Estava sozinho no escritório, por coincidência, à hora aprazada para a reunião com o cidadão africano, por isso quando tocaram à porta fui abri-la. Qual não é a minha surpresa quando em vez de uma pessoa se apresentam mais quatro outras, todas de raça negra.
Enfim, mandei-os entrar para o meu gabinete (já estou habituado a algumas excentricidades e sobretudo a uma total ausência de maneiras, o que não é de estranhar…) e pedi que se identificasse quem comigo tinha falado. Assim fez e reparei que não só tinham todos mau aspecto exterior, pouco cuidados, com roupa suja e manhosa, mas sobretudo estavam nervosos.
O dito interlocutor começou por me explicar que estava de passagem em Portugal com uns seus companheiros (isto tudo, rapaziada, na casa dos 30 anos) e que precisavam da minha ajuda. Repeti que estava ali para tal, mas que tinham que ser mais precisos e dizerem-me ao que vinham.
Um deles, segurava numa das mãos uma pasta de alumínio grande, do tipo dos tripulantes de aviação, mas estranhamente com uma corrente presa ao pulso, como se temesse que alguém o pudesse roubar.
Até aqui o meu desconforto era pequeno pois pareciam-me apenas uns vadios que eventualmente quereriam algum apoio junto das autoridades e de quem me veria livre sem dificuldades.
O líder, chamemos-lhe assim, o tal que me tinha contactado, pediu-me se eu arranjava espaço na minha secretária – que é grande – para pôr a referida pasta em cima, pois queriam mostrar-me algo que muito me interessaria.
O portador, com uma chave especial, libertou a “algema” do pulso, colocou a mala na minha frente e digitou uns códigos numéricos em cada uma das fechaduras.
Um teatro completo, do qual eu já não estava a gostar nada pois sentia-me pressionado por cinco desconhecidos que de uma conversa, pretensamente de tipo consular, me queriam exibir algo de estranho.
Disse-lhes com firmeza que não estava interessado em nada que não fosse ligado às minhas funções de Cônsul e mencionei, como exemplos : droga, diamantes, ouro, etc..
Eles responderam-me que não se tratava de nada disso e que eu nunca teria visto nada igual. Pediram-me que lhes desse a oportunidade de mostrar o que continha a pasta.
Lembro-me de lhes ir recusando continuarmos sequer neste tipo de conversa, mas estava em minoria e eu denotava que cada vez estavam mais nervosos e menos amistosos.
Só o líder falava e insistia que para eles era vital a minha ajuda.
Não viria nenhuma “alma” em meu auxílio, pois já era no fim do dia, e não me atrevia a ligar o telefone para ninguém, não fosse piorar a situação.
Resolvi enfrentar o problema e com calma perguntei então de que se tratava. Abriram a tampa da pasta, que já referi ser bastante grande, funda e rectangular e qual não foi o meu espanto quando vejo algodão a cobrir qualquer coisa que não se via, com um pó branco.
Ignorante que sou no campo das drogas, dei um berro valente e disse-lhes que já lhes dissera anteriormente que não queria dar apoio ou ajuda a negócios ilegais.
Não era droga, disseram eles! Tratava-se só de um pó protector do que se encontrava por debaixo.
E de perplexidade em perplexidade, mostraram-me resmas muito bem arrumadas dentro da mala, de papel recortado totalmente preto, nas medidas exactas de notas de 100 dólares cobertas por um produto, para não poderem ser identificadas no seu transporte.
O líder afirmou-me que estavam ali 4 milhões de dólares, em notas!
(continua)
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