O NOSSO CÔNSUL HONORÁRIO EM HAVANA…neste caso em Lisboa
Tenho já dito algumas vezes que sou Cônsul-Geral Honorário de um país africano, em Portugal.
Uma das minhas tarefas é a de conceder VISTOS a cidadãos estrangeiros que querem deslocar-se a esse país.
Tenho sido muito procurado por portugueses que ao se deslocarem ao
Consulado, são submetidos a um pequeno e sumário inquérito sobre o
motivo da deslocação, e normalmente peço que me entreguem uma carta a
solicitar o tipo de VISTO pretendido. E porquê?
Nas condições actuais do mundo, não quero vir a ter consequências
futuras de ter concedido um VISTO a algum terrorista ou aldrabão que no
país que represento possa arranjar grossas complicações! Assim, se me
dizem que vão ver o pôr-do-sol e observar os pássaros é nessa
pressuposição escrita em que me baseio para lhes dar a luz verde. Se
depois traficam armas ou drogas ou cometem desacatos, compete às
autoridades locais a respectiva vigilância.
Vários cidadãos do
Norte de Portugal, me têm solicitado ultimamente VISTOS. Chamou-me a
atenção esta frequência e comecei a investigar mais aprofundadamente o
real motivo das suas idas ao referido país.
Num grupo de 3,
pressionados por mim e sorrindo alarvemente, confessaram-me que iam para
os diamantes e talvez algum ouro. Adverti-os dos riscos, sobretudo se
como era o caso, nem inglês sabiam falar bem, ou mesmo nada pelo menos 2,
e o terceiro mais velho, típico almocreve, arranhando; e acrescentou que tinha muita experiência no negócio.
Aconselhei-os como Advogado que ao menos tudo quanto fizessem o fosse
por escrito, ou seja, contractos, acordos, compras e que com os
telemóveis tirassem fotografias aos agentes locais, em ar de amizade
para depois poderem servir de prova de que com eles tinham transaccionado.
Hoje estou certo que lhes entrou por um ouvido e saiu pelo outro.
Uns dois meses depois, recebi um telefonema de um deles, dizendo-me
todo lampeiro que tinham identificado um belo lote de diamantes, a que
tinham feito as devidas contraprovas, e que ficaram lacrados num
envelope à espera que regressassem com cerca de um milhão de euros para
tudo pagar.
Como de diamantes só percebo os já comprados e no meu caso o
que porto num lóbulo da orelha direita, por inspiração do Ronaldo,
perguntei-lhes se tinham pago algum sinal ao que me disseram que sim.
Acrescentei que sem dúvida teriam um contrato-promessa, um papel, alguma
coisa que comprovasse a entrega de € 60,000 que me disseram tinham
deixado? Que não, que tinham ficado bons amigos e que iriam lá voltar
dali a uma semana.
Duas semanas depois, novo telefonema, desta feita com um ar choroso e desesperado. Contou-me então o que tinha acontecido:
- quando lá voltaram encontraram os mesmos? diamantes no referido pacote que foi deslacrado;
- foi-lhes apresentado novo lote de diamantes maiores que depois dos
testes que efectuaram lhes pareceram de muita qualidade. Pagaram logo
ali mais € 360,000 e regressaram contentes ao Norte, lar doce lar.
- no dia seguinte mostraram os diamantes a um amigo, dito entendido, que os cumprimentou pela boa aquisição.
- dois dias depois, um banho que as pedras teriam levado, revelaram ser não mais do que vidro.
- nem um papel assinado, nem uma fotografia e os locais negam ter
estado com eles e terem feito alguma vez negociações de diamantes.
Há muitos mais pormenores em que a minha irritação e a minha indignação
lhes foi manifestada pela total estupidez, ignorância, tacanhez e
convencimento e sobretudo por não terem prestado atenção aos meus conselhos.
Não sei como acabará, mas nem depois de lhes
ter sugerido um Advogado no país e as Autoridades terem pedido a
descrição dos factos para poderem proceder a averiguações, incentivaram
as criaturas a mexer o rabo…creio que guardarão as pedrinhas lindas numa
bitrine em vidro lascado…que bestas!
Sugiro a quem queira
comprar diamantes baratos e em condições vantajosas a vir-me pedir um
VISTO, pois pelo menos será uma aventura excitante, digo eu de que…
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