Hoje na praia ao meu lado presenciei um "fenómeno do Entroncamento".
Chapéu de sol feioso mas de qualidade. Muito enterrado, por isso só bisbilhotando é que se topava quem poderia estar por debaixo.
Fartei-me de tomar banho, uma maravilha de temperatura, água limpa com uma ou outra alforreca - sinal de limpeza de sangue...ou melhor da água - uma tarde linda, calor mas com uma brisa quente que sabia bem quando se saía do mar.
Imensos casais estrangeiros com criancinhas brancas de loiras, de vária proveniência geográfica, mas muito amorosas.
Como tenho uma sinusite danada fartei-me de mergulhar e nadar para ver se a água salgada, ao penetrar-me nas mimosas ventas, me aliviavam.
Ora, uma das vezes quando voltava depois de um excelente banho, vi movimento no casal do lado.
A madame tinha saído do casulo e era uma Lara Sandra já entrada nos seus 50 e picos, muito rondelette, com o peito descaído, e com um biquini preto que deixava ver as carnes roliças laterais e traseiras, mas que num ímpeto de pudor tinha uma excrecência de tecido fininho que ligava a parte de cima do soutien às calcinhas do biquini. Um verdadeiro horror de elaboração possidónia, mas que em sendo uma sereia passaria despercebido.
Não sendo o caso, no entanto tinha o cabelo pintado de ruivo com caracóis mil, que desciam até meio das costas, mas que usava arrepiado, com um gancho a segurar.
A nossa Lara, estirou-se numa toalha ao sol enquanto o cavalheiro continuava a dormir que nem um justo, reparei eu, agora com o campo de visão mais alargado.
A dada altura, ouve-se o Sérgio Cláudio dizer para a Lara:
- a senhora dá-me uma mão para eu me levantar?
Sempre tive esta vaga impressão das minhas inúmeras leituras de autores portugueses dos finais do século XIX e princípio do XX, de que quando se está perante uma ligação patrão-manucure, nunca se usa o nome próprio, mas o tratamento que à luz do dia e no salão de beleza, é usado: - a senhora, lime-me a unha pequena bem pontiaguda, para não magoar...
Com grande espanto meu, saiu uma voz gutural da Lara, doce e resistente, dizendo...- não senhor, não vou ajudar. Mas fiquei com a noção que os sons que saíam eram de puro linguajar cigano.
As frases posteriores não foram escorreitas, os tons eram de tasca mal-afamada, mas qual gata matreira, continuava a negar-se.
- A senhora recusa-se? dizia o Sérgio Cláudio com prazer, por se sentir contrariado. - Olhe que pode ter um dissabor um dia quando me pedir qualquer coisa!
- O senhor está muito pesado, não é má-vontade, só que não tenho forças! Só mesmo com um guindaste!
- A senhora diz isso, por que eu tenho para lá guindastes nas minhas obras...
Saiu finalmente debaixo do chapéu de sol e com grande surpresa minha, era um sexagenário, "fit" com peitorais bem trabalhados, sem barriga, com um fato de banho de qualidade e com cabelo bem tratado ainda que careca em cima.
Segui-os com os olhos até à borda da água e ela displicente, foi soltando os caracóis qual "lady Godiva", até entrar na água.
Ele mergulhou enérgicamente e revelou aparentemente que se deve cuidar em ginásios e com "personal trainers".
Ela penetrou no elemento líquido, e nadando de lado à flausina, demonstrou prática de férias nas termas dos Cucos...ahahahah
Regressaram à base e vendo que eu tinha cuidado dos pertences, dirigiu-se-me ele e apresentou-se:
- Sérgio Cláudio do ramo da construção civil. Esta é a minha amiga Lara Sandra, que comigo colabora. Muito agradecido pela gentileza.
Claro que de pé, agradeci e apresentei-me revelando uma das minhas profissões:
- Luis Paixão, diletante!
Fez um ar sério e disse, tenho muito prazer pois nunca conheci nenhum.
Voltei ao banho e rapidamente sequei-me enquanto eles tinham ido à esplanada e com um cumprimento de cabeça, afastei-me para o carro a caminho de casa.
Sem comentários:
Enviar um comentário