quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Aquelas coisas parvas que a malta faz a beber vinho:


Aquelas coisas parvas que a malta faz a beber vinho:

#1
Não perceber patavina de vinhos mas levantar o sobrolho e dizer aquelas coisas bestialmente sonantes que até convencem outros de que somos conhecedores. Tipo que “é um vinho frutado, mas não demais.” Ou que “em 2001 houve excelentes colheitas de Rosé.” Ou que o vinho “ainda precisa de respirar um pouco” (adoro esta, nunca falha). Ou aquele clássico lugar-comum: “é um vinho encorpado”. Bravo. 

#2
Não perceber patavina de vinhos bons mas não querer ficar mal perante os amigos e portanto debitar nomes ao calhas, muitas vezes inventados, porque toda a gente sabe que basta juntar um nome de terreno e um nome de árvore ou animal para ser convincente. Senão vejamos: "Herdade do Sobreiro", "Quinta do Malmequer", "Monte do Porco Preto”, “Moinho da Toupeira” (...));

#3

Não perceber patavina de vinhos mas no supermercado apontar para alguns ao calhas e exclamar com alguma soberba (e sempre com um sobrolho levantado): “Este é bom. Tem uma boa relação qualidade-preço.” Mas sempre com as nalgas contraídas com medo de estar a escolher um vinho de cozinha carrascão e de alguém descobrir que esta alegada veia de sommelier é uma autêntica fraude;

#4
Não perceber patavina de vinhos mas imitar o que já se viu fazer em avós, pais e tios e encenar aquela coreografia da prova comme il faut: levantar o sobrolho, pegar pelo pé do copo, rodar e bambolear o vinho nas paredes do copo, enfiar o nariz lá dentro, inalar loucamente, aspirar um gole com barulho alarve, saborear de olhos fechados com ar de quem está dedilhar as áureas cordas da harpa celeste e melodiosa do paladar e, no fim, se houver algum bom senso, engolir em vez de cuspir.

#5
Não perceber patavina de vinhos mas detectar “um leve travo a madeira”. Quando na realidade sabemos perfeitamente que

1. Não fazemos puto de ideia se tem ou não, mas é uma coisa que fica bem dizer e tem alguma probabilidade de acertar;

2. Não conhecemos o sabor a madeira, porque não temos por hábito mascar tarolos de lenha, mas assumimos que há-de ser qualquer coisa tipo o cheiro da lareira mas em sabor;

3. Na verdade não saberíamos detectar esse toque nem que lambêssemos a nossa cómoda do quarto de fio a pavio.

É um pouco isto, não é?

Bumba na fofinha

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