O Peninha, aterrorizado
dirigiu-se ao balcão da Segurança Social:
- A srª se faz favor,
diz-me se o aumento da idade da reforma vai para além da morte do beneficiário?
A empregada ficou
basbaque. Nunca tinha pensado em tal e respondeu:
- Eu acho que sim, mas de
qualquer maneira é melhor perguntar por escrito, não vá ser aprovado o novo
limite e mesmo assim não haver dinheiro para pagar. Imagine-se, eternamente –
disse ela para dentro de si, em pensamentos.
É que o Peninha, ainda
estava longe dos 65 e tinha planos: comprar uma mansão com piscina, ter um
jardineiro que lhe tratasse do gazon, ter sobretudo gravilha na entrada para
quando o Maserati chegasse, poder ouvir aquele barulho agradável dos pneus
largos a pisarem a pedra moída fina…
Queria ter uma mesa grande
com um tampo de mármore num terraço largo aonde teria sempre um jarro de
cristal com um líquido com uma côr entre o rosado e o carmim: lembrava-se da Música
no Coração - que vira uma dúzia de vezes - quando o Barão von Trapp dá à
governanta um copo cheio desta bebida, que ela gulosamente engolia.
- Oh mãe que bebida é
esta? Podia fazer cá em casa. E a mãe do Peninha, respondia sempre: deve ser
groselha com leite, só pode, com aquela côr!
Era só o que faltava,
obrigarem o Peninha a trabalhar mais dois anos e já com 67 ainda correr o risco
de nada receber. Sim, a pensão deve ir para além da morte, pois não vá precisar lá no
raio do sítio para onde o mandarem.
Pegou numa caneta reles,
atada a um cordel e pôs-se a escrever:
- Excelência, Senhor
Ministro das Finanças…era como lhe tinham ensinado…
Teve uma fúria que lhe
veio cá de dentro, sentiu um soluço de tristeza e de raiva, mais até de
impotência e recomeçou:
- Ao Pulha do Ministro
das Finanças…e a carta seguiu até que cansado de expender argumentos e já fora
do horário da mulher da limpeza, o puseram fora da Repartição das Finanças.
- Olhe que amanhã também
é dia…pode voltar e continuar a escrever – disse-lhe o segurança com solicitude
e ajudando-o, meteu-lhe nas mãos uma resma de gatafunhos, aonde só se conseguia
ler, pulha, pulha, ladrão, ladrão…
In crónicas do improvável de Vicente Mais ou Menos de Souza
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