
Gosto quando me falas de ti…
e vou te percorrendo
e vou descortinando a tua vida
na paisagem sem nuvens,
cenário de meus desejos tranquilos
Gosto quando me falas de ti…
e então percebo que antes mesmo de chegar,
me adivinhavas,
que ninguém te tocou, senão o vento
que não deixa vestígios,
e se vai desfeito em carícias vãs…
Gosto quando me falas de ti…
quando aos poucos a luz
vasculha todos os cantos de sombra,
e eu só te encontro
e te reencontro em teus lábios,
apenas pintados, maduros,
mas nunca mordidos antes da minha audácia.
Gosto quando me falas de ti…
e muito mais adiantas
em teus olhos descampados, sem emboscadas,
e acenas a tua alma, sem dobras, como um lençol distendido,
e descortino o teu destino,
como um caminho certo,
cuja primeira curva foi o nosso encontro.
Gosto quando me falas de ti…
porque percebo que te desnudas como uma criança,
sem maldade,
e que eu cheguei justamente para acordar tua vida
que se desenrola inútil
como um novelo que nos cai no chão…
J.G. de Araujo Jorge
Também gosto quando me falas de ti e quando eu falo de mim para ti e quando tu falas de ti e eu falo de ti e quando falamos todos uns para os outros e não uns dos outros e nas costas dos outros. Com ou sem poesia. Aprecio muito poesia e música, mas raramente tenho os pés, como foi sempre meu desejo, muito acima do chão. E a propósito de poesia e de poetas, lembro-me muito de Agustina que diz: "É melhor não ouvir demasiado os poetas - eles possuem o entusiasmo algumas vezes, a simplicidade outras vezes. Mas que caminhos não se fecham logo a dois passos do entusiasmo, e que simplicidade resiste às verdades que é preciso arrancar mais além do mundo dos poetas?"
ResponderEliminarApesar de tudo, prefiro a simplicidade e o entusiasmo, caminhos que se não fechem e não-verdades poéticas a verdades nuas e cruas, murchas e tristonhas.