Em suma, os “rapazes” propuseram-me eu guardar a pasta no cofre do meu escritório, em troca de dinheiro para eles mandarem vir uma nova garrafa de “líquido” que daria para limpar cerca de USD 100,000 e sucessivamente, com o pelo do próprio cão, se iriam pagando as restantes fases, até completarem o lote dos USD 4 milhões.
Do meu banco não houve notícias negativas sobre a veracidade das notas, posto o que eu fiquei mais confiante.
Recusei liminarmente o pagamento antecipado de qualquer quantia, que era bastante elevada, o que muito os enervou tendo eles acabado por me pedirem para eu falar para Londres com o “chefe” deles, para combinar a vinda dele a Lisboa, sendo portador de uma nova garrafa, que eu financiaria.
Assim fiz e pareceu-me pela voz e conversa que era um outro tipo de pessoa muito mais educada e profissional pelas respostas que deu às minhas perguntas - aliás não era africano, tratava-se de um egípcio.
No dia seguinte fomos esperá-lo ao aeroporto e de facto apresentava-se com um bom blaizer, calças de flanela cinzentas, com uma camisa branca de bom corte aberta e sem gravata.
A caminho do meu escritório, fui fazendo perguntas sobre ele próprio, quem era, se trabalhava para a CIA, querendo confirmar a versão dos “donativos” especiais dos EUA da América para os líderes dos países africanos, e ele era parco nas respostas, mas ia sorrindo com um ar de aquiescência.
Perguntou-me se eu já tinha o dinheiro em cash para pagar a garrafa e eu disse-lhe que primeiro queria ver a garrafa, segundo queria fazer um teste com mais notas da mala com o novo “líquido".
Acederam com reticências e ele propôs que eu alugasse um quarto no Hotel Sheraton para ele ficar essa noite e para no dia seguinte, no meu escritório, proceder à limpeza das notas que pudessem ser aproveitadas pelo conteúdo da garrafa.
Assim fiz, aluguei o quarto em meu nome – propus que ficasse no dele, mas ele recusou e seguramente teria um passaporte falso – e fui levantar o dinheiro para pagar a garrafa de “líquido” que ele trouxera.
A operação prévia de validação de umas quantas notas, segundo ele, não poderia exceder os USD 500,00 pois estaríamos desperdiçando “líquido”.
Foi efectuada na casa de banho do referido quarto. O egípcio retirou numa seringa e com mil cuidados, umas gotas do “lìquido” da nova garrafa e mais uma vez, 5 notas de papel preto, transformaram-se perante estes meus “olhos que a terra há-de comer”, em notas de USD 100,00 com muito mais rugosidade e consistência, que guardei. Eram, novas em folha!
Entreguei o montante pedido e fiquei com a garrafa que manuseei com mil cuidados numa mochila aonde trouxera o dinheiro e que agora, vazia, servia para a levar de volta ao meu escritório.
Pediram-me que os deixasse no Jumbo das Amoreiras pois iam ao supermercado comprar mantimentos para alguns deles passarem a noite no meu escritório a limpar as notas, e enquanto eu fui arrumar o carro no parque, eles saíram no piso térreo.
Esperei uma boa meia-hora e nada de aparecerem e nem o telemóvel quer do “chefe” quer do “líder” respondiam.
Finalmente, o telemóvel do “líder” tocou e ele com uma voz de pânico disse-me para eu fugir pois dois carros da polícia, quando eles saíam das Amoreiras, tinham-nos levado a todos presos, excepto ele que tinha conseguido escapar pois tinha-se atrasado.
Pediu-me por tudo para eu guardar bem a garrafa com o “líquido” e a pasta e que mais tarde se voltaria a por em contacto comigo.
Fiquei perplexo e aterrorizado e fui num ápice tirar a pasta do cofre e pô-la no carro com a garrafa e saí de Lisboa.
O meu pânico era que eles “falassem” e ter a polícia no meu encalço no escritório, apanhando-me com tudo na mão, sem eu ter uma explicação lógica.
(continua)
Isso aconteceu a você mesmo?!
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