O PENINHA E O CHICOTE
Chegados a Lisboa vindos de Monte Magro, o Peninha e a Adélinha continuavam entrombados. Ela porque se lembrava do Alípio e ele porque enfrentava agora o desejo de se tornar um homem rico com o negócio dos pneus.
No dia seguinte, Peninha dirigiu-se à Associação dos Empresários de Pneus de Portugal e pediu para ser recebido pelo presidente, um tal de Travassos.
Travassos era um homem grosseiro, com um corpo mal-enjorcado e com uma camisa aberta de quadrados que fazia ressaltar ombros a alturas diferentes, que segundo ele era por ter trabalhado muito em pneus. Há quem passe anos a virar frangos, este foi pneus.
A ideia do Peninha era a de fazer umas diligências para apurar se o sr. Malheiro era homem conhecido no sector e se o negócio se revelava interessante, lucrativo e sobretudo legal.
O Travassos disse logo de caras – olhe que o Malheiro é um aldrabão! Já deixou muita gente mal e sobretudo engana-os com promessas de muitos lucros e só um tolo é que acha que em pneus usados se pode ganhar muito dinheiro. Ainda por cima os países africanos têm lá muitos charlatães que acabam por não pagar.
Peninha agradeceu muito os conselhos e saiu cabisbaixo da reunião. Tinha feito tantos planos, já antevia viagens, carros, uma nova casa em Massamá - uma vivenda jeitosa mesmo ao lado do prédio do Passos Coelho - e acima de tudo fazer a Adélinha mais feliz, pois achava-a insatisfeita e sempre de mau-humor.
Por seu turno Adélinha telefonara a Alípio e marcaram um rendez-vous amoroso no Hotel Ibis da bomba de gasolina da Galp na A5.
Adélinha desencantou uma “malette” de fim-de-semana aonde meteu um soutien-gorge grená escuro e com umas calcinhas só a tapar o sexo, um perfume carnal de nome “Roubo-te tudo” que tinha escolhido e comprado na sex-shop do Intendente, umas penthose transparentes e muito finas e uma chibata de cabedal macio para o que desse e viesse.
Saiu de casa pelas 14h e foi andando para se preparar para receber o Alípio. Esquecera-se porém de trazer um bilhete de visita que fora mandado pelo Alípio aonde ele escrevera “desejo-te meu torrãozinho de açúcar” e depois acrescentara “ás 15h no Ibis da auto-estrada do Estoril, quarto nº 27 reservado em nome de ”anjo do prazer”. Devia ter caído para debaixo de algum móvel, só esperava é que o Peninha não o encontrasse.
Mas encontrou! Estava no chão do quarto despudoradamente junto à cama e Peninha ficou siderado.
Os preconceitos tradicionalistas do Peninha diziam-lhe que não poderia tolerar uma afronta destas. Desde logo afastou qualquer culpa da Adélinha e punha-se a pensar no atrevimento do Alípio.
Foi rápido a decidir. Ia de imediato para o Hotel Ibis e impediria o adultério, que estava certo a Adélinha jamais cometeria. Eram 14h30m e chegaria a tempo.
Quando chegou à recepção do hotel, perguntou com um ar digno se não tinha já chegado a Sr.Dª Adélia para o quarto 27?
- Sim, diz o concierge- é mais uma das putas do Alípio, só que esta é feia, gorda e velha. Já subiu e vinha toda cheirosa!
Peninha ficou sem palavras e pálido dirigiu-se ao elevador para subir ao quarto 27.
Entretanto, Adélinha estava vaporosa, com os seios quase de fora pois comprara o número errado mas não se importava pois sabia que o poria por pouco tempo, ainda não tinha vestido as calcinhas e treinava na cama posições para receber Alípio.
No corredor passou uma camareira a quem com gentileza, Peninha pediu se lhe abria a porta do quaro 27 pois tinha-a deixado dentro. Assim se fez e Peninha entrou no quarto sem fazer barulho.
- Cúcú, seu passarão, cavalão e tudo em ão! Quem é a pombinha mais rica de todas, quem é? – disse a Adélinha meia desnuda e de lado na cama mostrando um pernil gigantesco igual aos dos fiambres das Carnes Nobre!
Quando topou quem era, gritou alto por socorro. Peninha fechou a porta do quarto devagarinho e olhando em redor viu o chicote e não hesitou.
- Sua vadia, sua desenvergonhada, sua traidora vais levar com o chicote até me jurares que me arranjas um emprego com um bom salário nas empresas do Alípio!
Adélinha gritava - ai Peninha, chicoteia-me mais, o que eu gosto disto, vai meu amor! Sim minha fatia de ananás farei tudo quanto quiseres, vou-te arranjar o emprego, descansa!
Entretanto abre-se a porta do quarto e Alípio aparece na soleira.
- Ora viva o meu amigo Alípio! Estou-lhe a preparar o aperitivo! Fique sabendo que não me importo que me engane com a Adélinha mas tem uma coisa….uma troca…quero um bom emprego nas suas empresas, chorudo ordenado, carro, gasolina, cartão…todas as mordomias, entendido?
- Alípio começou a sentir-se mal e pondo a mão no coração gaguejava: - ai o meu órgão vital, ai o meu coração…ajudem-me!
Peninha saiu deixando Adélinha a tomar conta do querido enfermo.
À noite quando Adélinha chegou a casa, Peninha esperava-a na sala com uma cara bem-disposta.
- Apareceu lá o repórter do CM tirou retratos aos dois e eu naquele lindo preparo e disse que tinha instruções tuas para que em troca de não publicarem no jornal, o Alípio teria que cumprir o pedido que lhe tinhas feito do emprego. Acabámos por não fazer nada os dois lá no hotel, és um pulha!
Aqui tens um papel do Alípio que me mandou entregar-te:
“Senhor Peninha,
Apresente-se na 2ª feira na sucursal da empresa em Lisboa, e peça para falar com o sr. Olímpio. A palavra de passe é – cornos mansos – ele lhe dará o emprego com um salário mensal de € 2,500,00.
Alípio”
Peninha pegou de novo no chicote e zás, zás, bumba na fofinha!