No meu múnus de Cônsul-geral Honorário do país africano que represento em Portugal há largos anos tenho visto passar pela minha frente muitos acontecimentos interessantes uns, outros tristes, outros difíceis de ultrapassar e alguns de uma violência inaudita (guerra civil).
Sempre encarei este cargo não remunerado como mais uma experiência curiosa da minha vida de desafio constante à rotina e na busca de encontrar o ser humano em todas as suas vertentes. Sou um estudioso interessado, humilde e aberto à descoberta de encontrar nos outros algo que me possa ajudar a ser melhor. Isto não tem nenhum pressuposto religioso, ou de cariz materialista, mas tão somente uma curiosidade infinita sobre esta maravilha da criação, que é o Homem.
Dito isto (e quem me conhece bem sabe que sou genuíno, verdadeiro, directo e sem esquemas) recebi há uns dias um pedido de ajuda de uma cidadã do referido país e já residente no Algarve e casada, de cerca de 80 anos.
Em resumo:
- Visitou-me há já alguns meses no Consulado em Lisboa para se apresentar e tratar de um assunto com os SEF de Faro;
- como faço sempre para além das conversas de prestação de serviços consulares procuro sempre conhecer melhor as pessoas que represento, escutá-las, aconselhá-las e porventura ajudá-las;
- achei-a formidável, serena, doce, falando baixo e com humildade mas com muita cultura e sendo das primeiras mulheres no seu país com um curso profissional e tendo desempenhado funções públicas de relevo;
- casou-se pela segunda vez com um patrício da mesma idade e vivem tranquilamente em Portugal e nomeadamente no Algarve gozando a reforma e da paz e amenidade do clima e da beleza do país, de que muito gostam;
- ela tem uma filha do primeiro casamento, que vive no país de origem aonde é Advogada;
- o pai dela e ex-marido da pessoa referida acima morreu junto da filha com bastante sofrimento e teve que sozinha arcar com todas as responsabilidades e o sofrimento e aflição da perda, pois mais ninguém da família a pode acompanhar;
- ficou exausta, deprimida, triste e deseja procurar o consolo da presença da mãe em Portugal por um ou dois meses para depois regressar ao seu país;
Pediu um visto de turismo na Embaixada de Portugal, apresentando estas razões e foi-lhe recusado por não serem consideradas razões convincentes da justificação da sua vinda. Desatou a chorar desconsolada na Embaixada de Portugal quando lhe entregaram o ofício da recusa, desamparada e sem forças para poder, pelo menos, naquele momento, aguentar o stress.
Fiz o que pude para ajudar a mãe e recorri a um amigo Diplomata, esperando que se resolva.
Recebi entretanto uma mensagem gravada da mãe no meu WhatsApp que guardarei para me lembrar como servir os outros desinteressadamente calando no seus corações sentimentos de confiança, agradecimento, gratidão e exemplo.
É uma mensagem respeitosa mas cheia de ternura, em voz baixa e de agradecimento em termos tão humildes, gratos e de esperança que me atrapalham pois não sei se conseguirei, mas farei ainda mais tudo o que estiver ao meu alcance para trazer a filha até ela.
Tenho cruzado pessoas na minha vida que me agradecem um favor que me pediram anos atrás e que pelos vistos realizaram e de que não me lembro de todo. Espero que contrabalance com outras coisas menos boas que possa ter feito.
São reconfortantes para mim estas lições de humildade e de chamamento de atenção para o que é mais importante.
Ainda estou muito comovido ao escrever estas linhas.
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