O PENINHA, a secretária e o PAF
- Fiquei danado hoje quando me contrariaram. Sou um sujeito convencido, arrogante e detesto que me digam que não tenho razão – dizia o Peninha para Emília, sua secretária, ao entrar no gabinete naquela manhã ensoleirada.
A Emília, já o aturava há 20 anos e apesar de ser bem paga, e não ter assim muito para fazer, já se lhe viam na cara umas rugas que tentava disfarçar com borato de sódio – tinham-lhe dito que era eficaz – mas não se viam os resultados.
Peninha fazia inúmeros negócios, uns bem-sucedidos, outros nem tanto – mas sempre na sua cabeça – por isso Emília no fundo era assistente de um patrão inexistente.
Ele entrava, sentava-se numa cadeira que mandara vir do Azerbeijão – toda horrorosa, com dourados e umas costas enormes forradas a tecido com fios de seda – e numa posição confortável, começava a falar vários idiomas, cada um mais estranho.
Emília que era católica, até já conversara com o senhor prior, à saída da missa de Domingo e aventara que o Peninha talvez pudesse estar possuído pelo demo. – Que sim, que há muitos casos e se ele falava em vietnamita, galês, esperanto, mandarim da Mongólia e em dialecto da Papua Nova Guiné, tudo era possível. Combinaram então, que Emília deixaria disfarçado, debaixo de uns papéis, uma pagela de Santo Honório, patrono dos que padecem de males desconhecidos.
Passava a manhã nisto, ora se ria ora se zangava e no intervalo vinha ter com Emília, passava-lhe carinhosamente a mão pela cara – ela sempre fora irresistivelmente enfeitiçada por aquele homem de tez morena e de olhos castanhos, com uns beiços carnudos e um nariz bem feito – e dizia invariavelmente: - ainda hás-de ser feliz com o dinheiro que te der, quando ganhar muito, muito, nestes negócios.
Outras vezes, vinha com uma cara carrancuda e perguntava-lhe: - tu achas que sou má pessoa? Bem sei que às vezes tenho o diabo dentro de mim, mas ao ponto de me detestarem…
- Lá está, pensava Emília, isto é coisa de Satanás. Que ele é bom homem, lá isso é.
Peninha, entabulara, desta vez em português, uma conversa com alguém:
- Tu vê-me se podes manipular o gajo, que eu pago-te bem. Insinua-te no pensamento e fá-lo atraiçoar os compromissos e fazer o que eu quero.
Nisto, na secretária, alguns papéis voaram, sem embargo, porém, das janelas estarem fechadas.
- Valha-me Deus, que é Santo Honório que está a lutar com o demo – disse Emília apavorada.
Peninha, ficou com uma voz alterada e irreconhecível e começou freneticamente à procura de algo, por cima da secretária. Cada vez ia gritando mais e mais com uns guinchos tremendos, espumando da boca.
Emília assomou à porta a tremer de medo e viu que de súbito a mão de Peninha se abateu sobre um papel que estava em cima da mesa. E Peninha começou a acalmar e passado uns instantes, olhou para ela e perguntou-lhe o que queria.
Emília aproximou-se da secretária de Peninha e viu finalmente o papel ao qual o patrão tinha dado uma pantufada.
Tinha escrito: PÀF
Entre pafs e pufs, Peninha tinha contentado o diabo que existe dentro de si e sorridente, de saída, repetiu para Emília:
- Ainda hás-de ser muito feliz. Confia em mim.
Emília, lavada em lágrimas teve a certeza que a troika voltaria de novo a breve trecho.
- Fiquei danado hoje quando me contrariaram. Sou um sujeito convencido, arrogante e detesto que me digam que não tenho razão – dizia o Peninha para Emília, sua secretária, ao entrar no gabinete naquela manhã ensoleirada.
A Emília, já o aturava há 20 anos e apesar de ser bem paga, e não ter assim muito para fazer, já se lhe viam na cara umas rugas que tentava disfarçar com borato de sódio – tinham-lhe dito que era eficaz – mas não se viam os resultados.
Peninha fazia inúmeros negócios, uns bem-sucedidos, outros nem tanto – mas sempre na sua cabeça – por isso Emília no fundo era assistente de um patrão inexistente.
Ele entrava, sentava-se numa cadeira que mandara vir do Azerbeijão – toda horrorosa, com dourados e umas costas enormes forradas a tecido com fios de seda – e numa posição confortável, começava a falar vários idiomas, cada um mais estranho.
Emília que era católica, até já conversara com o senhor prior, à saída da missa de Domingo e aventara que o Peninha talvez pudesse estar possuído pelo demo. – Que sim, que há muitos casos e se ele falava em vietnamita, galês, esperanto, mandarim da Mongólia e em dialecto da Papua Nova Guiné, tudo era possível. Combinaram então, que Emília deixaria disfarçado, debaixo de uns papéis, uma pagela de Santo Honório, patrono dos que padecem de males desconhecidos.
Passava a manhã nisto, ora se ria ora se zangava e no intervalo vinha ter com Emília, passava-lhe carinhosamente a mão pela cara – ela sempre fora irresistivelmente enfeitiçada por aquele homem de tez morena e de olhos castanhos, com uns beiços carnudos e um nariz bem feito – e dizia invariavelmente: - ainda hás-de ser feliz com o dinheiro que te der, quando ganhar muito, muito, nestes negócios.
Outras vezes, vinha com uma cara carrancuda e perguntava-lhe: - tu achas que sou má pessoa? Bem sei que às vezes tenho o diabo dentro de mim, mas ao ponto de me detestarem…
- Lá está, pensava Emília, isto é coisa de Satanás. Que ele é bom homem, lá isso é.
Peninha, entabulara, desta vez em português, uma conversa com alguém:
- Tu vê-me se podes manipular o gajo, que eu pago-te bem. Insinua-te no pensamento e fá-lo atraiçoar os compromissos e fazer o que eu quero.
Nisto, na secretária, alguns papéis voaram, sem embargo, porém, das janelas estarem fechadas.
- Valha-me Deus, que é Santo Honório que está a lutar com o demo – disse Emília apavorada.
Peninha, ficou com uma voz alterada e irreconhecível e começou freneticamente à procura de algo, por cima da secretária. Cada vez ia gritando mais e mais com uns guinchos tremendos, espumando da boca.
Emília assomou à porta a tremer de medo e viu que de súbito a mão de Peninha se abateu sobre um papel que estava em cima da mesa. E Peninha começou a acalmar e passado uns instantes, olhou para ela e perguntou-lhe o que queria.
Emília aproximou-se da secretária de Peninha e viu finalmente o papel ao qual o patrão tinha dado uma pantufada.
Tinha escrito: PÀF
Entre pafs e pufs, Peninha tinha contentado o diabo que existe dentro de si e sorridente, de saída, repetiu para Emília:
- Ainda hás-de ser muito feliz. Confia em mim.
Emília, lavada em lágrimas teve a certeza que a troika voltaria de novo a breve trecho.
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