terça-feira, 14 de setembro de 2010

Gosto quando me falas de ti


Gosto quando me falas de ti…
e vou te percorrendo
e vou descortinando a tua vida
na paisagem sem nuvens,
cenário de meus desejos tranquilos

Gosto quando me falas de ti…
e então percebo que antes mesmo de chegar,
me adivinhavas,
que ninguém te tocou, senão o vento
que não deixa vestígios,
e se vai desfeito em carícias vãs…

Gosto quando me falas de ti…
quando aos poucos a luz
vasculha todos os cantos de sombra,
e eu só te encontro
e te reencontro em teus lábios,
apenas pintados, maduros,
mas nunca mordidos antes da minha audácia.

Gosto quando me falas de ti…
e muito mais adiantas
em teus olhos descampados, sem emboscadas,
e acenas a tua alma, sem dobras, como um lençol distendido,
e descortino o teu destino,
como um caminho certo,
cuja primeira curva foi o nosso encontro.

Gosto quando me falas de ti…
porque percebo que te desnudas como uma criança,
sem maldade,
e que eu cheguei justamente para acordar tua vida
que se desenrola inútil
como um novelo que nos cai no chão…

J.G. de Araujo Jorge

1 comentário:

  1. Também gosto quando me falas de ti e quando eu falo de mim para ti e quando tu falas de ti e eu falo de ti e quando falamos todos uns para os outros e não uns dos outros e nas costas dos outros. Com ou sem poesia. Aprecio muito poesia e música, mas raramente tenho os pés, como foi sempre meu desejo, muito acima do chão. E a propósito de poesia e de poetas, lembro-me muito de Agustina que diz: "É melhor não ouvir demasiado os poetas - eles possuem o entusiasmo algumas vezes, a simplicidade outras vezes. Mas que caminhos não se fecham logo a dois passos do entusiasmo, e que simplicidade resiste às verdades que é preciso arrancar mais além do mundo dos poetas?"
    Apesar de tudo, prefiro a simplicidade e o entusiasmo, caminhos que se não fechem e não-verdades poéticas a verdades nuas e cruas, murchas e tristonhas.

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