segunda-feira, 18 de setembro de 2017
O PENINHA REGRESSOU DE MONTE MAGRO, NO ALGARVE, A LISBOA
O PENINHA REGRESSOU DE MONTE MAGRO, NO ALGARVE, A LISBOA
Meteram-se os dois no Taunus, carro que Peninha herdou de um tio merceeiro e que hoje em dia vale uma fortuna e faz um vistaço.
Adélinha estava maldisposta nessa manhã. Levavam umas 4,5 horas até Lisboa pela estrada nacional e o carro não era cómodo e não lhe apetecia ter que ouvir as conversas chatas do Peninha sobre os”contactos” que tinha feito durante a estadia. Além disso a telefonia do carro era antiquíssima e não captava nada bem as diferentes estações de rádio. Estava sempre canalizada para a Rádio Roubacense, do Senhor Roubado que só passava música pimba.
- Estás maçadinha, estás cá com umas trombas! – disse o Peninha para irritar a Adélinha.
- Só quero que guies o carro e que estejas sobretudo, caladíssimo. – respondeu ela.
Começava mal o fim de umas férias que foram de desencontro e de irritação constante de um para com o outro.
Peninha, logo de manhã punha a tanga e uma tee-shirt transparente e ia para o ginásio “malhar”. Lá conheceu o sr. Malheiro, que fazia negócios escuros, pois vendia a uma grande quinta no Alentejo, vinho a granel vindo de Algeciras, que misturado com o das uvas da marca famosa, aumentava substancialmente a produção, permitindo inclusive a exportação em larga quantidade para a China. Peninha perguntou-lhe se ele tinha algum negócio assim desses para ele.
Ora o sr. Malheiro era um morcão, de anelão de ouro no dedo mindinho com uma inscrição, ainda por cima errada, que dizia: “ labor omnes vincit” pois no caso dele não trabalhava e vencia à custa de porcaria! Era de fraca figura, gordo e atarracado, punha-se de calções de ginástica laranjas comprados em Marrocos, tinha o cabelo sebento e porco e percebia-se que tomava pouco banho. A tee-shirt dizia” NUNCA TENHAS UM MESTRE: SEGUE OS TEUS INTERESSES” em letras garrafais verdes escuras e ele explicava: - tenho amigos à esquerda, ao centro e à direita!
Pelo que, enquanto Peninha se esforçava em fazer exercício, o outro com a unha grande do dedo mindinho coçava dentro da orelha, etc...um nojo!
Mas Peninha, via ali naquele contacto uma saída para uma melhor vida. Ser independente, ter o seu tempo mais livre, com um mundo de aventuras pela frente.
Ao longo da semana, o sr. Malheiro foi conversando com o Peninha e às tantas propôs-lhe um teste para trabalhar com ele: depois logo se veria e se corresse bem, o futuro seria risonho.
Tratava-se de vender pneus usados para um país africano, ou seja em segunda mão. Peninha teria que andar pelo país e em cada garagem manhosa compraria o mais barato que pudesse os pneus usados e depois acompanharia a encomenda até ao país de destino.
Adélinha, foi sensível aos olhares gulosos do seu conquistador e todas as manhãs enquanto Peninha malhava, sentava-se na esplanada a fazer crochet, mas de balandrau transparente deixando ver os seios descompostos e grandes a sair do bikini.
O Alípio começou por deixar uma cadeira de intervalo entre eles e no primeiro dia olhava gulosamente para Adélinha, suspirava langorosamente e quando os olhares se encontravam, de ambos os lados chispava o desejo.
No segundo dia já estavam lado a lado em cadeiras mais fofas e num arrebato agarrou-lhe as mãos e começou a beijá-las.
Nisto aparece o Peninha que vinha do ginásio e ao ver esta cena, perturba-se e diz com entusiasmo: - O sr. é um cavalheiro e eu gosto de ver alguém ao cumprimentar, beijar as mãos da minha esposa! É como se fosse a uma princesa!
Os dois apanhados em flagrante distenderam-se e perceberam que o tolo do Peninha de nada tinha desconfiado.
Peninha mandou vir um jarro de sangria que o Alípio bebeu a contra-gosto e trocaram umas banalidades. Peninha foi-se arranjar, tomar um duche e os dois pombinhos ficaram juntos e sem mais obstáculos.
- Alípio Nobre, de Braga – disse ele, pousando uma mão gorda e peluda na perna da sua conquista.
- Adélia, mas para si Adélinha. Não interessa o apelido. – disse ela estremecendo com os avanços do Alípio. – Aqui não, ou na praia num toldo ou no seu quarto.
Alípio ficou doido com a inesperada facilidade que estava a encontrar pela frente e disse-lhe numa voz cava e sensual: - veja se se livra do marido pelas 15h e vá ter ao meu quarto que é o número 23 no segundo andar. Bata assim à porta como sinal! E com os dedos dobrados tocou-lhe subitamente no seio direito a imitar o gesto de aviso. Riram-se muito os dois, cúmplices, e Adélinha foi andando para a praia.
Entretanto no carro, Peninha não resistiu e contou a Adéinha que iria ser o “Rei dos Pneus em 2ª mão”! Adélinha ficou indiferente e até acrescentou: - pneus e em segunda mão, isso é para ciganos!
Olha que o sr. Alípio que conheceste é um industrial do Norte, de Braga e tem uma fábrica de soutiens da marca “Doce Segurança” e é um cavalheiro. Não suja os dedos em pneus!
Peninha calou-se e pensou que só o bom dinheiro que esperava ganhar o faria entrar neste negócio tão pouco digno. Assim que pudesse e depois de ganhar uma boa maquia, iniciaria uma start-up num sector muito desfalcado actualmente: o de aplicações de vídeos religiosos para smartphones.
Com a mania das grandezas até já pensara em uma vez o negócio estabelecido iria a Roma visitar o Santo Padre e oferecer-lhe um dos seus produtos. Já delirava com uma fotografia com o Papa no Vaticano a entregar-lhe um exemplar de tão devoto produto.
(continua)
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