«AU PLAISIR DE DIEU» de Jean d'Ormesson
«C’est le banal qu’il faut montrer, parce que c’est ce qu’on ne voit plus, à force d’habitude et de familiarité». Jean d’Ormesson, como Waugh, faz uma viagem à história centrada na relação entre uma família e a sua propriedade rural, detida ancestralmente. O berço da tribo era o Castelo de Plessis-lez-Vaudreuil, que resumia uma longa história desde as cruzadas até aos nossos dias. Os acontecimentos do século XX precipitam a mutação e a decadência – a modernização, a indústria, a emergência da burguesia, a guerra, a resistência, o amor, o dinheiro, os debates dilacerantes, Pétain e De Gaulle, a tradição, as mudanças políticas, Maurras e Karl Marx…
Tudo se mistura num torvelinho de contradições. A vida quotidiana
penetra nas grandes questões. As transformações profundas geram o drama e
a ameaça da decadência. Ressalvadas as distâncias, são os mesmos temas
que encontramos em Brideshead – com um maior distanciamento aqui
relativamente às tradições.
Daí que Jean d’Ormesson dedique o seu livro a seu pai, apresentado como liberal, jansenista e republicano – atributos correspondentes a camadas diferenciadas da história e da vida. Malraux disse, aliás, um dia: «que livros valem a pena ser escritos, para além das Memórias?». E aqui sente-se isso exatamente. Sostène reporta-se à noite dos tempos, a Éléazar nascido no século XI.
Séculos e séculos de serviço «au plaisir de Dieu».
É o esteio da família, o ponto de encontro das diversas lembranças e recordações, a partir de um tempo em que a cultura dos campos domina, como um relógio regularíssimo. «Nasci num mundo que olhava para trás. O passado contava mais que o futuro. O meu avô era um velho bom muito direito que vivia da recordação. A sua mãe tinha dançado nas Tulherias com o duque de Nemours, com o príncipe de Joinville, com o duque de Aumale, e a minha avó em Compiègne com o príncipe imperial».
O tempo foi-se acelerando e as pessoas deixaram de ter tempo. O silêncio foi sendo ocupado pelo ruído, os ritmos tradicionais pela marcação forte dos compassos… E foi-se tomando consciência de que seria necessário restaurar as ardósias dos telhados, certos de que a alma das casas é afetada pela doença que leva à sua destruição física. É preciso preservá-la, ligando pedras vivas e pedras mortas, enquanto lugar de acolhimento e de ternura, de força e de consistência!
Falar de património, não é falar de castelos no ar, mas de amores e desamores, de vontades e caminhos – de pessoas!
Guilherme de Oliveira Martins.
Daí que Jean d’Ormesson dedique o seu livro a seu pai, apresentado como liberal, jansenista e republicano – atributos correspondentes a camadas diferenciadas da história e da vida. Malraux disse, aliás, um dia: «que livros valem a pena ser escritos, para além das Memórias?». E aqui sente-se isso exatamente. Sostène reporta-se à noite dos tempos, a Éléazar nascido no século XI.
Séculos e séculos de serviço «au plaisir de Dieu».
É o esteio da família, o ponto de encontro das diversas lembranças e recordações, a partir de um tempo em que a cultura dos campos domina, como um relógio regularíssimo. «Nasci num mundo que olhava para trás. O passado contava mais que o futuro. O meu avô era um velho bom muito direito que vivia da recordação. A sua mãe tinha dançado nas Tulherias com o duque de Nemours, com o príncipe de Joinville, com o duque de Aumale, e a minha avó em Compiègne com o príncipe imperial».
O tempo foi-se acelerando e as pessoas deixaram de ter tempo. O silêncio foi sendo ocupado pelo ruído, os ritmos tradicionais pela marcação forte dos compassos… E foi-se tomando consciência de que seria necessário restaurar as ardósias dos telhados, certos de que a alma das casas é afetada pela doença que leva à sua destruição física. É preciso preservá-la, ligando pedras vivas e pedras mortas, enquanto lugar de acolhimento e de ternura, de força e de consistência!
Falar de património, não é falar de castelos no ar, mas de amores e desamores, de vontades e caminhos – de pessoas!
Guilherme de Oliveira Martins.
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