terça-feira, 22 de janeiro de 2019

A TIA UMBELINA e o Pe. ADELINO



A TIA UMBELINA e o Pe, ADELINO


Ora o Pe. Adelino, era o Abade da terra e benquisto por toda a gente. Não era homem de muitas posses mas tinha construído uma Casa Paroquial ao lado da matriz com dois andares, uma sala acolhedora com um fogão que fumava muito bem nos dias frios, decorada com bric-a-bracs que as paroquianas lhe tinham dado ao longo dos anos e herdara de um ramo nobre da Família – os Sarmento Beiriz – umas quantas cómodas, pratas armoriadas, vários serviços de loiça e de copos de cristal e toalhas de linho bordadas. Gabava-se muito da mesa e cadeiras da sala de jantar que eram de vinhático antigo e polido pelo uso e que com o esplendor das arras em cima, e uns bons petiscos o tornavam num Senhor Abade dos verdadeiros.

Tinha um quarto de hóspedes no segundo andar, pois já lhe custava subir as escadas, sobretudo depois de ricos manjares que servia a várias paroquianas a que chamava de “ovelhinhas reparadoras” e dos respectivos cônjuges, e decidiu, portanto, situar-se no rés-do-chão num quarto bem grande com uma cama de casal Dona Maria que herdara também, com a respectiva mobília.

Tinha fama de ser boa pessoa, mas pouco ligado ao dicastério preocupando-se mais por boas ceias e bons copos ainda que cumprisse as suas obrigações. O Bispo visitava-o amiúde e o Abade mandava matar um capão na véspera e com batatas na brasa e uma sopa de couves, finalizada com um leite-creme braseado regalavam-se com um tinto reserva de Vale Pradinhos.

A Tia Umbelina era assídua frequentadora das ceias do Pe. Adelino e tinham criado uma intimidade grande pois era ela quem supervisionava a Eliza, cozinheira, para que os repastos fossem um sucesso.

No entanto, nunca lhe brilhara o olho para ela, pois o buço e algum desarranjo tornava o descendente dos Sarmentos Beiriz insensível ao pecado da carne.

Do lado da Tia Umbelina, dada a proximidade e frequência com que se habituara a frequentar a casa do Abade bem como já depois dos jantares ou ceias, ficando sempre para acabar a conversa até que o Pe, Adelino se recolhesse, surgira desde há muitos anos, dado que ficara viúva do seu marido Marcolino, de que não guardara memórias de notável fogosidade, um desejo carnal que lhe sabendo a pecado mais lhe aguçava a vontade.

No dia seguinte, chegando a hora da missa, a Tia Umbelina sem mudar nada da transformação operada pela Yrina na véspera, cobriu-se com um xaile por causa das vizinhas e atrasando-se de propósito foi-se por nas últimas filas da Igreja, fenómeno que fez estranhar a assistência habitual das beatas pois tinha um genuflexório pago ao ano a Santa Rita de Cássia, mesmo na frente ao altar. Tossiu muito e todos cuidaram que tivesse apanhado uma gripe.

Mal a missa acabou e depois do Abade ir para a Sacristia para se desparamentar, a Tia Umbelina caiu de joelhos com a cara entre as mãos, em fervorosa prece, até todas saírem.

Mal viu a via livre, dirigiu-se apressada à Sacristia não fosse o Abade sair pela outra porta. Mas sossegou-a quando ouviu a sua voz ao telefone e presumiu que já estivesse desparamentado, mas a falar para alguém e por isso estando sozinho.

Entrou de mansinho, encostou a porta devagarinho até a fechar e esperou que a chamada terminasse. Aí tirou o xaile e esperou.

- A Senhora faz o favor de dizer? – disse o Abade não a conhecendo, mas amàvelmente.

- Sou a Umbelina, Pe.Adelino.

O Abade ficou sem voz e agarrando-se a um arcaz valioso e bonito para se sustentar em equilíbrio, olhou-a da cabeça aos pés.

- Mas como conseguiste esta transformação que nem te conheci, disse com um sorriso guloso.

A Tia Umbelina lá explicou tudo e o Abade disse-lhe:

- Tenho hoje um jantar cedo que tenho que dar a uns Cónegos que vêm de passagem. Tu podias dar uma ajuda na cozinha e depois de se irem embora, ficavas por lá e dormias no quarto de hóspedes. Temos muito que conversar, a noite faz-se fria e não fica bem ires tarde sozinha para casa.

A Tia Umbelina, assentiu com um olhar de gratidão e beijou-lhe a mão ao despedir-se e o Pe. Adelino segurou-a entre as mãos dele e fez-lhe umas festas, apertando-as, com um sorriso e dizendo:

- Quem havia de dizer a nossa Umbelina!

(continua)

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