Era uma vez uma
formiguinha chamada Faniquita.
Era bonita, inteligente e
laboriosa. Tinha predicados invulgares e no formigueiro estava encarregue de
escrever poesia, contos e era como se fosse uma ministra da cultura.
Deliciava-se com estas funções e era muito respeitada e amada.
Bondosa, a nossa
Faniquita, também socorria as irmãs de formigueiro que estavam doentes, pois
era enfermeira. Casara-se com o formigo Mingau, tiveram filhos e formavam uma
família feliz.
O formigueiro, mal
dirigido, começara a derrapar e a qualidade de vida a piorar. Todos se
queixavam e empobreciam a olhos vistos e sobretudo os mais velhos passavam
muito mal.
A nossa Faniquita cada
vez trabalhava mais e o tempo para ela ia escasseando e sobretudo o espírito
não estava lá com tantas preocupações a ter que gerir e por isso a parte
cultural do formigueiro, notava essa lacuna e lamentava-se. Mas, como ela dizia,
havia outras prioridades.
Um dia, caiu doente de
exaustão, nada de grave, mas obrigou-a a ficar confinada ao seu quarto e a ter
algum isolamento para descansar. Aproveitou para reflectir, para olhar para
cada área importante da sua vida com tranquilidade e pragmatismo e foi tirando
algumas conclusões:
- existe a dor e o
sofrimento;
- existe a alegria e a
bonança;
- existe o inevitável, mesmo
que gostemos ou não mas também as forças para o irmos ultrapassando;
- existe um caminhar paulatino
para a velhice, para os incómodos de saúde, de menos lucidez e paciência, de
algum abandono para uns ou de solidão interior;
- existe este tic-tac
enervante dos segundos, dos minutos e das horas…imparáveis, cinzentas,
repetitivas..ainda não se encontrou o elixir da longa vida, mas há grandes
progressos para se morrer, um dia, em paz;
- existe o ódio, a
intolerância, a perseguição, a prática voluntária do mal que se causa a
terceiros;
- existe a bondade,
generosidade, entrega e altruísmo e o esquecimento de si mesmo para nos
dedicarmos aos outros na prática do bem;
- existe o amor, quer na sua
expressão física, mas também na sublime sensação de sentirmos um “calor
interior” que nos conforta e alegra e nos faz felizes.
Em tudo isto a Faniquita
pensou e decidiu duas coisas:
- Deixar-se levar ao sabor do que vier e aconteça, sem esta actividade trepidante e cega, que esfalfa e cujos resultados são tantas vezes discutíveis e até ineficazes, ainda que bem intencionados. Claro, com a atenção suficiente para evitar o imponderável que fere e magoa e pode causar prejuízos irreparáveis;
- Passar a ter
mais frequência no desempenho do seu múnus de formiguinha com o pelouro da
cultura e premiar o formigueiro com a sua escrita e ideias que através dela,
enriqueçam a comunidade.
Assim sendo, Faniquita
apressou-se a tudo isto comunicar a Mingau que enlaçando-a lhe deu um beijo,
pois para ele e para os filhos estas eram decisões promissoras de felicidade.
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