O PENINHA E O ENCONTRO COM RONALDO
O Peninha deslocou-se de autocarro a Caxias ao novo centro de formação da FPF para tentar falar com Cristiano Ronaldo.
Pensou,
pensou e disse para si próprio: sem entrevista marcada, tenho que ir
vestido de uma forma apelativa para chamar a atenção do Cristiano, senão
nem me deixam entrar.
Assim fez: começou pelas cuecas que tinha
comprado nos chineses – com a imagem do Ronaldo aos xutos e pontapés a
uma bola – depois escolheu uma camisa branca com a cara da mãe Aveiro
estampada, a vender bananas da Madeira (achou que ele havia de gostar) e
finalmente seleccionou uns jeans rotos, que o eram pelo uso desde há
anos, mas cujos rasgões e buracos estavam à moda.
Nos pés umas xanatas com meias grossas de futebol, pois assim dava um toque, um sinal a que ia.
Um cap, tipo boné que dizia “ a Madeira é um jardim”. Olhou-se ao espelho e sorriu: - um janota, é o que sou!
Claro
está que no autocarro era o alvo da atenção de toda a gente, pois já
não bastava o traje que portava, mas tinha engordado estupidamente, e
tinha um ventre descomunal. Era uma verdadeira visão do não-desportista.
Lá
chegado, apresentou-se ao portão e disse orgulhoso: - Venho para uma
reportagem com o nosso campeão. Sou jornalista do “Alvorada do Senhor
Roubado” a Odivelas.
O porteiro não conteve o riso e disse-lhe – mas você julga que ele vai alguma vez aceitar ser entrevistado por si?
Peninha,
empertigou-se e sentindo-se atingido no seu brio profissional
respondeu-lhe com uma voz fria: - deixe-me entrar para as bancadas e
logo verá. Para já venho assistir aos treinos.
O porteiro deixou-o
passar e Peninha dirigiu-se às bancadas aonde aquela hora da manhã
ainda havia pouca gente. Sentou-se e esperou que Ronaldo chegasse, pois
só lá estavam ainda uns poucos.
Finalmente, Cristiano Ronaldo
chegou. De popa levantada, cheia de brilho de banha no cabelo, peito
enfunado e olhando para todo o lado a ver que audiência tinha. De
repente tosca o Peninha e desata a rir, sem parar, com um ar teatral!
Aproxima-se devagar das bancadas e ao chegar perto de Peninha, faz: -
pst, pst você aí, seu anormaleco, venha aqui.
Peninha olhou à sua
volta, não estava ninguém com um baque no coração, pensou: - é para mim!
E aproximou-se entre o tímido e o excitado. – Estava a chamar-me? –
disse, na direcção de Ronaldo.
Cristiano, sem parar de rir, respondeu-lhe: - Claro!
Chegando
perto, Ronaldo mirou-o dos pés à cabeça e disse-lhe: - é pá, estás o
máximo, dá cá um abraço. E estreitando-o nos braços, ficaram assim uns
segundos.
Peninha, desmaiou de comoção e quando acordou estava no posto de enfermagem do centro de estágio da FPF.
Um
enfermeiro virou-se para ele e disse-lhe: - Isso deve ter sido do sol,
pois você desmaiou à entrada e teve que ser trazido para aqui. Que raio
de traje é esse?
Peninha, esfregou os olhos e perguntou-lhe: - mas eu não fui abraçado pelo Cristiano Ronaldo?
-
Ó homem, o Cristiano está em França a jogar no campeonato, aqui não
está ninguém. Sorte teve você de eu ter passado por aqui, senão tinha
ficado ali à porta sem ninguém dar fé de si. Vá lá andando, pois já está
melhor e da próxima vez, cuide-se.
Peninha, estonteado
levantou-se e cabisbaixo saiu devagar para a rua. Sentou-se num banco à
sombra ali ao perto e pôs-se a cogitar:
Ainda bem que existem outros dias. E outros sonhos. E outros sorrisos. E outras pessoas. E outras coisas...
E partiu rumo ao Senhor Roubado, com ânimo para novas aventuras.
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