NOVAS INICIATIVAS NA MINHA ACTIVIDADE DE APOIO AOS RECLUSOS – 2016 ANO DE ARRANQUE
Volto hoje ao tema que me ocupou durante este ano: a assistência aos reclusos.
Quero implementar este ano de 2016 o meu projecto da criação de um
“think tank” com fundos independentes do Estado e apoiado por fundos
europeus.
Mas, gostaria antes,
de chamar as coisas pelos nomes: muito pouco foi feito pelos interesses
dos reclusos, durante este desvario incessante em que Portugal, o
Governo e as Instituições políticas passaram o ano todo. Fora louváveis
iniciativas de instituições particulares que sendo muito meritórias, são
uma gota de água no oceano, falhou o interesse real em discutir as
medidas de reinserção numa perspectiva de um Estado moderno que olha
para os presos não como os eternos abandonados, mas aqueles a quem a
sociedade deve atenção, apoio moral e material numa tentativa de os
recuperar para uma vida futura digna e inseridos nas suas famílias e
meio ambiente.
Eu sei que sou malvisto por defender quase, o indefensável.
A ideia que se tem cá fora das prisões é de que os reclusos são
barbudos, insolentes, indisciplinados e que merecem tudo: má-comida,
fria, duches gelados, muito tempo nas celas e outras condições de
incomodidade e sofrimento acrescidas à própria pena de privação da
liberdade.
Contactei os Grupos Parlamentares de todos os
partidos, enviei-lhes memorandos da minha experiência como professor-
voluntário de português para estrangeiros na prisão de Alta Segurança de
Monsanto, visitei o Provedor de Justiça, e a minha batalha foi
incansável para conseguir melhores condições.
Tive um infinito
prazer em ter dado e sobretudo recebido dos reclusos, a amizade,
reciprocidade e o reconhecimento de que os tratava como pessoas a quem,
sem nenhum interesse pessoal, estava a tentar ajudar a melhorarem as
suas situações morais, psicológicas e de tratamento mais justo. Ganhei
em humildade, tolerância e não-julgamento dos comportamentos dos outros
com ligeireza e sem fundamentação.
Esse foi, verdadeiramente o meu prémio, e a eles lhes estou muito grato.
Chegou a altura de agir e de não fazer depender a minha actuação nem as
minhas iniciativas de qualquer instituição pública ou privada. Existem
demasiadas barreiras e interesses mesquinhos, torpezas, estupidez,
incompetência e até maldade.
Por isso esta Instituição que
intentarei criar ao longo deste ano, será dotada de uma equipa de
profissionais competentes, generosos, preparados para lidar com os
outros e com uma potencial vocação para este sector. Será um conjunto de
pessoas bem pagos de acordo com os resultados que deles se esperam e
por forma a poderem ficar libertados de constrangimentos financeiros
familiares e a esta causa se poderem dedicar.
Farei parcerias
com Universidades portuguesas e estrangeiras e tentarei que as
experiências bem-sucedidas em outros países possam por nós ser
adoptadas.
Preciso de estabelecer boas, duradouras e cordiais
relações com o Estado Português, através das Autoridades que regulam
esta área de intervenção, mas desejo que sejam num estatuto de
igualdade, ou seja, em conjunto podermos ser intérpretes de reformas e
progressos a benefício dos reclusos e do sector prisional, como um todo.
De quem estou à procura:
1. De pessoas imbuídas do mesmo espírito e até sem muita formação mas
com apetência, para pensarmos em conjunto quais as melhores e mais
inovadoras soluções;
2. De empresas do sector privado e do
tecido empresarial que em conjugação com o Estado e connosco, bem com
com outras intuições similares, criem condições de empregabilidade no
âmbito da reinserção;
3. De fundos privados de Fundações ou
outras Instituições nacionais ou estrangeiras do sector ou com fins
congéneres e ou benfeitores ou beneméritos que queiram em conjunto
connosco, criar uma almofada de conforto para a pesquisa, formação e
implementação de métodos de reinserção que modifiquem o panorama actual
nacional.
São estes, assim, os meus votos para que 2016 me permita começar.
Assim Deus me ajude.
segunda-feira, 28 de dezembro de 2015
O Fonseca, coitado
Ontem à tarde, cruzando-me com dois desconhecidos no passeio, ouvi de raspão a conversa entre os dois: - Coitado, do Fonseca, lá foi, sabias? Diz o outro: - Andava adoentado, também apoquentado e a vida corria-lhe mal! E isto não é por acaso, o que acontece à maioria das pessoas? Fiquei a cogitar que uma frase deste género se dirá no dia em que eu morrer. E doeu cá dentro a sensação de desperdício de energias que gastamos numa vida: zangas, desencontros, lutas para sermos vencedores, invejas e maledicências que suscitamos, também gratidão, amor, amizade, sentimentos de solidão, de prazer e de sensualidade e tantas outras sensações de dor ou de alegria....para umas frases curtas e "redondas" sobre e quando da nossa partida. And is that all? Não sei quem era o Fonseca mas seguramente a indiferença com que será lembrado com o decorrer do tempo, há de ser mais ou menos igual à minha! Convencidos que somos imortais...cinza, pó e nada! Tenho uma vaga esperança que possa ainda vir a ser o primeiro a vos falar de como é depois, quer no facebook ou no meu blogue. Tenho que escrever ao meu primo Luis Bernardo, pois ando arredio e com o Natal, as festas no paraíso são de grande qualidade e cheias de novidades. Coitado do Fonseca, paz à sua alma! |
domingo, 27 de dezembro de 2015
Fotografia
Gosto muito de fotografia e adoro ir por aí à cata de temas invulgares, podendo ser pessoas, coisas, sítios, animais, ideias.
É um hobby que não cansa, é criativo, muito relaxante e pode ser feito a sós, sem precisão de companhia, quando se apeteça um certo silêncio.
Tenho umas máquinas fotográficas muito boas, uma Olympus comprada em Macau em 1980 com todos os apetrechos e uma Canon digital comprada nos USA, recentemente. Devo confessar que também tenho tirado excelentes fotografias quer com o iPhone quer com o Samsung.
Das coisas que mais prazer me dá é procurar ângulos estranhos, luzes diferentes, novas perspectivas.
Confesso que fico pasmado quando vejo o turista banal e vulgar tirar automáticamente centenas de fotografias a cada uma das paragens que o bus faz, para depois NUNCA mais voltar a olhar, coisa que se percebe se se tratar de um pombo feio e sujo em cima de um murete lateral de pedra do parque Eduardo VII?
Do you follow me?
Juntar amigos para um jantar e a seguir fechar as luzes da sala e obrigar os convidados a ver centenas de fotos detalhadas da viagem a Tumbuctu????
É demais, não achais?
Eu acho e fujo a sete pés destes programinhos...
É um hobby que não cansa, é criativo, muito relaxante e pode ser feito a sós, sem precisão de companhia, quando se apeteça um certo silêncio.
Tenho umas máquinas fotográficas muito boas, uma Olympus comprada em Macau em 1980 com todos os apetrechos e uma Canon digital comprada nos USA, recentemente. Devo confessar que também tenho tirado excelentes fotografias quer com o iPhone quer com o Samsung.
Das coisas que mais prazer me dá é procurar ângulos estranhos, luzes diferentes, novas perspectivas.
Confesso que fico pasmado quando vejo o turista banal e vulgar tirar automáticamente centenas de fotografias a cada uma das paragens que o bus faz, para depois NUNCA mais voltar a olhar, coisa que se percebe se se tratar de um pombo feio e sujo em cima de um murete lateral de pedra do parque Eduardo VII?
Do you follow me?
Juntar amigos para um jantar e a seguir fechar as luzes da sala e obrigar os convidados a ver centenas de fotos detalhadas da viagem a Tumbuctu????
É demais, não achais?
Eu acho e fujo a sete pés destes programinhos...
Saldos
Estou a ouvir no canal Mezzo, para variar da turbulência natalícia, um
magnífico concerto com peças de Bizet e Tchaikowisky. Lindo.
Fixo uma ou duas das violinistas, observo ao pormenor o traje, a cara, o desempenho e voo dali para fora e pergunto-me o que as terá feito escolher esta vida que tanta dedicação pressupõe?
Decidiram em novas irem para um Conservatório? Por serem feias e não terem namorados? Irem a festas e não terem sucesso? Mais tarde e já em outras idades, será que são casadas, têm filhos, têm companheiros ou companheiras? Conhecerão homem ou mulher? Saberão dar a mão a um pôr-do-sol ou amanhecer? Tudo isto me causa curiosidade na minha senda habitual de "human's-watcher"!
Enfim, locubrações de 26 de Dezembro, o chamado "Boxing day"!
A propósito vi na televisão milhares de criaturas desde a madrugada, em muitas capitais consumistas por esse mundo e cá também, à coca de um soutien, calcinhas, cuecame, ou doutra imbecil peça de roupa, no meio de empurrões e gritos, para pouparem uns duros..
Pobre gente! Mas ele hade-os.....ahah.....de famílias do nosso melhor high-life!
Fixo uma ou duas das violinistas, observo ao pormenor o traje, a cara, o desempenho e voo dali para fora e pergunto-me o que as terá feito escolher esta vida que tanta dedicação pressupõe?
Decidiram em novas irem para um Conservatório? Por serem feias e não terem namorados? Irem a festas e não terem sucesso? Mais tarde e já em outras idades, será que são casadas, têm filhos, têm companheiros ou companheiras? Conhecerão homem ou mulher? Saberão dar a mão a um pôr-do-sol ou amanhecer? Tudo isto me causa curiosidade na minha senda habitual de "human's-watcher"!
Enfim, locubrações de 26 de Dezembro, o chamado "Boxing day"!
A propósito vi na televisão milhares de criaturas desde a madrugada, em muitas capitais consumistas por esse mundo e cá também, à coca de um soutien, calcinhas, cuecame, ou doutra imbecil peça de roupa, no meio de empurrões e gritos, para pouparem uns duros..
Pobre gente! Mas ele hade-os.....ahah.....de famílias do nosso melhor high-life!
Allure
Sempre me perguntei porquê a pinderiquice de se andar na rua com garrafas de água de plástico e a beber sem parar????
Ainda se fossem de prata com as armas gravadas e dentro com um bom scotch ou outro cordial?
Para já, a água sai chilra, quente, um desastre...depois nunca li que ajudasse a fazer passar os efeitos do após-almoço em pé aonde no fim se toma uma mosca, uma amarguinha ou uma grappa em sendo-se mais fino e passeando em Itália.
A água serve para nos lavarmos e sem muita frequência, pois gasta a pele. Só em dias de festa tais como o Natal, em algum dia da vitória do Benfica para limparmos as impurezas e sim, quando alguma vez tivermos a visita de algum político nefando para afastarmos o mau-cheiro.
É ridículo e inestético e isso eu não perdoo. Tudo menos isso!
I say.
Ainda se fossem de prata com as armas gravadas e dentro com um bom scotch ou outro cordial?
Para já, a água sai chilra, quente, um desastre...depois nunca li que ajudasse a fazer passar os efeitos do após-almoço em pé aonde no fim se toma uma mosca, uma amarguinha ou uma grappa em sendo-se mais fino e passeando em Itália.
A água serve para nos lavarmos e sem muita frequência, pois gasta a pele. Só em dias de festa tais como o Natal, em algum dia da vitória do Benfica para limparmos as impurezas e sim, quando alguma vez tivermos a visita de algum político nefando para afastarmos o mau-cheiro.
É ridículo e inestético e isso eu não perdoo. Tudo menos isso!
I say.
quarta-feira, 23 de dezembro de 2015
O ALMOÇO DE CABRITO NO MEU CLUBE
O ALMOÇO DE CABRITO NO MEU CLUBE
Hoje havia cabrito ao almoço no meu Clube, oferecido por um sócio.
Nunca vou nestas festas natalícias ou outras do género, de carro para o Chiado e assim apanhei o metro cuja linha, a azul, dá acesso à Rua Garrett através de umas longas escadas rolantes de quatro patamares.
Já tenho aqui refilado pela inércia do Metro ou seja de quem for responsável, por deixar invariavelmente, em épocas festivas e ou de grande afluência, vários lanços sem funcionar.
Esta manhã, para quem descia, havia umas quantas em reparação. Ora vindo eu no sentido contrário, ou seja a subir, pus-me do lado direito para deixar passar quem assim quisesse.
Um rapaz dos seus 23 a 24 anos, vinha, qual borboleta, salteando pelos degraus acima, como se as escadas não fossem rolantes! Fiquei mesmo cheio de inveja, pois ainda que me sinta capaz de o fazer em caso de emergência, tipo ter a ameaça de uma bomba, ou de algum terrorista perseguindo-me para me matar, tenho a convicção de que chegaria ao cume e cairia, com dignidade, esfalecido de tanto cansaço, entregando-me, por isso, às mãos de tão ferozes algozes!
Lá saí no luminoso Largo do poeta Chiado, que cheio, regurgitava de músicos ambulantes e dançarinos, de estrangeiros divertidos pela animação, encantados pelo movimento.
Encontrei dois parentes a engraxarem os sapatos, encostados às paredes do antigo Ramiro Leão, que iam almoçar para o outro Clube em frente do meu.
Conversa amena, sobre tudo menos de política e continuei, depois das boas-festas dadas, em direcção à Bertrand, aonde tentaria comprar dois livros que me interessam e que me presenteio em época natalícia.
Muita gente dentro a folhear e ler livros, e apesar de ir com tempo, deixei para a tarde quando saísse do Clube.
Quando lá voltei, fiquei a saber que estavam esgotados e ainda tentando na FNAC, tive a mesma sorte.
Eram para aí umas 19h e já com o Chiado todo iluminado, o movimento parecia imparável: gente a entrar e sair das lojas, mil idiomas falados, gargalhadas, música tocada por amadores nos passeios, um fim de tarde próprio da época.
Ao descer para a Rua do Ouro ainda passei na Livraria Férin, aonde o dono, o meu amigo João Paulo tem sempre últimas novidades sobre livros que estão para sair ou de recentes edições. Também não tinha e segui. Dirigi-me então ao Rossio para apanhar o metro de retorno a casa, nos Restauradores. Também muita gente e então no Rossio nem se fala.
Vinha calmamente a observar as gentes, a escrutinar as caras, as conversas, as emoções que deixavam transparecer…frases soltas, e pensei como somos ainda sortudos aqui em Portugal de não termos o sofrimento de povos martirizados pelo ódio, pela guerra e pelas bombas, pelo terrorismo.
À despedida no Clube, um amigo perspicaz, diz-me : - que o Costa se mantenha e que continue pelo mandato até ao fim. São todos iguais, e sabes, eu não vivo disto por isso, não me importo nada nem dramatizo.
Hoje havia cabrito ao almoço no meu Clube, oferecido por um sócio.
Nunca vou nestas festas natalícias ou outras do género, de carro para o Chiado e assim apanhei o metro cuja linha, a azul, dá acesso à Rua Garrett através de umas longas escadas rolantes de quatro patamares.
Já tenho aqui refilado pela inércia do Metro ou seja de quem for responsável, por deixar invariavelmente, em épocas festivas e ou de grande afluência, vários lanços sem funcionar.
Esta manhã, para quem descia, havia umas quantas em reparação. Ora vindo eu no sentido contrário, ou seja a subir, pus-me do lado direito para deixar passar quem assim quisesse.
Um rapaz dos seus 23 a 24 anos, vinha, qual borboleta, salteando pelos degraus acima, como se as escadas não fossem rolantes! Fiquei mesmo cheio de inveja, pois ainda que me sinta capaz de o fazer em caso de emergência, tipo ter a ameaça de uma bomba, ou de algum terrorista perseguindo-me para me matar, tenho a convicção de que chegaria ao cume e cairia, com dignidade, esfalecido de tanto cansaço, entregando-me, por isso, às mãos de tão ferozes algozes!
Lá saí no luminoso Largo do poeta Chiado, que cheio, regurgitava de músicos ambulantes e dançarinos, de estrangeiros divertidos pela animação, encantados pelo movimento.
Encontrei dois parentes a engraxarem os sapatos, encostados às paredes do antigo Ramiro Leão, que iam almoçar para o outro Clube em frente do meu.
Conversa amena, sobre tudo menos de política e continuei, depois das boas-festas dadas, em direcção à Bertrand, aonde tentaria comprar dois livros que me interessam e que me presenteio em época natalícia.
Muita gente dentro a folhear e ler livros, e apesar de ir com tempo, deixei para a tarde quando saísse do Clube.
Quando lá voltei, fiquei a saber que estavam esgotados e ainda tentando na FNAC, tive a mesma sorte.
Eram para aí umas 19h e já com o Chiado todo iluminado, o movimento parecia imparável: gente a entrar e sair das lojas, mil idiomas falados, gargalhadas, música tocada por amadores nos passeios, um fim de tarde próprio da época.
Ao descer para a Rua do Ouro ainda passei na Livraria Férin, aonde o dono, o meu amigo João Paulo tem sempre últimas novidades sobre livros que estão para sair ou de recentes edições. Também não tinha e segui. Dirigi-me então ao Rossio para apanhar o metro de retorno a casa, nos Restauradores. Também muita gente e então no Rossio nem se fala.
Vinha calmamente a observar as gentes, a escrutinar as caras, as conversas, as emoções que deixavam transparecer…frases soltas, e pensei como somos ainda sortudos aqui em Portugal de não termos o sofrimento de povos martirizados pelo ódio, pela guerra e pelas bombas, pelo terrorismo.
À despedida no Clube, um amigo perspicaz, diz-me : - que o Costa se mantenha e que continue pelo mandato até ao fim. São todos iguais, e sabes, eu não vivo disto por isso, não me importo nada nem dramatizo.
domingo, 20 de dezembro de 2015
sábado, 19 de dezembro de 2015
O último abraço que me dás - por António Lobo Antunes - Muito bom
O último abraço que me dásAli, na sala de quimioterapia, jamais escutei um gemido, jamais vi uma lágrima. Somente feições sérias, de uma seriedade que não topei em mais parte alguma, rostos com o mundo inteiro em cada prega, traços esculpidos a fogo na peleO lugar onde, até hoje, senti mais orgulho em ser pessoa foi o Serviço de Oncologia do Hospital de Santa Maria, onde a elegância dos doentes os transforma em reis. Numa das últimas vezes que lá fui encontrei um homem que conheço há muitos anos. Estava tão magro que demorei a perceber quem era. Disse-me - Abrace-me porque é o último abraço que me dá durante o abraço - Tenho muita pena de não acabar a tese de doutoramento e, ao afastarmo-nos, sorriu. Nunca vi um sorriso com tanta dor entre parêntesis, nunca imaginei que fosse tão bonito. Com o meu corpo contra o dele veio-me à cabeça, instantâneo, o fragmento de um poema do meu amigo Alexandre O'Neill, que diz que apenas entre os homens, e por eles, vale a pena viver. E descobri-me cheio de respeito e amor. Um rapaz, de cerca de vinte anos, que fazia quimioterapia ao pé de mim, numa determinação tranquila: - Estou aqui para lutar e, por estranho que pareça, havia alegria em cada gesto seu. Achei nele o medo também, mais do que o medo, o terror e, ao mesmo tempo que o terror, a coragem e a esperança. A extraordinária delicadeza e atenção dos médicos, dos enfermeiros, comoveu-me. Tropecei no desespero, no malestar físico, na presença da morte, na surpresa da dor, na horrível solidão da proximidade do fim, que se me afigura de uma injustiça intolerável. Não fomos feitos para isto, fomos feitos para a vida. O cabelo cresce-me de novo, acho-me, fisicamente, como antes, estou a acabar o livro e o meu pensamento desvia-se constantemente para a voz de um homem no meu ouvido - Acabar a tese de doutoramento, acabar a tese de doutoramento, acabar a tese de doutoramento porque não aceito a aceitação, porque não aceito a crueldade, porque não aceito que destruam companheiros. A rapariga com a peruca no braço da cadeira. O senhor que não olhava para ninguém, olhava para o vazio. Ali, na sala de quimioterapia, jamais escutei um gemido, jamais vi uma lágrima. Somente feições sérias, de uma seriedade que não topei em mais parte alguma, rostos com o mundo inteiro em cada prega, traços esculpidos a fogo na pele. Vi morrer gente quando era médico, vi morrer gente na guerra, e continuo sem compreender. Isso eu sei que não compreenderei. Que me espanta. Que me faz zangar. Abrace-me porque é o último abraço que me dá: é uma frase que se entenda, esta? Morreu há muito pouco tempo. Foda-se. Perdoem esta palavra mas é a única que me sai. Foda-se. Quando eu era pequeno ninguém morria. Porque carga de água se morre agora, pelo simples facto de eu ter crescido? Morra um homem fique fama, declaravam os contrabandistas da raia. Se tivermos sorte alguém se lembrará de nós com saudade. De mim ficarão os livros. E depois? Tolstoi, no seu diário: sou o melhor; e depois? E depois nada porque a fama é nada. O que é muito mais do que nada são estas criaturas feridas, a recordação profundamente lancinante de uma peruca de mulher num braço de cadeira. Se eu estivesse ali sozinho, sem ninguém a ver-me, acariciava uma daquelas madeixas horas sem fim. No termo das sessões de quimioterapia as pessoas vão-se embora. Ao desaparecerem na porta penso: o que farão agora? E apetece-me ir com eles, impedir que lhes façam mal: - Abrace-me porque talvez não seja o último abraço que me dá. Ao M. foi. E pode afigurar-se estranho mas ainda o trago na pele. Durante quanto tempo vou ficar com ele tatuado? O lugar onde, até hoje, senti mais orgulho em ser pessoa foi o Serviço de Oncologia do Hospital de Santa Maria onde a dignidade dos escravos da doença os transforma em gigantes, onde só existem, nas palavras do Luís, Heróis. Onde só existem Heróis. Não estou doente agora. Não sei se voltarei a estar. Se voltar a estar, embora não chegue aos calcanhares de herói algum, espero comportar-me como um homem. Oxalá o consiga. Como escreveu Torga o destino destina mas o resto é comigo. E é. Muito boa tarde a todos e as melhoras: é assim que se despedem no Serviço de Oncologia. Muito boa tarde a todos e até já, mesmo que seja o último abraço que damos. |
quarta-feira, 16 de dezembro de 2015
O PENINHA, SÓCRATES, CASTRATO E A VINGANÇA DA ILUSTRE CASA
O PENINHA, SÒCRATES, CASTRATO E A VINGANÇA DA ILUSTRE CASA
O Peninha teve um pesadelo esta noite. Foi dormir a Tormes, e apesar da lareira acesa desde a tarde, fazia frio à noite. O arroz de favas estava óptimo mas caiu-lhe mal e passou a noite toda a rebolar-se na cama entre meio-acordado e a dormir.
Viu o Sócrates a entrar-lhe pelo quarto a dentro e a pedir-lhe que lhe emprestasse dinheiro e rechaçou-o a pontapés mas ele insistia e louvava-se no diploma falso ao Domingo, nas aprovações pífias em obras na Covilhã, nos negócios sujos com o Chávez, o Lula, o Santos Silva, a casa pretensiosa em Paris, enfim, vinha o rol todo de patifarias feitas, e que no sonho apareciam ao Peninha como totalmente provadas e sem dúvidas nenhumas.
Mas o que mais atormentou o Peninha, foi a voz insolente na entrevista. Insuportável de arrogância, de despudor e de falta de decência.
Peninha acordou irritado e indignado e logo telefonou para um número confidencial na Sicília e só deixou estas palavras na gravação: Avanti!
Era a altura de uns rapazes conhecidos de Siracusa virem e fazerem um trabalho limpinho, sem deixar provas. Era demais!
A caminho do campo, para a volta matinal junto ao riacho, com o bom do Tendinha, fiel caseiro e confidente, dizia em sottovoce : - há de se falar durante gerações!
E de regresso a Lisboa, passou pela S. Caetano e pelo Caldas, pois queria em primeira mão anunciar aos amigos o que tinha engendrado: uma operação cirúrgica, nomeadamente como as que se faziam aos castrati, um implante mamário de algum relevo, a mudança da dentadura com quiçá alguns dentes de ouro falso, e uma cabeleira de diva.
Seria désormais uma contratada a recibos verdes do coro de S. Carlos, if ever, a voz fosse audível.
Esta é a vingança da Ilustre Casa do Peninha!
O Peninha teve um pesadelo esta noite. Foi dormir a Tormes, e apesar da lareira acesa desde a tarde, fazia frio à noite. O arroz de favas estava óptimo mas caiu-lhe mal e passou a noite toda a rebolar-se na cama entre meio-acordado e a dormir.
Viu o Sócrates a entrar-lhe pelo quarto a dentro e a pedir-lhe que lhe emprestasse dinheiro e rechaçou-o a pontapés mas ele insistia e louvava-se no diploma falso ao Domingo, nas aprovações pífias em obras na Covilhã, nos negócios sujos com o Chávez, o Lula, o Santos Silva, a casa pretensiosa em Paris, enfim, vinha o rol todo de patifarias feitas, e que no sonho apareciam ao Peninha como totalmente provadas e sem dúvidas nenhumas.
Mas o que mais atormentou o Peninha, foi a voz insolente na entrevista. Insuportável de arrogância, de despudor e de falta de decência.
Peninha acordou irritado e indignado e logo telefonou para um número confidencial na Sicília e só deixou estas palavras na gravação: Avanti!
Era a altura de uns rapazes conhecidos de Siracusa virem e fazerem um trabalho limpinho, sem deixar provas. Era demais!
A caminho do campo, para a volta matinal junto ao riacho, com o bom do Tendinha, fiel caseiro e confidente, dizia em sottovoce : - há de se falar durante gerações!
E de regresso a Lisboa, passou pela S. Caetano e pelo Caldas, pois queria em primeira mão anunciar aos amigos o que tinha engendrado: uma operação cirúrgica, nomeadamente como as que se faziam aos castrati, um implante mamário de algum relevo, a mudança da dentadura com quiçá alguns dentes de ouro falso, e uma cabeleira de diva.
Seria désormais uma contratada a recibos verdes do coro de S. Carlos, if ever, a voz fosse audível.
Esta é a vingança da Ilustre Casa do Peninha!
quinta-feira, 10 de dezembro de 2015
O CACHIMBO, a CICCIOLINA e PPC
O CACHIMBO, a CICCIOLINA e PPC
Quando chegava a casa tinha o hábito de colocar o cachimbo em cima do tampo da cómoda, tirar o molho de chaves do bolso das calças e numa breve olhadela ao espelho, piscava-se o olho, maroto.
- Mais um dia em que te safaste, marreco! – dizia e em mangas de camisa ia direito para a cozinha aonde havia um aparelho de televisão a preto-e-branco.
A casa, modesta, tinha duas divisões: o quarto aonde dormia com uma pequena casa-de-banho ao lado e a cozinha, que fazia de tudo: sala, comedor e entrada.
Fumava tabaco de cachimbo Mayflower que ia buscar à Caza Havaneza. O dono, jurara-lhe que nunca lhe faltaria com um pacote a cada semana. Não se esquecera, que se não fora ele, tudo teria ardido no incêndio horroroso que destruiu meio Chiado.
Abriu a televisão e pôs no canal porno da RTL, o único que via desde que o governo o deixara na situação de desempregado com um subsídio de merda…mal dava para comer.
Desistira de ouvir as notícias e só lhe interessava o sexo, puro e duro.
Nesse fim de tarde estava a passar a Cicciolina quando veio ao parlamento português no PREC e descaradamente mostrou um seio em pleno debate. Ainda que não fosse a colorido, repetia excitado o nosso homem, era mama que se visse!
Deu uma grande fumaça no cachimbo e o cheiro doce do tabaco Mayflower espalhou-se pela cozinha.
- Havia de saber o que lhe fazia! Raio de Governo que me deixa sem tostão.
E com carinho, tirou da carteira um pequeno poster de PPC quando no Verão, anunciou a vitória nas eleições.
Quando chegava a casa tinha o hábito de colocar o cachimbo em cima do tampo da cómoda, tirar o molho de chaves do bolso das calças e numa breve olhadela ao espelho, piscava-se o olho, maroto.
- Mais um dia em que te safaste, marreco! – dizia e em mangas de camisa ia direito para a cozinha aonde havia um aparelho de televisão a preto-e-branco.
A casa, modesta, tinha duas divisões: o quarto aonde dormia com uma pequena casa-de-banho ao lado e a cozinha, que fazia de tudo: sala, comedor e entrada.
Fumava tabaco de cachimbo Mayflower que ia buscar à Caza Havaneza. O dono, jurara-lhe que nunca lhe faltaria com um pacote a cada semana. Não se esquecera, que se não fora ele, tudo teria ardido no incêndio horroroso que destruiu meio Chiado.
Abriu a televisão e pôs no canal porno da RTL, o único que via desde que o governo o deixara na situação de desempregado com um subsídio de merda…mal dava para comer.
Desistira de ouvir as notícias e só lhe interessava o sexo, puro e duro.
Nesse fim de tarde estava a passar a Cicciolina quando veio ao parlamento português no PREC e descaradamente mostrou um seio em pleno debate. Ainda que não fosse a colorido, repetia excitado o nosso homem, era mama que se visse!
Deu uma grande fumaça no cachimbo e o cheiro doce do tabaco Mayflower espalhou-se pela cozinha.
- Havia de saber o que lhe fazia! Raio de Governo que me deixa sem tostão.
E com carinho, tirou da carteira um pequeno poster de PPC quando no Verão, anunciou a vitória nas eleições.
quarta-feira, 9 de dezembro de 2015
NEGÓCIOS NO IRÃO após o levantamento do embargo
Estou a constituir uma plataforma de
negócios e investimentos no Irão, com contactos com bancos e entidades
oficiais.
Gostaria de contactar com empresas potencialmente interessadas em colaborar com a minha empresa e com esta plataforma, em todas as áreas que possam interessar os potenciais investidores.
Devo viajar para o Irão no princípio do próximo ano, para ter reuniões com o Governo e demais autoridades, bem como com bancos privados e empresários.
As áreas que tenho vindo a discutir são no campo das infra-estruturas, hospitais e clínicas de saúde, indústria farmacêutica, turismo, hotelaria, indústria ligeira e metal-mecânica, habitação e escritórios, e no fundo tudo quanto possa criar valor acrescentado. O Irão vê com bons-olhos a criação de parcerias com empresas estrangeiras.
Pequenos serviços como escolas de línguas, traduções, papelarias, gráficas modernas, design, distribuição alimentar e import-export poderão ser consideradas como interessantes para parcerias locais.
Na área das profissões liberais, o exercício da medicina, enfermagem, análises clínicas, advocacia internacional, arquitectura, engenharia, são aspectos a considerar.
Fico por isso disponível para trocar impressões em português, espanhol, francês e inglês.
Gostaria de contactar com empresas potencialmente interessadas em colaborar com a minha empresa e com esta plataforma, em todas as áreas que possam interessar os potenciais investidores.
Devo viajar para o Irão no princípio do próximo ano, para ter reuniões com o Governo e demais autoridades, bem como com bancos privados e empresários.
As áreas que tenho vindo a discutir são no campo das infra-estruturas, hospitais e clínicas de saúde, indústria farmacêutica, turismo, hotelaria, indústria ligeira e metal-mecânica, habitação e escritórios, e no fundo tudo quanto possa criar valor acrescentado. O Irão vê com bons-olhos a criação de parcerias com empresas estrangeiras.
Pequenos serviços como escolas de línguas, traduções, papelarias, gráficas modernas, design, distribuição alimentar e import-export poderão ser consideradas como interessantes para parcerias locais.
Na área das profissões liberais, o exercício da medicina, enfermagem, análises clínicas, advocacia internacional, arquitectura, engenharia, são aspectos a considerar.
Fico por isso disponível para trocar impressões em português, espanhol, francês e inglês.
terça-feira, 8 de dezembro de 2015
José Régio - Nossa Senhora
Nossa Senhora
Tenho ao cimo da escada, de maneira
Que logo, entrando, os olhos me dão nela,
Uma Nossa Senhora de madeira,
Arrancada a um Calvário de Capela.
Tenho ao cimo da escada, de maneira
Que logo, entrando, os olhos me dão nela,
Uma Nossa Senhora de madeira,
Arrancada a um Calvário de Capela.
Põe as mãos com fervor e angústia.
O manto cobre-lhe a testa, os ombros, cai composto;
E uma expressão de febre e espanto
Quase lhe afeia o fino rosto.
Mãe de Deus, seus olhos enevoados
Olham, chorosos, fixos, muito além ...
E eu, ao passar, detenho os passos apressados,
Peço-lhe – “A Sua bênção, Mãe !”
Sim, fazemo-nos boa companhia
E não me assusta a Sua dor: quase me apraz
O Filho dessa Mãe nunca mais morre. Aleluia !
Só isto bastaria a me dar paz.
- “Porque choras, Mulher ?” – docemente a repreendo.
Mas à minh’alma, então, chega de longe a sua voz
Que eu bem entendo: -“Não é por Ele” ...
“Eu sei ! Teus filhos somos nós”.
José Régio, Mas Deus É Grande
O manto cobre-lhe a testa, os ombros, cai composto;
E uma expressão de febre e espanto
Quase lhe afeia o fino rosto.
Mãe de Deus, seus olhos enevoados
Olham, chorosos, fixos, muito além ...
E eu, ao passar, detenho os passos apressados,
Peço-lhe – “A Sua bênção, Mãe !”
Sim, fazemo-nos boa companhia
E não me assusta a Sua dor: quase me apraz
O Filho dessa Mãe nunca mais morre. Aleluia !
Só isto bastaria a me dar paz.
- “Porque choras, Mulher ?” – docemente a repreendo.
Mas à minh’alma, então, chega de longe a sua voz
Que eu bem entendo: -“Não é por Ele” ...
“Eu sei ! Teus filhos somos nós”.
José Régio, Mas Deus É Grande
domingo, 6 de dezembro de 2015
Homem de pouca fé
HOMEM DE POUCA FÉ
Hoje faz 8 anos que morreu a minha Mãe. Havia uma missa em Schönstaat às 19h.
Sempre um coro que canta muito bem, entre eles uma das minhas sobrinhas. Músicas com letras muito bonitas e profundas. São momentos de grande paz e de alheamento do dia-a-dia.
Na altura da oração pelos defuntos, o Padre nomeou a minha Mãe. Tive como que um sobressalto.
Passam os anos, os meses, os dias e as horas e a nossa vida segue, umas vezes com mais luzes outras com mais sombras. E de repente é como se tudo estivesse presente.
Voltei a vê-la vividamente em tantas situações da minha vida e fiquei perdido longe da missa.
Tive tantas saudades, daquelas que não são literárias, das que fazem sentir cá dentro uma sensação de distância e ao mesmo tempo de presença.
Não sei se seria saudável termos estes momentos com muita frequência por serem tão intensos.
Mais uma vez veio à minha cabeça a ideia da morte, quando todos os dias morrem pessoas de todas as idades. É até, no geral, um pouco indiferente a causa da morte: Trata-se, sobretudo, de partida. Tudo acaba, as vaidades, os ódios, o poder, a riqueza, e até a pobreza. Sobretudo a tristeza para quem morre, tem um fim.
O Padre falava na homilia, aliás simples, directa e apropriada à época natalícia, para nos prepararmos para termos dentro de nós a presença do Menino Jesus que estava para vir. E elaborava dizendo que o sentido era o de conseguirmos interiorizar a consciência de Deus ao nosso alcance.
Rendido e sem vontade de luta de argumentos nem de considerações teológicas, pensei como seria bom que assim fosse tão fácil: termos ao nosso alcance visível e palpável esse Deus de que tanto se fala.
Para uns quantos como eu, há a necessidade sublime e pragmática de S. Tomé, como narrado nos Evangelhos: deixa-me tocar no lado do coração trespassado e nas feridas para eu crer.
Não temeria um só momento, pelo contrário, ansiaria até ouvir a frase: Homem de pouca fé, eu sou o teu Senhor.
E foi isto que me ocorreu hoje na comemoração da morte da minha querida Mãe.
Passam os anos, os meses, os dias e as horas e a nossa vida segue, umas vezes com mais luzes outras com mais sombras. E de repente é como se tudo estivesse presente.
Voltei a vê-la vividamente em tantas situações da minha vida e fiquei perdido longe da missa.
Tive tantas saudades, daquelas que não são literárias, das que fazem sentir cá dentro uma sensação de distância e ao mesmo tempo de presença.
Não sei se seria saudável termos estes momentos com muita frequência por serem tão intensos.
Mais uma vez veio à minha cabeça a ideia da morte, quando todos os dias morrem pessoas de todas as idades. É até, no geral, um pouco indiferente a causa da morte: Trata-se, sobretudo, de partida. Tudo acaba, as vaidades, os ódios, o poder, a riqueza, e até a pobreza. Sobretudo a tristeza para quem morre, tem um fim.
O Padre falava na homilia, aliás simples, directa e apropriada à época natalícia, para nos prepararmos para termos dentro de nós a presença do Menino Jesus que estava para vir. E elaborava dizendo que o sentido era o de conseguirmos interiorizar a consciência de Deus ao nosso alcance.
Rendido e sem vontade de luta de argumentos nem de considerações teológicas, pensei como seria bom que assim fosse tão fácil: termos ao nosso alcance visível e palpável esse Deus de que tanto se fala.
Para uns quantos como eu, há a necessidade sublime e pragmática de S. Tomé, como narrado nos Evangelhos: deixa-me tocar no lado do coração trespassado e nas feridas para eu crer.
Não temeria um só momento, pelo contrário, ansiaria até ouvir a frase: Homem de pouca fé, eu sou o teu Senhor.
E foi isto que me ocorreu hoje na comemoração da morte da minha querida Mãe.
sábado, 5 de dezembro de 2015
O SIDE-CAR DO PENINHA
O SIDE-CAR DO PENINHA
O Peninha hoje resolveu passar a tarde a apanhar sol junto ao rio. Meteu-se na sua moto com side-car, convidou o amigo invisível para poder conversar um pouco. Estava numa de troca de ideias e apetecia-lhe que alguém respondesse às suas perguntas: sim, porque tinha uma dúzia delas para fazer.
Capacete de coiro à aviador do princípio do século, uns óculos de motoqueiro por causa do vento, luvas de lã beijes, umas calças de bombazina amarelas torradas e umas meias-botas castanhas de pele fina de côr de mel. Um cachecol de cachemira amarelo para confortar do frio, que rodeava o pescoço e que saía do casaco de camurça acastanhado.
A caminho cruzou-se com um grupo de raparigas num descapotável que lhe acenaram excitadas pois a sua figura era deveras atraente e invulgar.
Chegado á beira-rio, parou a moto junto ao paredão, com vista directa para a ponte, os barcos à vela, as gaivotas, os pescadores e todo um mar de gente que passeava para trás e para a frente. Julgou reconhecer alguns ex-ministros, e inclusive PPC e PP que juntos caminhavam braço no braço e a rirem.
Deixou-se estar sossegado num canto abrigado. Aqui vão as primeiras perguntas, para tu responderes, se faz favor, meu amigo invisível:
- Achas que sou feliz?
- O que pensas do meu futuro?
- O que fazer para mudar a minha vida?
O amigo invisível, óbvio que não queria ser antipático e por isso escolheu responder por metáforas.
Quanto à primeira pergunta lembro-te o nosso velho amigo Alberto Caeiro que diz….
Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento ...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva ...
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja ...
Quanto ao teu futuro, ainda acho que vais a tempo, mas escuta o aviso do Cassiano Ricardo, que das terras de Vera Cruz, apela à tua atenção…
Gastei o meu futuro
em coisas que não fiz.
A tarde é quase humana
quando em mim pousa. A tarde
atrozmente enfeitada
de cores, ainda arde;
porém, já não me engana.
É tarde. É muito tarde.
Só haveria um remédio.
Era o de ter prestado
mais atenção à vida.
Era eu ter consultado
mais vezes o relógio
Era o eu ter querido
mais a ti do que quis.
Mas gastei meu futuro
em coisas que não fiz.
É tarde. É muito tarde.
Finalmente para mudares a tua vida, a Martha Medeiros, num linguajar tão rico, dá um bom conselho…
Passamos a vida inteira ouvindo os sábios conselhos dos outros. Tens que aprender a ser mais flexível, tens que aprender a ser menos dramática, tens que aprender a ser mais discreta, tens que aprender... praticamente tudo.
Mesmo as coisas que a gente já sabe fazer, é preciso aprender a fazê-las melhor, mais rápido, mais vezes. Vida é constante aprendizado. A gente lê, a gente conversa, a gente faz terapia, a gente se puxa pra tirar nota dez no quesito "sabe-tudo". Pois é. E o que a gente faz com aquilo que a gente pensava que sabia?
As crianças têm facilidade para aprender porque estão com a cabeça virgem de informações, há muito espaço para ser preenchido, muitos dados a serem assimilados sem a necessidade de cruzá-los: tudo é bem-vindo na infância. Mas nós já temos arquivos demais no nosso winchester cerebral. Para aprender coisas novas, é preciso antes deletar arquivos antigos. E isso não se faz com o simples apertar de uma tecla. Antes de aprender, é preciso dominar a arte de desaprender.
Desaprender a ser tão sensível, para conseguir vencer mais facilmente as barreiras que encontramos no caminho. Desaprender a ser tão exigente consigo mesmo, para poder se divertir com os próprios erros. Desaprender a ser tão coerente, pois a vida é incoerente por natureza e a gente precisa saber lidar com o inusitado. Desaprender a esperar que os outros leiam nosso pensamento: em vez de acreditar em telepatia,é melhor acreditar no poder da nossa voz. Desaprender a autocomiseração: enquanto perdemos tempo tendo pena da gente mesmo, os dias passam cheios de oportunidades.
A solução é voltar ao marco zero. Desaprender para aprender. Deletar para escrever em cima. Houve um tempo em que eu pensava que, para isso, seria preciso nascer de novo, mas hoje sei que dá pra renascer várias vezes nesta mesma vida. Basta desaprender o receio de mudar.
E aqui tens, Peninha, alguns bons pensamentos.
Peninha, avistou de novo PPC e PP, e com atrevimento aproximou-se julgando não ser reconhecido, mas foi imediatamente saudado com efusão pelos dois.
- O que fazes por aqui? – perguntaram.
Peninha vinha com uma engatada e lançou-lhes:
- É próprio das censuras violentas tornar credíveis as opiniões que elas atacam. Era o que queriam nos vossos discursos?
- Sem a liberdade de censurar não há elogio lisonjeiro. – respondeu PP.
- Não devemos julgar os méritos de um homem pelas suas boas qualidades, e sim pelo uso que delas faz. – respondi-lhe.
- A confiança que temos em nós mesmos, reflecte-se em grande parte, na confiança que temos nos outros. – confia PPC.
Seguiram em frente no passeio à beira-rio e eu voltei à minha moto e virando-me para o meu amigo invisível disse-lhe:
- Raramente conhecemos alguém de bom senso, além daqueles que concordam connosco.
E com um barulho ensurdecedor do motor da moto, o Peninha arrancou para passar em frente da Torre de Belém e virando-se para o amigo invisível largou-lhe esta frase do Bukowsky:
- Nunca me senti só. Gosto de estar comigo mesmo. Sou a melhor forma de entretenimento que posso encontrar.
Brum brum brum
O Peninha hoje resolveu passar a tarde a apanhar sol junto ao rio. Meteu-se na sua moto com side-car, convidou o amigo invisível para poder conversar um pouco. Estava numa de troca de ideias e apetecia-lhe que alguém respondesse às suas perguntas: sim, porque tinha uma dúzia delas para fazer.
Capacete de coiro à aviador do princípio do século, uns óculos de motoqueiro por causa do vento, luvas de lã beijes, umas calças de bombazina amarelas torradas e umas meias-botas castanhas de pele fina de côr de mel. Um cachecol de cachemira amarelo para confortar do frio, que rodeava o pescoço e que saía do casaco de camurça acastanhado.
A caminho cruzou-se com um grupo de raparigas num descapotável que lhe acenaram excitadas pois a sua figura era deveras atraente e invulgar.
Chegado á beira-rio, parou a moto junto ao paredão, com vista directa para a ponte, os barcos à vela, as gaivotas, os pescadores e todo um mar de gente que passeava para trás e para a frente. Julgou reconhecer alguns ex-ministros, e inclusive PPC e PP que juntos caminhavam braço no braço e a rirem.
Deixou-se estar sossegado num canto abrigado. Aqui vão as primeiras perguntas, para tu responderes, se faz favor, meu amigo invisível:
- Achas que sou feliz?
- O que pensas do meu futuro?
- O que fazer para mudar a minha vida?
O amigo invisível, óbvio que não queria ser antipático e por isso escolheu responder por metáforas.
Quanto à primeira pergunta lembro-te o nosso velho amigo Alberto Caeiro que diz….
Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento ...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva ...
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja ...
Quanto ao teu futuro, ainda acho que vais a tempo, mas escuta o aviso do Cassiano Ricardo, que das terras de Vera Cruz, apela à tua atenção…
Gastei o meu futuro
em coisas que não fiz.
A tarde é quase humana
quando em mim pousa. A tarde
atrozmente enfeitada
de cores, ainda arde;
porém, já não me engana.
É tarde. É muito tarde.
Só haveria um remédio.
Era o de ter prestado
mais atenção à vida.
Era eu ter consultado
mais vezes o relógio
Era o eu ter querido
mais a ti do que quis.
Mas gastei meu futuro
em coisas que não fiz.
É tarde. É muito tarde.
Finalmente para mudares a tua vida, a Martha Medeiros, num linguajar tão rico, dá um bom conselho…
Passamos a vida inteira ouvindo os sábios conselhos dos outros. Tens que aprender a ser mais flexível, tens que aprender a ser menos dramática, tens que aprender a ser mais discreta, tens que aprender... praticamente tudo.
Mesmo as coisas que a gente já sabe fazer, é preciso aprender a fazê-las melhor, mais rápido, mais vezes. Vida é constante aprendizado. A gente lê, a gente conversa, a gente faz terapia, a gente se puxa pra tirar nota dez no quesito "sabe-tudo". Pois é. E o que a gente faz com aquilo que a gente pensava que sabia?
As crianças têm facilidade para aprender porque estão com a cabeça virgem de informações, há muito espaço para ser preenchido, muitos dados a serem assimilados sem a necessidade de cruzá-los: tudo é bem-vindo na infância. Mas nós já temos arquivos demais no nosso winchester cerebral. Para aprender coisas novas, é preciso antes deletar arquivos antigos. E isso não se faz com o simples apertar de uma tecla. Antes de aprender, é preciso dominar a arte de desaprender.
Desaprender a ser tão sensível, para conseguir vencer mais facilmente as barreiras que encontramos no caminho. Desaprender a ser tão exigente consigo mesmo, para poder se divertir com os próprios erros. Desaprender a ser tão coerente, pois a vida é incoerente por natureza e a gente precisa saber lidar com o inusitado. Desaprender a esperar que os outros leiam nosso pensamento: em vez de acreditar em telepatia,é melhor acreditar no poder da nossa voz. Desaprender a autocomiseração: enquanto perdemos tempo tendo pena da gente mesmo, os dias passam cheios de oportunidades.
A solução é voltar ao marco zero. Desaprender para aprender. Deletar para escrever em cima. Houve um tempo em que eu pensava que, para isso, seria preciso nascer de novo, mas hoje sei que dá pra renascer várias vezes nesta mesma vida. Basta desaprender o receio de mudar.
E aqui tens, Peninha, alguns bons pensamentos.
Peninha, avistou de novo PPC e PP, e com atrevimento aproximou-se julgando não ser reconhecido, mas foi imediatamente saudado com efusão pelos dois.
- O que fazes por aqui? – perguntaram.
Peninha vinha com uma engatada e lançou-lhes:
- É próprio das censuras violentas tornar credíveis as opiniões que elas atacam. Era o que queriam nos vossos discursos?
- Sem a liberdade de censurar não há elogio lisonjeiro. – respondeu PP.
- Não devemos julgar os méritos de um homem pelas suas boas qualidades, e sim pelo uso que delas faz. – respondi-lhe.
- A confiança que temos em nós mesmos, reflecte-se em grande parte, na confiança que temos nos outros. – confia PPC.
Seguiram em frente no passeio à beira-rio e eu voltei à minha moto e virando-me para o meu amigo invisível disse-lhe:
- Raramente conhecemos alguém de bom senso, além daqueles que concordam connosco.
E com um barulho ensurdecedor do motor da moto, o Peninha arrancou para passar em frente da Torre de Belém e virando-se para o amigo invisível largou-lhe esta frase do Bukowsky:
- Nunca me senti só. Gosto de estar comigo mesmo. Sou a melhor forma de entretenimento que posso encontrar.
Brum brum brum
quarta-feira, 2 de dezembro de 2015
Gosto
Gosto
de pessoas bem-educadas, com maneiras, detesto pessoas presumidas e
maledicentes que passam a vida a desdizer dos outros sem se olharem ao
espelho.
Pessoas simples de coração, sem raivas nem invejas. Que tenham atenção a quem os/as rodeiam e façam de preferência o bem em vez de falarem sobre o mal, conceito que é muitas vezes subjectivo.
Pessoas que não julguem ou só pelo que vêm ou ouvem de outros.
Pessoas que sejam tolerantes e magnânimas, que saibam perdoar como os mansos e humildes de coração.
Pessoas que sejam justas e construtivas como gostam que o sejam para si próprios.
Pessoas inteligentes, cultas e com experiência dos outros e da Humanidade.
Pessoas que nos tratem bem, que gostem genuinamente de nós, como nós queremos também assim fazer se cumprirmos o que acima indico.
Pessoa com honra, princípios e palavra, sérias e com quem se possa contar.
Pessoas firmes nas suas convicções mas abertas a escutar, a trocar impressões, confiar e dar o benefício da dúvida, preparadas para mudar de opinião sem fanatismos ou radicalismos.
Gosto de pessoas felizes, sorridentes que contagiem a sua felicidade aos outros que passam nas suas vidas.
Finalmente, gosto de pessoas que seja qual for a sua visão de Deus, tenham respeito pela vida e se preparem um dia para partir com serenidade e deixarem um rasto de bondade e da memória de terem, sobretudo, pensado mais nos outros que em si próprio.
Pessoas simples de coração, sem raivas nem invejas. Que tenham atenção a quem os/as rodeiam e façam de preferência o bem em vez de falarem sobre o mal, conceito que é muitas vezes subjectivo.
Pessoas que não julguem ou só pelo que vêm ou ouvem de outros.
Pessoas que sejam tolerantes e magnânimas, que saibam perdoar como os mansos e humildes de coração.
Pessoas que sejam justas e construtivas como gostam que o sejam para si próprios.
Pessoas inteligentes, cultas e com experiência dos outros e da Humanidade.
Pessoas que nos tratem bem, que gostem genuinamente de nós, como nós queremos também assim fazer se cumprirmos o que acima indico.
Pessoa com honra, princípios e palavra, sérias e com quem se possa contar.
Pessoas firmes nas suas convicções mas abertas a escutar, a trocar impressões, confiar e dar o benefício da dúvida, preparadas para mudar de opinião sem fanatismos ou radicalismos.
Gosto de pessoas felizes, sorridentes que contagiem a sua felicidade aos outros que passam nas suas vidas.
Finalmente, gosto de pessoas que seja qual for a sua visão de Deus, tenham respeito pela vida e se preparem um dia para partir com serenidade e deixarem um rasto de bondade e da memória de terem, sobretudo, pensado mais nos outros que em si próprio.
terça-feira, 1 de dezembro de 2015
Olhares sensuais (no metropolitano)
OLHARES SENSUAIS NO METROPOLITANO
Uma viagem no metropolitano é inesperadamente um momento de múltiplos olhares em que, cautelosamente, se podem transmitir sensações intensas.
Tive que ir por razões mecânicas a um bairro popular não longe do Senhor Roubado. E à volta apanhei o metropolitano numa viagem ainda de umas 7 estações. Vinha cheio.
Primeiro e desde logo um olhar de reconhecimento. Depois a identificação de quem nos estuda com o olhar. A seguir, fixada a presa ou presas, lança-se um olhar misto de curiosidade e de convite à troca de emoções. E várias coisas acontecem: (i) baixam os olhos com timidez ou indiferença (ii) mantêm o desafio e começa uma troca de mensagens silenciosas, às vezes encorajadas por um sorriso subtil ou dôce ou maroto, divertido (iii) atenta-se na estação em que o alvo sai e mesmo que não seja a nossa, o destino marca a hora....ahahah....ou as horas de deleite e sensualidade.
Entretanto a estação do meu destino chegou, e saí com a cabeça cheio de ideias, como se vê!
O papinho cheio de olhares e a decisão de, eventualmente, tirar um passe!
Uma viagem no metropolitano é inesperadamente um momento de múltiplos olhares em que, cautelosamente, se podem transmitir sensações intensas.
Tive que ir por razões mecânicas a um bairro popular não longe do Senhor Roubado. E à volta apanhei o metropolitano numa viagem ainda de umas 7 estações. Vinha cheio.
Primeiro e desde logo um olhar de reconhecimento. Depois a identificação de quem nos estuda com o olhar. A seguir, fixada a presa ou presas, lança-se um olhar misto de curiosidade e de convite à troca de emoções. E várias coisas acontecem: (i) baixam os olhos com timidez ou indiferença (ii) mantêm o desafio e começa uma troca de mensagens silenciosas, às vezes encorajadas por um sorriso subtil ou dôce ou maroto, divertido (iii) atenta-se na estação em que o alvo sai e mesmo que não seja a nossa, o destino marca a hora....ahahah....ou as horas de deleite e sensualidade.
Entretanto a estação do meu destino chegou, e saí com a cabeça cheio de ideias, como se vê!
O papinho cheio de olhares e a decisão de, eventualmente, tirar um passe!
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