Como sou da Irmandade dos Senhor dos Passos, vesti a opa roxa e estivemos ainda um bocado à conversa na sala do Capítulo, antes de serem horas de nos dirigirmos para a capela mortuária aonde seria celebrada a missa de corpo presente.
Éramos só 4, tendo ele servido tão bem a Irmandade. Chegou a ser
Procurador. Era a luz da vida dele, a Irmandade. Pois no entanto éramos
só 4 Irmãos de opas roxas, de um total para cima de 500 ou mais…
O Sr. Prior, estupendo! Rapaz novo, com carisma e falando muito bem. Tocou nos pontos certos: referiu o aguilhão da morte, o medo, o inevitável, traçou o epitáfio do morto com naturalidade e até revelando alguns pormenores de conversas tidas, que se apressou a confirmar que não eram de confissão.
Missa devota, com cânticos litúrgicos entoados por todo o tipo de representantes de classes sociais da paróquia que com o falecido tinham privado: beatas, padeiros, talhantes, comerciantes, freiras, lojistas, vizinhos, senhores com bom ar, casais mais novos com as criancinhas e obviamente, a família.
Pediram-me no fim que dissesse umas palavras sobre o morto. Como era o que o conhecia há mais tempo dos Irmãos da Irmandade presentes, prontifiquei-me a fazê-lo sem hesitação.
Voei no tempo para trás e disse o que tinha dele guardado na memória: disponível, bem-educado, gentil, simples, discreto, especial. O Sr. Prior disse que ele era teimoso, um pouco introvertido e solitário, com manias e algum mau-feitio.
Achei invulgar que ao contrário do costume e perante uma família que tinha sido sempre ausente, fosse o Sr. Prior quem tivesse mencionado alguns defeitos, aliás conhecidos. Também se referiu de uma forma equilibrada às qualidades.
Teci depois várias considerações evangélicas, confesso que comovido por tê-lo assim desprotegido à minha frente - apesar do Sr. Prior garantir que ele já estaria num sítio melhor - e só me lembrei do medo que me causa a morte e a propósito referi a parábola das virgens loucas que devem ter azeite nas candeias, para que quando o Senhor chegue não as apanhe desprevenidas.
Fui-me sentar cogitando em que estando um dia lindo e de sol, que mau seria o pobre do rapaz ir pelas 16h, com um calor de rachar para debaixo da terra e dentro de um caixão.
Como tenho claustrofobia, senti suores frios. Despedi-me de quem devia, tirei a opa roxa e com mais os ditos 4 Irmãos da Irmandade, fomos tomar uma cerveja na esplanada da Graça que tem uma vista soberba sobre a cidade e o rio. Pejada de turistas.
Senti-me bem de estar com vida. Que séca ter de morrer.
O Sr. Prior, estupendo! Rapaz novo, com carisma e falando muito bem. Tocou nos pontos certos: referiu o aguilhão da morte, o medo, o inevitável, traçou o epitáfio do morto com naturalidade e até revelando alguns pormenores de conversas tidas, que se apressou a confirmar que não eram de confissão.
Missa devota, com cânticos litúrgicos entoados por todo o tipo de representantes de classes sociais da paróquia que com o falecido tinham privado: beatas, padeiros, talhantes, comerciantes, freiras, lojistas, vizinhos, senhores com bom ar, casais mais novos com as criancinhas e obviamente, a família.
Pediram-me no fim que dissesse umas palavras sobre o morto. Como era o que o conhecia há mais tempo dos Irmãos da Irmandade presentes, prontifiquei-me a fazê-lo sem hesitação.
Voei no tempo para trás e disse o que tinha dele guardado na memória: disponível, bem-educado, gentil, simples, discreto, especial. O Sr. Prior disse que ele era teimoso, um pouco introvertido e solitário, com manias e algum mau-feitio.
Achei invulgar que ao contrário do costume e perante uma família que tinha sido sempre ausente, fosse o Sr. Prior quem tivesse mencionado alguns defeitos, aliás conhecidos. Também se referiu de uma forma equilibrada às qualidades.
Teci depois várias considerações evangélicas, confesso que comovido por tê-lo assim desprotegido à minha frente - apesar do Sr. Prior garantir que ele já estaria num sítio melhor - e só me lembrei do medo que me causa a morte e a propósito referi a parábola das virgens loucas que devem ter azeite nas candeias, para que quando o Senhor chegue não as apanhe desprevenidas.
Fui-me sentar cogitando em que estando um dia lindo e de sol, que mau seria o pobre do rapaz ir pelas 16h, com um calor de rachar para debaixo da terra e dentro de um caixão.
Como tenho claustrofobia, senti suores frios. Despedi-me de quem devia, tirei a opa roxa e com mais os ditos 4 Irmãos da Irmandade, fomos tomar uma cerveja na esplanada da Graça que tem uma vista soberba sobre a cidade e o rio. Pejada de turistas.
Senti-me bem de estar com vida. Que séca ter de morrer.
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