Quase todos os dias vou
tomar o pequeno-almoço a uma cafeteria não longe do meu escritório e havendo
perto um Pingo-Doce de dimensão significativa, ao passar nas imediações
dirige-se a mim, a mesma mulher.
Deverá ter uns 40 anos, mas
parece mais 10, magra, mal enjorcada, com uns olhos azuis claros cravados numa
cara cavada, sem uma boa parte dos dentes e exprimindo-se em poucas palavras.
Outra personagem da zona
é uma paralítica, sentada o dia todo em frente da porta do dito Pingo-Doce numa
cadeira de rodas, com uma das mãos permanentemente estendida a pedir e na outra,
cigarros, que fuma, um após outro. Suja, com a imagem da inutilidade estampada
no seu infortúnio. Incomoda e não apetece!
Ambas se odeiam: uma
porque está imóvel e mais maneirinha para recolher óbulos directos de quem sai,
mas sem “jogo de cintura” para tentar pedir a quem chega dos carros ou lhe
recusou. A outra porque tem que rondar longe e é mais cansativo.
Esta última, quando se
aproxima de mim, “grunhe” com uma cara entre o abandono, o frio ou o calor, a
fome ou o desalento: “uma moedinha”!
Todos os dias lhe digo
que tem que fazer “marketing”, ou seja no caso dela, começar por dar bom dia,
depois tentar sorrir um pouco e só depois olhar, basta isso, pois sabemos ao
que vem.
Coitada, pede-me logo
imensas desculpas e diz que se esqueceu! Também fala mal da outra e eu
replico-lhe que ninguém está interessado em saber das tricas.
Há uma arte de se ser
pobre!
Que o diga o Governo que acho,
modestamente, que também precisa de saber negociar com o esmoler…
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