sábado, 7 de abril de 2012
Aimberê - Meus contos brasileiros (continuação 2)
Cada vez estava menos gente no ônibus e de repente comecei a cantar essa modinha para ele:
Se você não fosse gente,
o que gostaria de ser?
Diz pra mim, quero saber...
Um objeto, um bichinho?
Invisível? Queria ser?
Diz pra mim, quero saber...
Eu queria ser uma roupa...
Pode dizer que sou louca.
Acho graça e já explico...
Já pensou em ser o lençol
que todas as noites aquece
o alguém que a gente não esquece?
Já pensou em ser a roupa
que docemente acaricia
esse corpo durante o dia?
Por isso eu queria ser
uma roupa, pra viver
sempre junto de você...
Algo que ficasse assim,
eu em você, você em mim...
muito próximo, entende?
E você, se não fosse gente,
o que gostaria de ser?
Diz pra mim, quero saber...
Manuel me olhava deslumbrado pela minha voz dolente e pela ousadia dos meus versos. Um cara que saía na paragem próxima, se voltou para nós e disse todo sorridente:
- Isso promete, quem dera ser sua roupa!
Me calei e olhei em frente um pouco timorata pois não sabia qual seria a reacção do meu companheiro de viagem.
Pensei pra mim, fui longe de mais? Que pressa de expressar meu pensamento, sempre o exagero de tudo o que faço.
E a voz serena de Manuel me pergunta: você está afim de bater um papo gostoso e nos conhecermos melhor? Posso lhe fazer algumas perguntas?
Bem feita! Queria já o lençol para me aquecer essa noite e teria que me contentar com a roupa e com o cheiro do seu perfume que me seduzia.
(continua)
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