pá, estás o máximo, dá cá um abraço. E estreitando-o nos braços, ficaram assim uns segundos.

Peninha, desmaiou de comoção e quando acordou estava no posto de enfermagem do centro de estágio da FPF.

Um enfermeiro virou-se para ele e disse-lhe: - Isso deve ter sido do sol, pois você desmaiou à entrada e teve que ser trazido para aqui. Que raio de traje é esse?

Peninha, esfregou os olhos e perguntou-lhe: - mas eu não fui abraçado pelo Cristiano Ronaldo?

- Ó homem, o Cristiano está em França a jogar no campeonato, aqui não está ninguém. Sorte teve você de eu ter passado por aqui, senão tinha ficado ali à porta sem ninguém dar fé de si. Vá lá andando, pois já está melhor e da próxima vez, cuide-se.

Peninha, estonteado levantou-se e cabisbaixo saiu devagar para a rua. Sentou-se num banco à sombra ali ao perto e pôs-se a cogitar:
Ainda bem que existem outros dias. E outros sonhos. E outros sorrisos. E outras pessoas. E outras coisas...

E partiu rumo ao Senhor Roubado, com ânimo para novas aventuras.

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