segunda-feira, 27 de setembro de 2010
caramba, há limites! Carta de um amigo céptico
Meu velho amigo e saudoso Manel,
Rezingão e pessimista? Certamente. Mas nada que tenha a ver com a minha família chegada ou o núcleo de amigos do coração.
Sabes tenho a sensação, cada vez mais forte, de que atravessamos um período surreal em que nos encontramos todos na iminência de uma drástica mudança de paradigma económico e político com repercussões a curto prazo na vida de cada um.
As cabeças pensantes (de notoriedade pública e biografia irrepreensível) que respeito dizem-no com pristina clareza, e repetidamente, nos intervalos dos horários de prime time. Os analistas internacionais escrevem-no fundamentando.
E tudo segue com milhões de pessoas a assobiarem para o ar. Cegas, surdas e mudas, na convicção do milagre ou de que, afinal, são tudo exageros e que tudo acaba sempre por se resolver. E se não resolver vêm aí uns senhores estrangeiros que vão por tudo na ordem.
Não me tenho na conta duma luminária. Aliás nunca tive. Mas pasmo com a capacidade de auto-ilusão dos europeus em geral e dos "tugas" em particular.
E depois, em termos éticos, vivo agoniado com esta calda viscosa de hipocrisia e amoralidade boçal que nos entope os olhos e os ouvidos.
Que queres tu. Para mim é tão dolorosamente evidente!
E, no entanto, a vida corre aprazível. A carreira académica segue. A mini agricultura ocupa-me. Os amigos acorrem a esta "casota" quando precisam de paz e calor.
É a premonição da amplitude e iminência do desastre e a desatenção geral que me amarguram a escrita.
Só isso Manel. Deus sabe que não sou santo. Mas, caramba, há limites.
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