Fui hoje a mais uma das minhas aulas de Português na cadeia de alta segurança de Monsanto, para presos estrangeiros. Aliás, faço-o duas vezes por semana, durante duas horas cada.
Dia chuvoso e cinzento, como se constata.
A sala de aulas é interior e fechada a sete chaves.
Gramática e respectivos exercícios. Bons progressos.
A cada frase – os livros actuais são apelativos e tornam menos difícil a compreensão da gramática – dá para conversarmos sobre o sentido de palavras e de situações.
São todos adultos ainda que novos excepto um, mais velho. Dedicam-se a aprender com afinco e eu sinto-me como se estivesse a estimular meninos pequeninos – a alegria de acertarem e o contentamento pelos meus elogios e ânimo.
Fiz um ditado, inventado no momento e apropriado à matéria dada, mas não resisti a introduzir umas frases sobre uma brincadeira de um deles, o que deu azo a gargalhadas gerais pele leveza que intento dar a estes momentos de convívio.
As pessoas que cá fora, são castigadoras e definitivas sobre o julgamento precipitado e cruel dos reclusos, nunca experimentaram o sentimento bom que se sente ao ver o que pequenos gestos de solidariedade podem aliviar a dor, a solidão de uma reclusão tão especial em que 90% do dia estão sozinhos nas celas.
Canso-me de apregoar o bem que me tem feito e o que seria vantajoso para quem se sente disponível e com vocação de dar paz e conceder o perdão, poder experimentar o contacto com reclusos.
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