domingo, 31 de julho de 2016
Aguenta-te
Júlio Pomar disse-me sempre em alturas difíceis da minha vida
– Aguenta-te
que de facto é a única coisa que se pode dizer. E eu tento aguentar, fingir que aguento quando sinto que me desmorono dentro de mim. Há sempre uma parede ou outra, ou um bocado de parede, que resiste e encosto-me a ela pensando
– Quando é que irá cair, quando é que irá cair?
Talvez caia, talvez não. E, se não cai, conseguiremos levantar de novo tudo o resto? Ou uma parte do resto? Ou um resto do resto? Amanhar uma espécie de tecto? Ou sentar-me no chão, ao lado das pedras, sem olhar para elas? Sentir que me desmoronei também, me tornei uma ruína igualmente? O Júlio
– Aguenta-te
quer dizer, a voz do Júlio num ponto qualquer em mim
– Aguenta-te
isto é não o Júlio, só a voz, entre poeira que assenta e tijolos quebrados
– Aguenta-te
dois olhos pequeninos atrás de óculos grossos
– Aguenta-te
comigo a tentar agrupar-me, juntar-me todo, defender--me, proteger o que sou, o que teima em existir de mim e que não sei se me pertence ou está para ali como um velho retrato desfocado, do qual se não distinguem bem as feições. Torno-me uma pequenina coisa informe algures no meu corpo, torno-me um pingo de nada em silêncio, porém um silêncio que grita embora nem eu mesmo o oiça. Apercebo- -me que grita apenas porque os meus ossos vibram, reduzidos a fios. Vida, vida, quanto tempo duras tu de facto? Prolongas--te por abril, maio, junho, julho, agosto, até ao setembro dos meus anos? As marés do equinócio a que eu assistia da muralha sobre a praia, as ondas que à noite, em criança, escutava da cama, no escuro, numa fúria teimosa, misturada com a inquietação dos pinheiros. Onde se escondem os melros à noite? Na garagem? No canavial? A repetirem
– Aguenta-te?
E, de repente, ignoro porquê, aparece-me Monsaraz na cabeça, as luzes de Espanha, há tantos anos que isto foi. Nossa Senhora da Lagoa, os homens a cantarem na capela abandonada, que grande é o passado, ou calor de assadura ou frio de sepultura. Um cão magríssimo rente às casas. Mulheres velhas sentadas. Saudades do Guadiana, a ribeira como lhe chamavam, barcos em forma de folhas.
– O que está o senhor a fazer?
– Estou escrevendo.
– Pois: olhar para dentro.
Isto a Margarida, gorda, rugosa. Olhar para dentro, a melhor definição que escutei. A açorda de cardos dela, a respiração da água no barro. Olhar para dentro. A vida inteira a olhar para dentro, eu a passear no castelo com a Isabel.
– Pai, o que é?
– Não é nada
– Pegue-me ao colo.
Porque vértices de pedras, porque lagartixas. Pegue-me ao colo é o meu sangue noutro corpo, separado pelas nossas peles mas o mesmo, alegra-me pensar que o mesmo. O que te acontecerá quando fores grande?
– Vou ser grande, pai?
– Muito grande.
– E quando for muito grande sou pequena também?
Claro que sim. Mesmo enorme hás-de caber nos meus braços. Besouros, vespas
– Tenho medo das vespas
com aquelas cinturinhas finas, aquela zanga. As raízes da figueira que levantavam a rua. Ver o sol pôr-se. Não ver nada. Ver o sol pôr-se outra vez.
– Se tu quisesses corríamos de mão dada até Reguengos.
– Porque é que Reguengos se chama Reguengos?
– Não faz mal, é só um nome.
– Como Isabel?
– Como Isabel.
– Como António?
– Como António.
– O meu avô também é António. Chama-se Avô António e o pai só se chama António.
– Pois é, olha só me chamo António.
– Menino Antoninho não se aproxime do lago que ainda cai lá dentro.
– Se cair lá dentro como um peixe inteiro.
– Que horror!
Nesse tempo, quando eu era capaz de comer peixes vermelhos, não havia António. Nem Isabel. Nem Reguengos. Havia tias, havia o senhor José a regar. Ao tirar o chapéu ficava-lhe um vinco na cabeça grisalha.
– Porque é que os cabelos ficam brancos?
– É da idade.
– O que é a idade?
– É quando a gente somos velhos.
– Eu não envelheço, pois não?
– Claro que não, menino.
E se não fosse março não envelhecia.
O senhor José morreu há muito tempo. Vestia uma espécie de fato-macaco, andava sempre com uma mangueira. Dois lagos no jardim, um grande e um pequeno. O grande com um caramanchão e de pedra. O pequeno de azulejos, mais perto da casa. Eu a descobrir coisas: vermes, gafanhotos. Uma bomba de gasolina na estrada, às vezes tropa a marchar. Os dois castelinhos das Portas de Benfica, árvores à esquerda, mendigos. A carroça do rapaz corcunda que vendia leite e descia com dificuldade lá de cima. Nunca lhe soube o nome mas invejava-o: queria ser grande muito depressa para vender leite também, mas depois de crescer já não me apetecia vender leite: somos tão inconstantes. Mas, como aconselha o Júlio
– Aguenta-te
e lá me aguento, que remédio. Encostado à minha única parede aguento-me. Não uma parede inteira, um pedaço. Sempre é melhor que nada. E talvez consiga ficar assim muito, muito tempo.
António Lobo Antunes
– Aguenta-te
que de facto é a única coisa que se pode dizer. E eu tento aguentar, fingir que aguento quando sinto que me desmorono dentro de mim. Há sempre uma parede ou outra, ou um bocado de parede, que resiste e encosto-me a ela pensando
– Quando é que irá cair, quando é que irá cair?
Talvez caia, talvez não. E, se não cai, conseguiremos levantar de novo tudo o resto? Ou uma parte do resto? Ou um resto do resto? Amanhar uma espécie de tecto? Ou sentar-me no chão, ao lado das pedras, sem olhar para elas? Sentir que me desmoronei também, me tornei uma ruína igualmente? O Júlio
– Aguenta-te
quer dizer, a voz do Júlio num ponto qualquer em mim
– Aguenta-te
isto é não o Júlio, só a voz, entre poeira que assenta e tijolos quebrados
– Aguenta-te
dois olhos pequeninos atrás de óculos grossos
– Aguenta-te
comigo a tentar agrupar-me, juntar-me todo, defender--me, proteger o que sou, o que teima em existir de mim e que não sei se me pertence ou está para ali como um velho retrato desfocado, do qual se não distinguem bem as feições. Torno-me uma pequenina coisa informe algures no meu corpo, torno-me um pingo de nada em silêncio, porém um silêncio que grita embora nem eu mesmo o oiça. Apercebo- -me que grita apenas porque os meus ossos vibram, reduzidos a fios. Vida, vida, quanto tempo duras tu de facto? Prolongas--te por abril, maio, junho, julho, agosto, até ao setembro dos meus anos? As marés do equinócio a que eu assistia da muralha sobre a praia, as ondas que à noite, em criança, escutava da cama, no escuro, numa fúria teimosa, misturada com a inquietação dos pinheiros. Onde se escondem os melros à noite? Na garagem? No canavial? A repetirem
– Aguenta-te?
E, de repente, ignoro porquê, aparece-me Monsaraz na cabeça, as luzes de Espanha, há tantos anos que isto foi. Nossa Senhora da Lagoa, os homens a cantarem na capela abandonada, que grande é o passado, ou calor de assadura ou frio de sepultura. Um cão magríssimo rente às casas. Mulheres velhas sentadas. Saudades do Guadiana, a ribeira como lhe chamavam, barcos em forma de folhas.
– O que está o senhor a fazer?
– Estou escrevendo.
– Pois: olhar para dentro.
Isto a Margarida, gorda, rugosa. Olhar para dentro, a melhor definição que escutei. A açorda de cardos dela, a respiração da água no barro. Olhar para dentro. A vida inteira a olhar para dentro, eu a passear no castelo com a Isabel.
– Pai, o que é?
– Não é nada
– Pegue-me ao colo.
Porque vértices de pedras, porque lagartixas. Pegue-me ao colo é o meu sangue noutro corpo, separado pelas nossas peles mas o mesmo, alegra-me pensar que o mesmo. O que te acontecerá quando fores grande?
– Vou ser grande, pai?
– Muito grande.
– E quando for muito grande sou pequena também?
Claro que sim. Mesmo enorme hás-de caber nos meus braços. Besouros, vespas
– Tenho medo das vespas
com aquelas cinturinhas finas, aquela zanga. As raízes da figueira que levantavam a rua. Ver o sol pôr-se. Não ver nada. Ver o sol pôr-se outra vez.
– Se tu quisesses corríamos de mão dada até Reguengos.
– Porque é que Reguengos se chama Reguengos?
– Não faz mal, é só um nome.
– Como Isabel?
– Como Isabel.
– Como António?
– Como António.
– O meu avô também é António. Chama-se Avô António e o pai só se chama António.
– Pois é, olha só me chamo António.
– Menino Antoninho não se aproxime do lago que ainda cai lá dentro.
– Se cair lá dentro como um peixe inteiro.
– Que horror!
Nesse tempo, quando eu era capaz de comer peixes vermelhos, não havia António. Nem Isabel. Nem Reguengos. Havia tias, havia o senhor José a regar. Ao tirar o chapéu ficava-lhe um vinco na cabeça grisalha.
– Porque é que os cabelos ficam brancos?
– É da idade.
– O que é a idade?
– É quando a gente somos velhos.
– Eu não envelheço, pois não?
– Claro que não, menino.
E se não fosse março não envelhecia.
O senhor José morreu há muito tempo. Vestia uma espécie de fato-macaco, andava sempre com uma mangueira. Dois lagos no jardim, um grande e um pequeno. O grande com um caramanchão e de pedra. O pequeno de azulejos, mais perto da casa. Eu a descobrir coisas: vermes, gafanhotos. Uma bomba de gasolina na estrada, às vezes tropa a marchar. Os dois castelinhos das Portas de Benfica, árvores à esquerda, mendigos. A carroça do rapaz corcunda que vendia leite e descia com dificuldade lá de cima. Nunca lhe soube o nome mas invejava-o: queria ser grande muito depressa para vender leite também, mas depois de crescer já não me apetecia vender leite: somos tão inconstantes. Mas, como aconselha o Júlio
– Aguenta-te
e lá me aguento, que remédio. Encostado à minha única parede aguento-me. Não uma parede inteira, um pedaço. Sempre é melhor que nada. E talvez consiga ficar assim muito, muito tempo.
António Lobo Antunes
domingo, 17 de julho de 2016
O NOSSO CÔNSUL HONORÁRIO EM HAVANA…neste caso em Lisboa
O NOSSO CÔNSUL HONORÁRIO EM HAVANA…neste caso em Lisboa
Tenho já dito algumas vezes que sou Cônsul-Geral Honorário de um país africano, em Portugal.
Uma das minhas tarefas é a de conceder VISTOS a cidadãos estrangeiros que querem deslocar-se a esse país.
Tenho sido muito procurado por portugueses que ao se deslocarem ao Consulado, são submetidos a um pequeno e sumário inquérito sobre o motivo da deslocação, e normalmente peço que me entreguem uma carta a solicitar o tipo de VISTO pretendido. E porquê?
Nas condições actuais do mundo, não quero vir a ter consequências futuras de ter concedido um VISTO a algum terrorista ou aldrabão que no país que represento possa arranjar grossas complicações! Assim, se me dizem que vão ver o pôr-do-sol e observar os pássaros é nessa pressuposição escrita em que me baseio para lhes dar a luz verde. Se depois traficam armas ou drogas ou cometem desacatos, compete às autoridades locais a respectiva vigilância.
Vários cidadãos do Norte de Portugal, me têm solicitado ultimamente VISTOS. Chamou-me a atenção esta frequência e comecei a investigar mais aprofundadamente o real motivo das suas idas ao referido país.
Num grupo de 3, pressionados por mim e sorrindo alarvemente, confessaram-me que iam para os diamantes e talvez algum ouro. Adverti-os dos riscos, sobretudo se como era o caso, nem inglês sabiam falar bem, ou mesmo nada pelo menos 2, e o terceiro mais velho, típico almocreve, arranhando; e acrescentou que tinha muita experiência no negócio.
Aconselhei-os como Advogado que ao menos tudo quanto fizessem o fosse por escrito, ou seja, contractos, acordos, compras e que com os telemóveis tirassem fotografias aos agentes locais, em ar de amizade para depois poderem servir de prova de que com eles tinham transaccionado.
Hoje estou certo que lhes entrou por um ouvido e saiu pelo outro.
Uns dois meses depois, recebi um telefonema de um deles, dizendo-me todo lampeiro que tinham identificado um belo lote de diamantes, a que tinham feito as devidas contraprovas, e que ficaram lacrados num envelope à espera que regressassem com cerca de um milhão de euros para tudo pagar.
Como de diamantes só percebo os já comprados e no meu caso o que porto num lóbulo da orelha direita, por inspiração do Ronaldo, perguntei-lhes se tinham pago algum sinal ao que me disseram que sim. Acrescentei que sem dúvida teriam um contrato-promessa, um papel, alguma coisa que comprovasse a entrega de € 60,000 que me disseram tinham deixado? Que não, que tinham ficado bons amigos e que iriam lá voltar dali a uma semana.
Duas semanas depois, novo telefonema, desta feita com um ar choroso e desesperado. Contou-me então o que tinha acontecido:
- quando lá voltaram encontraram os mesmos? diamantes no referido pacote que foi deslacrado;
- foi-lhes apresentado novo lote de diamantes maiores que depois dos testes que efectuaram lhes pareceram de muita qualidade. Pagaram logo ali mais € 360,000 e regressaram contentes ao Norte, lar doce lar.
- no dia seguinte mostraram os diamantes a um amigo, dito entendido, que os cumprimentou pela boa aquisição.
- dois dias depois, um banho que as pedras teriam levado, revelaram ser não mais do que vidro.
- nem um papel assinado, nem uma fotografia e os locais negam ter estado com eles e terem feito alguma vez negociações de diamantes.
Há muitos mais pormenores em que a minha irritação e a minha indignação lhes foi manifestada pela total estupidez, ignorância, tacanhez e convencimento e sobretudo por não terem prestado atenção aos meus conselhos.
Não sei como acabará, mas nem depois de lhes ter sugerido um Advogado no país e as Autoridades terem pedido a descrição dos factos para poderem proceder a averiguações, incentivaram as criaturas a mexer o rabo…creio que guardarão as pedrinhas lindas numa bitrine em vidro lascado…que bestas!
Sugiro a quem queira comprar diamantes baratos e em condições vantajosas a vir-me pedir um VISTO, pois pelo menos será uma aventura excitante, digo eu de que…
Tenho já dito algumas vezes que sou Cônsul-Geral Honorário de um país africano, em Portugal.
Uma das minhas tarefas é a de conceder VISTOS a cidadãos estrangeiros que querem deslocar-se a esse país.
Tenho sido muito procurado por portugueses que ao se deslocarem ao Consulado, são submetidos a um pequeno e sumário inquérito sobre o motivo da deslocação, e normalmente peço que me entreguem uma carta a solicitar o tipo de VISTO pretendido. E porquê?
Nas condições actuais do mundo, não quero vir a ter consequências futuras de ter concedido um VISTO a algum terrorista ou aldrabão que no país que represento possa arranjar grossas complicações! Assim, se me dizem que vão ver o pôr-do-sol e observar os pássaros é nessa pressuposição escrita em que me baseio para lhes dar a luz verde. Se depois traficam armas ou drogas ou cometem desacatos, compete às autoridades locais a respectiva vigilância.
Vários cidadãos do Norte de Portugal, me têm solicitado ultimamente VISTOS. Chamou-me a atenção esta frequência e comecei a investigar mais aprofundadamente o real motivo das suas idas ao referido país.
Num grupo de 3, pressionados por mim e sorrindo alarvemente, confessaram-me que iam para os diamantes e talvez algum ouro. Adverti-os dos riscos, sobretudo se como era o caso, nem inglês sabiam falar bem, ou mesmo nada pelo menos 2, e o terceiro mais velho, típico almocreve, arranhando; e acrescentou que tinha muita experiência no negócio.
Aconselhei-os como Advogado que ao menos tudo quanto fizessem o fosse por escrito, ou seja, contractos, acordos, compras e que com os telemóveis tirassem fotografias aos agentes locais, em ar de amizade para depois poderem servir de prova de que com eles tinham transaccionado.
Hoje estou certo que lhes entrou por um ouvido e saiu pelo outro.
Uns dois meses depois, recebi um telefonema de um deles, dizendo-me todo lampeiro que tinham identificado um belo lote de diamantes, a que tinham feito as devidas contraprovas, e que ficaram lacrados num envelope à espera que regressassem com cerca de um milhão de euros para tudo pagar.
Como de diamantes só percebo os já comprados e no meu caso o que porto num lóbulo da orelha direita, por inspiração do Ronaldo, perguntei-lhes se tinham pago algum sinal ao que me disseram que sim. Acrescentei que sem dúvida teriam um contrato-promessa, um papel, alguma coisa que comprovasse a entrega de € 60,000 que me disseram tinham deixado? Que não, que tinham ficado bons amigos e que iriam lá voltar dali a uma semana.
Duas semanas depois, novo telefonema, desta feita com um ar choroso e desesperado. Contou-me então o que tinha acontecido:
- quando lá voltaram encontraram os mesmos? diamantes no referido pacote que foi deslacrado;
- foi-lhes apresentado novo lote de diamantes maiores que depois dos testes que efectuaram lhes pareceram de muita qualidade. Pagaram logo ali mais € 360,000 e regressaram contentes ao Norte, lar doce lar.
- no dia seguinte mostraram os diamantes a um amigo, dito entendido, que os cumprimentou pela boa aquisição.
- dois dias depois, um banho que as pedras teriam levado, revelaram ser não mais do que vidro.
- nem um papel assinado, nem uma fotografia e os locais negam ter estado com eles e terem feito alguma vez negociações de diamantes.
Há muitos mais pormenores em que a minha irritação e a minha indignação lhes foi manifestada pela total estupidez, ignorância, tacanhez e convencimento e sobretudo por não terem prestado atenção aos meus conselhos.
Não sei como acabará, mas nem depois de lhes ter sugerido um Advogado no país e as Autoridades terem pedido a descrição dos factos para poderem proceder a averiguações, incentivaram as criaturas a mexer o rabo…creio que guardarão as pedrinhas lindas numa bitrine em vidro lascado…que bestas!
Sugiro a quem queira comprar diamantes baratos e em condições vantajosas a vir-me pedir um VISTO, pois pelo menos será uma aventura excitante, digo eu de que…
calor a quanto obrigas
Fui apanhar fresco a Sintra, e as praias locais estavam com um barrão e
nada de se ir como se das Caraíbas se tratasse. Mas também não era ao
que ia.
Parei numa sombra lá para os altos da serra e com uma boa música, e fresquinho muito mais do que na capital, fechei os olhos.
Transportei-me não sei porquê, à casa dos meus Pais aonde nessa altura ainda só havia três manos e todos pequenos.
Revi como hoje um almoço de Domingo. Havia três criadas e uma cozinheira, tudo dormindo num quarto grande mas sem privacidade nenhuma. Serviam o almoço e saíam até ao jantar no único dia de folga.
O que seriam os horizontes desta gente honrada, competente e amiga que nos adoravam e nós retribuíamos, claro.
Isto veio a propósito do estupor da Turquia que quer prender os que fugiram de helicóptero para a Grécia e que estão preocupados com a família que deixaram para trás.
A Emília que foi cozinheira e óptima durante 50 anos e que já fazia parte da família, namorava com um polícia nesses ditos Domingos à tarde, e estou seguro que nunca houve nada de carnal entre eles, até porque não se casou com ele e foi envelhecendo lá em casa.
O que Sintra pode fazer à cabeça de um moço como eu...é bem verdade que inspirou Byron, mas acho que não num dia de calor como este de hoje!
Parei numa sombra lá para os altos da serra e com uma boa música, e fresquinho muito mais do que na capital, fechei os olhos.
Transportei-me não sei porquê, à casa dos meus Pais aonde nessa altura ainda só havia três manos e todos pequenos.
Revi como hoje um almoço de Domingo. Havia três criadas e uma cozinheira, tudo dormindo num quarto grande mas sem privacidade nenhuma. Serviam o almoço e saíam até ao jantar no único dia de folga.
O que seriam os horizontes desta gente honrada, competente e amiga que nos adoravam e nós retribuíamos, claro.
Isto veio a propósito do estupor da Turquia que quer prender os que fugiram de helicóptero para a Grécia e que estão preocupados com a família que deixaram para trás.
A Emília que foi cozinheira e óptima durante 50 anos e que já fazia parte da família, namorava com um polícia nesses ditos Domingos à tarde, e estou seguro que nunca houve nada de carnal entre eles, até porque não se casou com ele e foi envelhecendo lá em casa.
O que Sintra pode fazer à cabeça de um moço como eu...é bem verdade que inspirou Byron, mas acho que não num dia de calor como este de hoje!
sexta-feira, 8 de julho de 2016
Viva
Sentiu um frémito pela espinha abaixo e ouvindo a vizinhança a sair
aos gritos, pôs uma blusa e enrolando-se numa bandeira nacional comprada
no chinês, saiu a chinelar para a rua. Não era o Terreiro do Paço, mas
era a praça Catarina Eufémia, na Cuba. Não quis ficar atrás da Idalina,
que apesar das cruzes, guinchava e saltava como uma cabrinha. Frases
bentas, palavrões dos gordos, gestos com os dedos, cabelos desgrenhados e
oleosos, os olhos fora das órbitas, ouviu-se um grito rouco em
uníssono:
- Viva o Sr. Regedor!
( de um extracto de um romance de cordel no prelo cujo título pode vir a ser " Linda de Suza, revisité).
- Viva o Sr. Regedor!
( de um extracto de um romance de cordel no prelo cujo título pode vir a ser " Linda de Suza, revisité).
terça-feira, 5 de julho de 2016
O sucesso é difícil de alcançar mas vai-se lá com tenacidade e sem desistir
At age 5 his Father died.
At age 16 he quit school.
At age 17 he had already lost four jobs.
At age 18 he got married. He joined the army and washed out there.
At age 20 his wife left him and took their baby.
He became a cook in a small cafe and convinced his wife to return home.
At age 65 he retired. He felt like a failure & decided to commit suicide.
He sat writing his will, but instead, he wrote what he would have accomplished with his life & thought about how good of a cook he was.
So he borrowed $87 fried up some chicken using his recipe, went door to door to sell.
At age 88 Colonel Sanders, founder of Kentucky Fried Chicken (KFC) Empire was a billionaire.
sábado, 2 de julho de 2016
Peace, at last
Recebi esta manhã pelas 6:30am no WhatsApp esta mensagem: Just to let you know that Eric passed away 2 days ago.
O Eric era um meu parceiro de negócios africano, mais precisamente ganês, de 50 anos e que para além de ser uma excelente pessoa, honesto, activo e eficaz, tinha uma enorme afabilidade de trato.
Tinha um escritório em Londres, aonde morava, e foi lá que o conheci.
A mulher tinha-o abandonado o que muito o afectara e em termos de saúde tinha uma diabetes alta.
Porque comento isto aqui?
Porque foi um murro no estômago a notícia, para além da dor e tristeza, mais uma vez fez-me pensar que devemos estar leves para a partida, sem demasiadas prisões a tudo quanto nos exige a vida.
O Eric era um meu parceiro de negócios africano, mais precisamente ganês, de 50 anos e que para além de ser uma excelente pessoa, honesto, activo e eficaz, tinha uma enorme afabilidade de trato.
Tinha um escritório em Londres, aonde morava, e foi lá que o conheci.
A mulher tinha-o abandonado o que muito o afectara e em termos de saúde tinha uma diabetes alta.
Porque comento isto aqui?
Porque foi um murro no estômago a notícia, para além da dor e tristeza, mais uma vez fez-me pensar que devemos estar leves para a partida, sem demasiadas prisões a tudo quanto nos exige a vida.
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